Formações na advocacia são sinónimas de prémios? Nem sempre

Na Austrália já é um hábito premiar os profissionais que desenvolvem as suas competências, seja com moedas digitais ou prémios monetários. E em Portugal?

Já fez uma formação e não recebeu nenhuma “recompensa” do seu escritório de advogados por isso? Então tem de “pôr os olhos” no que se faz lá fora. Na Austrália já é um hábito premiar os profissionais que desenvolvem as suas competências, seja com moedas digitais ou prémios monetários.

E cá em Portugal? A Advocatus contactou vários escritórios, como a Abreu Advogados, Morais Leitão, Vieira de Almeida e PLMJ, mas optaram por não se pronunciar sobre o tema. Apenas a Cuatrecasas partilhou a sua experiência.

Na firma liderada em Portugal por Nuno Sá Carvalho não existe propriamente uma recompensa económica, mas ao longo ano várias são as formações e programas disponibilizados pelo escritório aos advogados.

“No contexto atual da advocacia, é fundamental que os profissionais estejam continuamente atualizados e preparados para enfrentar os desafios de um mercado cada vez mais competitivo e dinâmico. Os clientes veem os nossos advogados cada vez mais como consultores estratégicos, com uma compreensão ampla e integrada dos seus negócios”, explica a responsável de Recursos Humanos da Cuatrecasas em Portugal, Leonor Vila Luz.

Sendo a formação dos advogados uma “parte importante” do ADN da Cuatrecasas, a firma incentiva os advogados mais seniores, incluindo sócios e outros que sejam especialistas em temas emergentes, a partilhar os seus conhecimentos com os profissionais mais juniores.

Já para os estagiários, a Cuatrecasas criou o Plano Mentor, que é destinado a orientar os mais jovens no início da carreira, nas respetivas áreas, com formações jurídicas regulares que abordam temas emergentes e específicos. Por outro lado, para os associados foi criado o programa Legal +, que tem a duração de quatro anos e incluiu um vasto leque de formações jurídicas e de soft skills, como de comunicação, negociação, inteligência emocional, entre outros aspetos.

“Aquando da promoção a associado principal, estes advogados, de todas as jurisdições, são convidados a realizar um team building de quatro dias no qual são reforçadas competências ao nível de desenvolvimento comercial e de negócio. De forma similar, aquando da promoção a associado sénior, estes advogados são convidados a fazer parte do Caminho de Santiago, com uma duração de cinco dias, durante os quais recebem formação em liderança e gestão de equipas. Já os sócios têm à disposição formações one on one com especialistas nacionais e internacionais para aprofundar temas como soft e business skills”, notou Leonor Vila Luz.

Ao longo do ano, a Cuatrecasas realiza também várias formações de âmbito jurídico ligadas a temas que consideram “transversais” e “fundamentais”. Os destinatários são os advogados mais juniores. “Ao mesmo tempo, criámos formações específicas ligadas à atualidade jurídica, ministradas por associados mais seniores e outros especialistas, destinadas a todos os advogados, por exemplo, a explicação de um novo diploma legal”, acrescenta.

A responsável de Recursos Humanos da Cuatrecasas explica ainda que, sempre que necessário, têm um orçamento destinado a completar a formação dos advogados em instituições de ensino nacionais e internacionais.

“Devido à matriz internacional da Cuatrecasas, são providenciadas para todos os profissionais em Portugal aulas certificadas de inglês, alemão e espanhol”, sublinha.

A firma tem ainda à disposição dos trabalhadores uma equipa de profissionais de Tecnologias da Informação e que disponibiliza semanalmente formações em ferramentas tecnológicas usadas no escritório. “Por fim, no âmbito da prevenção de riscos laborais, são ministradas regularmente formações no âmbito da saúde, segurança e bem-estar”, salienta.

Da moeda digital aos prémios

Uma das maiores sociedades de advogados na Austrália, a MinterEllison, criou uma moeda digital interna de forma a recompensar os advogados pela conclusão de formações. Segundo explicam ao Financial Times, o objetivo era criar uma certa “gamificação” através de uma competição saudável, orientada para quem tem mais Mintcoin, a moeda digital, na sua carteira.

A Mintcoin usa a moeda digital Solana como base e apenas pode ser usada internamente no escritório, não podendo ser negociada ou partilhada externamente.

Mas como funciona? É fácil. Sempre que um funcionário conclui um módulo de formação, a Mintcoin é depositada na sua carteira digital. Depois o usuário pode trocá-la por donativos de caridade ou cartões de oferta.

Ao Financial Times, Gary Adler, diretor digital da firma australiana, sublinhou que este programa atraiu interesse, desde os advogados mais juniores até aos sócios. Mas assegurou que o maior desafio foi tornar a moeda digital fácil de utilizar e acessível.

Outro escritório na Austrália, o Gilbert + Tobin, criou uma iniciativa, a AI Bounty, de seis semanas, que oferece uma recompensa de cerca de 12 mil euros para as melhores ideias de inteligência artificial (IA) generativa.

Este programa estava disponível para todos os funcionários, desde advogados a administrativos. Os participantes participaram em várias sessões de formação para identificar problemas que poderiam ser resolvidos com soluções de IA. No total foram apresentadas mais de 100 soluções e, apesar de ter planeado atribuir apenas um prémio, acabaram por dar cinco prémios principais e 50 mais pequenos.

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