Clientes, conteúdos e licenças 5G. Como a Nowo seduziu a Digi

Com via aberta para comprar a Nowo, a Digi já não partirá do zero quando entrar no mercado. Porque aceitou pagar 150 milhões de euros pela quarta operadora do setor?

Ao comprar a quarta maior operadora do mercado português, a Digi já não parte do zero quando se decidir lançar finalmente no mercado. Algo que deve estar para breve, pois já só falta um mês e poucos dias para terminar o prazo dado no âmbito do leilão do 5G.

Na quarta-feira a Autoridade da Concorrência decidiu não se opor ao negócio de 150 milhões de euros entre o grupo de origem romena e a empresa espanhola Lorca JVCo, dona da Nowo, que também controla metade da MásOrange no país vizinho. A viabilização foi célere, tendo demorado apenas cerca de dois meses entre a notificação e a decisão, e não pressupõe quaisquer remédios da parte da Digi.

A aprovação do negócio já era esperada pelo setor, depois dos pareceres positivos da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e da Anacom, e também à luz da posição assumida pela Autoridade da Concorrência aquando da tentativa de compra da Nowo pela Vodafone — que, por comparação, levou ano e meio até ser aprovado o chumbo definitivo.

Para a autoridade, a Nowo tem um efeito concorrencial significativo sobre Meo, Nos e Vodafone, obrigando-as a praticar preços mais baixos em algumas geografias. Um efeito semelhante ao que se espera que a Digi também venha a ter, depois de a Anacom, em 2021, ter criado condições para a entrada de novos operadores em Portugal, decisão que foi bastante criticada pelas empresas incumbentes.

Aliás, na decisão em que explica o chumbo a oferta de compra da Nowo pela Vodafone, a Autoridade da Concorrência estimou que, sem essa transação com a Vodafone, a entrada da Digi poderia levar a uma descida dos preços de 7,4% no móvel e de até 3,4% nas ofertas convergentes (nesse caso, nos pacotes com três serviços). A análise não contempla o cenário em que a Digi compra a Nowo, mas permite entender que a união entre ambas não suscitou quaisquer preocupações do ponto de vista concorrencial ao regulador presidido por Nuno Cunha Rodrigues.

Mas como é que a Nowo seduziu a Digi, ao ponto de esta ter aceitado pagar 150 milhões de euros por ela, ainda mais quando, pouco antes, a Media Capital tenha estado prestes a fechar o mesmo negócio por um valor significativamente inferior?

Desde logo, a Nowo significa clientes. Num mercado em que as famílias, geralmente, estão sujeitas a períodos de fidelização de 24 meses, a nova operadora herda, desta forma, um portefólio de 270 mil clientes móveis e 130 mil clientes fixos, muitos deles particularmente sensíveis ao fator preço. Um catalisador importante para quem se está a estrear no mercado.

Depois, a Nowo também significa conteúdos. A empresa tem acordos de distribuição de canais por cabo e são públicas as dificuldades que a Digi tem tido no licenciamento de alguns canais, sobretudo a TVI e a CNN Portugal, mas não só. Pelo contrário, a Nowo já tem um serviço de televisão por subscrição que poderá representar um plano B caso a Digi não consiga fechar licenças de distribuição.

Outro fator que explica o interesse da Digi na Nowo são as licenças 5G, nas quais a Nowo investiu mais de 70 milhões de euros em 2021, concorrendo como “novo entrante” contra a própria Digi nesse procedimento. A ausência de compromissos exigidos pela Autoridade da Concorrência disponibiliza à nova operadora 20 MHz na faixa dos 1.800 MHz, 10 MHz na faixa dos 2,6 GHz e 40 MHz na apetecível faixa dos 3,6 GHz. A Digi poderá usar este espetro para melhorar a qualidade dos seus serviços móveis.

Além de tudo isto, o negócio também tem fibra. A Nowo, que já se chamou Cabovisão, detém ainda uma rede antiga de cabo e fibra ótica (híbrida) que chega a 900 mil casas e uma rede de fibra ótica FTTH moderna com 150 mil casas passadas. Estas redes próprias poderão ajudar a Digi a chegar a mais casas no país.

Quando anunciou a compra da Nowo, no início de agosto, fintando a Media Capital, que tinha o negócio praticamente fechado, a Digi admitiu que a operação era estratégica para os seus planos em Portugal: “Esta aquisição marca um passo estratégico significativo para a Digi, permitindo uma mais rápida expansão no mercado português. A combinação de forças com a Nowo permitirá à Digi oferecer uma gama completa de serviços de telecomunicações”, avançou a empresa num comunicado.

A operação ainda está sujeita “a ajustes habituais e a determinados eventos contingentes”. A Digi também ainda não confirmou se a marca Nowo irá desaparecer após a fusão. Mas, para muitos consumidores, a verdadeira notícia estará no momento em que a empresa anunciar os seus serviços. E essa data permanece em segredo.

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