Orçamento negociado à vez entre extrema-direita e PS é “aberração”, diz Mariana Mortágua

  • Lusa
  • 23 Setembro 2024

"Quando a política começa a ser regida por chantagens, sejam elas do Presidente da República ou de qualquer outra força ou instituição, o que está em causa é a própria democracia", refere líder do BE.

A coordenadora do BE defendeu esta segunda-feira que uma proposta orçamental negociada à vez entre a extrema-direita e PS “é uma aberração” e rejeitou uma política feita “sob chantagem, seja do Presidente da República, outra força ou instituição”.

“A ideia de um orçamento que é negociado à vez entre a extrema-direita e o Partido Socialista é uma aberração, uma aberração política”, defendeu Mariana Mortágua, questionada sobre as reuniões que o primeiro-ministro Luís Montenegro manteve esta manhã com os líderes do Chega e da IL, encontros não divulgados à comunicação social.

A bloquista falava aos jornalistas à margem da entrega no edifício do Conselho de Ministros, em Lisboa, das assinaturas de uma petição pública que pede a retirada do pavilhão português de um navio que transporta material para fabricar armas em Israel.

“Quem viabilizar este orçamento é cúmplice da política do Governo, que é uma política de direita liberal. Quem viabilizar este orçamento não é uma alternativa a este Governo e o Bloco quer ser uma alternativa a este Governo, é importante na política essa clareza”, argumentou.

Mortágua salientou que “essa clareza hoje é mais importante que nunca”. “Porque quando olhamos para os hospitais sabemos que há duas soluções: entregar ao privado ou apostar, contratar médicos, dar condições aos profissionais de saúde. Quando olhamos para a habitação sabemos que há dois caminhos: apostar na habitação pública, nos direitos das pessoas que procuram uma casa e não têm, contra a especulação, ou promover mais alojamento local, mais hotéis, mais especulação”, sustentou.

Na área da imigração, a bloquista argumentou que também “há dois caminhos: fechar fronteiras, deixar as pessoas clandestinas, sem direitos, sem quaisquer condições de inclusão em Portugal, ou dar direitos, permitir legalização”.

Mariana Mortágua foi ainda questionada sobre as declarações do Presidente da República, que afirmou hoje que “se não houver orçamento” do Estado para 2025 “há crise política e económica”, embora escusando-se a dizer se convocará eleições antecipadas nesse cenário.

“Acho que a política séria e de valores não se faz sob chantagem. Nem hoje, nem nunca. Os partidos e as forças políticas devem estar na política, pelos seus valores, com o seu programa, a partir do compromisso que assumiram com os seus eleitores”, começou por responder.

A dirigente bloquista realçou que os deputados eleitos têm um mandato que tem que ser levado “muito a sério”. “Quando a política começa a ser regida por chantagens, sejam elas do Presidente da República ou de qualquer outra força ou instituição, o que está em causa é a própria democracia, a alternativa em democracia e a diversidade e a pluralidade de opiniões políticas”, alertou.

Interrogada sobre se é a favor de eleições caso a proposta orçamental apresentada pelo executivo minoritário PSD/CDS-PP seja chumbada, Mortágua voltou a remeter essa decisão para o Presidente da República e Governo. “Não será certamente com o voto do BE que este orçamento verá a luz do dia”, afirmou a coordenadora, que já anunciou que o partido vai votar contra a proposta.

No domingo, foi marcada a primeira reunião entre o primeiro-ministro e o secretário-geral do PS para debater o OE 2025, que se realizará na sexta-feira, às 15:00, depois de uma troca de acusações entre as duas partes, via comunicado, sobre a dificuldade de acertar a data do encontro, que os socialistas exigiam que fosse divulgado publicamente.

Depois de a reunião com o presidente do Chega ter sido noticiada pela CNN, o gabinete do primeiro-ministro emitiu um comunicado em que refere que “não há reuniões secretas na residência oficial do primeiro-ministro”.

Questionado pelos jornalistas, Montenegro defendeu que estas reuniões entre primeiro-ministro e líderes partidários sem o conhecimento da comunicação social têm “tradição democrática” e justificou-os com o empenho na viabilização do OE2025.

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