Fábrica de Ronaldos, Portugal ganha milhões a exportar talentos
Os campos de treino do Benfica, Sporting e FC Porto representam fábrica futebolística que se transformou na mais influente deste mercado que gera vários milhares de milhões em transações.
Sob o céu azul português sem nuvens, em campos verdes imaculados, é grande a pressão para produzir a próxima exportação multimilionária.
Os campos de treino de futebol dos grandes rivais Benfica e Sporting Clube de Portugal representam uma fábrica futebolística que se transformou na mais influente deste mercado de jogadores de 5.000 milhões de dólares. Enquanto um dos países mais pobres da Europa, Portugal tem uma influência desproporcional no desporto graças à sua capacidade de formar talentos.
Logo após a abertura da janela de transferências em Inglaterra, a liga mais rica da Europa, neste mês, equipas e jogadores portugueses envolveram-se em algumas das transações que mais se destacaram. Quatro atletas mudaram de clube por um valor combinado de 160 milhões de euros (178 milhões de dólares) que inclui a compra de Ederson, do Benfica, pelo Manchester City a um preço que transforma o jogador de 23 anos no guarda-redes mais caro da Premier League.
“As pessoas sabem que os nossos jogadores não serão baratos porque temos um bom histórico”, disse o diretor-executivo do Benfica, Domingos Soares de Oliveira. “Quando os vendemos, queremos que sejam bem-sucedidos. Se um jogador não é bem-sucedido depois de o vendermos, isso afeta a nossa marca.”
Simplificando, as equipas portuguesas formam atletas para as ligas mais lucrativas do desporto mais rico do mundo. Isso entrega ao país de 10 milhões de habitantes, que obtém uma receita doméstica limitada com direitos de televisão e merchandising, uma fatia do que rende o futebol global. Os clubes, por sua vez, usam o dinheiro para manter a linha de produção em funcionamento e corrigir as finanças impactadas pelo legado de dívidas e má gestão, algo muito comum no futebol europeu.
Juntamente com o FC Porto, os três principais clubes de Portugal venderam quase mil milhões de dólares em talentos nos últimos seis anos para equipas de outros países.
Portugal exportou o melhor jogador europeu da atualidade — Cristiano Ronaldo, do Real Madrid — e um dos treinadores mais vencedores — José Mourinho, do Manchester United. Contrariando as expectativas, a seleção portuguesa foi campeã europeia com uma vitória sobre França, no ano passado. O país também tem o agente mais destacado, Jorge Mendes, conhecido em toda a Europa por uma rede de contactos que gerou centenas de milhões de euros em transações no futebol.
Em comparação com alguns clubes grandes, não temos dinheiro suficiente para comprar alguns jogadores, por isso temos que formar os nossos próprios atletas.
“Em comparação com alguns clubes grandes, não temos dinheiro suficiente para comprar alguns jogadores, por isso temos de formar os nossos próprios atletas”, disse Nuno Gomes, ex-jogador e atual diretor do centro de treino do Benfica. “Investimos muito nessa área específica.”
A esperança é de que, um dia, os clubes portugueses possam manter os jogadores por mais tempo para tentar igualar o nível dos maiores clubes da Europa. Na realidade, apesar de Portugal ter uma influência desproporcional, há poucas possibilidades de o país eliminar a diferença em relação às grandes ligas, que recebem a maior fatia da receita do continente com direitos de TV e merchandising.
“O nosso objetivo é encontrar uma maneira de ter sustentabilidade económica para recusar ofertas”, disse Nuno Gomes. “Ainda não chegámos a esse nível. Espero que isso seja possível no futuro.”
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