AHRESP defende que escolas profissionais também formem imigrantes para trabalharem no turismo
Governo está a preparar programa para formar imigrantes através das escolas do Turismo de Portugal. Ao ECO, secretária-geral da AHRESP diz que é preciso que escolas profissionais também participem.
Um “bom começo“, mas insuficiente se não for além do já anunciado. É assim que Ana Jacinto olha para o programa que o Governo está a preparar para dar formação aos migrantes e refugiados que queiram trabalhar no turismo. Em declarações ao ECO, a secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares (AHRESP) apela a que também as escolas profissionais sejam chamadas a participar, para que “possa haver maior cobertura geográfica”.
Entre as 60 medidas desenhadas pelo Governo para acelerar a economia, está prevista a criação de um programa de integração e formação de migrantes e refugiados no setor do turismo. Segundo explicou o Governo em julho, vão ser investidos 2,5 milhões de euros do orçamento do Turismo de Portugal em ações de formação para profissionais e não profissionais, que queiram trabalhar nesse setor.
Entretanto, esta semana, o Ministério da Economia adiantou ao Público que, numa primeira fase, serão abrangidas mil pessoas, um número que é um “bom começo”, mas é insuficiente face aos milhares de mãos que estão em falta no setor turístico, observa a secretária-geral da AHRESP.
“A necessidade de trabalhadores para as nossas atividades é de várias dezenas de milhares, e, por isso mesmo, mil trabalhadores são muito importantes, mas não são, de todo, suficientes“, sublinha Ana Jacinto. A AHRESP referiu estarem em falta 40 mil trabalhadores na restauração e hotelaria, ainda na primavera deste ano.
A necessidade de trabalhadores para as nossas atividades é de várias dezenas de milhares e por isso mesmo, mil trabalhadores são muito importantes, mas não são, de todo, suficientes.
O Ministério da Economia sinalizou também que este programa será posto no terreno através da rede de escolas de hotelaria e turismo do Turismo de Portugal, mas a secretária-geral da AHRESP apela a que não se fique por aí.
“Para o resultado que queremos, o programa deve envolver também as escolas profissionais, e não apenas as escolas de turismo, para que possa haver maior cobertura geográfica e o plano alcance mais território. O trabalho em rede é fundamental“, defende Ana Jacinto.
A responsável realça, além disso, em declarações ao ECO, que as parcerias estratégicas para a qualificação e integração destas apenas não se devem “reconduzir apenas aos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). “Entende-se que o seja numa primeira fase, mas, a correr bem, devem ser estendidas a outras geografias“, salienta a mesma.
De resto, Ana Jacinto argumenta que, se a primeira fase deste programa tiver sucesso, poderão vir a ser formados mais cidadãos estrangeiros, o que seria benéfico para as empresas que procuram mãos. “Queremos acreditar que este programa tem potencial para ter sucesso, o que poderá levar ao seu reforço e alcance a mais alguns milhares de trabalhadores, contribuindo para diminuir a escassez de profissionais, especialmente qualificados”, afirma a responsável.
A secretária-geral da AHRESP avisa, contudo, que as dificuldades de integração dos imigrantes não se esgotam na formação. Há constrangimentos nos processos de legalização, bem como na habitação. “Também nestas matérias a AHRESP já apresentou propostas. Há, assim, que ver toda esta problemática com mais profundidade e de forma mais integrada“, defende Ana Jacinto.
A falta de mãos tem sido transversal a toda a economia portuguesa nos últimos anos, mas o turismo tem sido um dos setores mais afetados. Por ter sido um dos mais afetados pela pandemia (e pelas restrições que lhe ficaram associadas), este setor viu partir muito talento para outras atividades, queixando-se agora de sérias dificuldades no recrutamento. O acolhimento de mão-de-obra imigrante tem sido uma das soluções adotadas.
“Há muito que vemos a imigração, feita de forma regulada e organizada, como fazendo parte da solução, e isso implica também que os possamos integrar devidamente no meio laboral, assumindo a componente da formação um papel fundamental“, explica Ana Jacinto.
Ainda assim, a secretária-geral deixa um último recado ao Governo: não conhecendo ainda os detalhes deste novo programa, espera que os contornos sejam acertados em conjunto com as empresas, já que são estas que estão “a absorver esta massa humana, que chega maioritariamente sem qualquer tipo de formação”.
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