Qualidade da água cai com aperto nas regras, mas mantém-se perto de 100%
A qualidade da água caiu pelo segundo ano consecutivo, mas mantém-se há nove anos na fasquia dos 99%. Ainda assim, há população que não adere, correndo riscos de saúde e impactando o modelo económico.
A qualidade da água em Portugal em 2023 foi de quase 100% — 98,77%, mais precisamente. Há nove anos que a qualidade da água no país se mantém no patamar dos 99%, embora este seja o segundo ano consecutivo em que se regista uma quebra da qualidade da água na distribuição. Novas exigências nas análises explicam a evolução, indica a Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos.
Esta sexta-feira, o regulador apresentou o Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos (RASARP) – Volume II, que sintetiza a informação mais relevante referente à qualidade da água para consumo humano, olhando ao ano de 2023.
“Há um ligeiro decréscimo em décimas, mas ainda assim o valor é superior ao que tínhamos em 2019“, sublinha a presidente do regulador, Vera Eiró, em declarações aos jornalistas, a propósito da apresentação destes dados. Ainda assim, “os resultados deixam-nos muito satisfeitos, porque significam que podemos abrir a torneira e tirar a água que queremos, quando queremos, com qualidade para a bebermos”, remata.
Este ano as análises tiveram um maior grau de exigência. Além do controlo que é transversal a todo o país, passaram a analisar-se mais em profundidade os parâmetros considerados de maior risco para cada zona geográfica. Isto porque, cada zona tem uma água diferente, pelo que exige cuidados diferentes. Em 2022, esta análise era facultativa, em 2023 passou a obrigatória.
Este é o cenário na distribuição, na água que chega à torneira. No que diz respeita ao serviço em alta, isto é, de captação, tratamento e armazenamento de água antes de esta chegar aos municípios, a qualidade da água subiu, de 99,62% para 99,72%, em 2023. Em 95.500 análises falhou uma, no sentido de não ter sido feita.
Mas os “apertos” na regulação não devem ficar por aqui. A partir de 2027 vai ser obrigatório que a Agência Portuguesa do Ambiente faça a avaliação de risco nas bacias, antes de chegar às captações, e que os edifícios também passem a fazê-las.
56 concelhos abaixo dos 99%
Em Portugal, 221 conselhos apresentam qualidade da água considerada “excecional“, ou seja, com um nível de qualidade acima de 99%. Sobram 56 cuja qualidade da água está entre os 95% e os 99% e um único que classifica abaixo de 95%: Mértola.
O caso de Mértola resulta não necessariamente de uma qualidade da água inferior, mas de uma falta de análises. Este município, na adaptação às novas regras, terá falhado a análise de quatro parâmetros.
Nem todos se ligam à rede
“Apesar de haver esta qualidade da água na torneira e das pessoas terem acesso, algumas optam por não aderir”, indica a presidente. A percentagem de acessibilidade no país é 97% — quase toda a população tem rede para se ligar a menos de 20 metros de casa. No entanto, apenas 89% da população está efetivamente ligada ao sistema.
“Preocupa-nos do ponto de vista de saúde de quem consome [água fora da rede, sem as mesmas análises], do potencial de contaminação da rede pública que pode existir e do ponto de vista de regulação económica, de não haver partilha de custos por todos”, acrescentou a presidente. É que é na fatura da água que se pagam também os serviços de resíduos e saneamento, dos quais quem não tiver ligado à rede acaba também por usufruir.
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