Os advogados estão expectantes com o último trimestre no setor de M&A. Ainda assim, não estão muito otimistas quanto aos resultados finais do ano, prevendo que fique aquém do verificado em 2023.
Nos primeiros dez meses do ano foram realizadas 461 transações de M&A, que se traduziram num valor total de 9.302 milhões de euros. Os números são do TTR Data que verifica que o mercado de fusões e aquisições em Portugal registou uma queda de 20% no número de transações em comparação ao mesmo período de 2023, tal como o capital mobilizado, que registou uma quebra de 23%.
Já na reta final do ano, os advogados contactados pela Advocatus, de um modo geral, estão expectantes com o último trimestre no setor de M&A. Ainda assim, não estão muito otimistas quanto aos resultados finais do ano, podendo ficar aquém em relação a 2023.
Estabilização política e económica, redução das taxas de juro e eleições americanas são alguns dos fatores que justificam a “expectativa positiva” para o último trimestre e fazem antecipar um fim de ano “agitado” no setor de M&A.
“O último trimestre de 2024 está a ser influenciado por uma estabilização política e económica em Portugal, após as eleições de março, e por uma tendência de redução das taxas de juro que facilitam a obtenção de financiamento por investidores, o que tem afetado positivamente o setor do M&A desde o verão”, explica Ricardo Andrade Amaro, sócio da Morais Leitão. O advogado prevê assim o fecho de diversas operações até ao final do ano em diversos setores, como o de energia, saúde e seguros, telecomunicações e private equity.
Também Hugo Teixeira e Pedro Alves da Silva, sócios da Abreu Advogados, acreditam que, durante o último trimestre, existirá um aumento do número global de transações de M&A, mas também de Private Equity, Venture Capital e Asset Aquisition, em comparação com o trimestre imediatamente anterior.
Para além da atual tendência de descida das taxas de juro, os advogados apontaram outro fator: as eleições americanas. “Outro impacto positivo para estas transações poderá ser, de acordo com alguns analistas, a decisão sobre a presidência americana com as eleições de novembro, que poderá originar um parcial esbatimento da incerteza internacional e momento de clarificação e definição quanto a algumas políticas económicas nos Estados Unidos que terão certamente influência no resto das economias”, referem à Advocatus.
Os advogados apontam como setores chaves de investimento em Portugal o de imobiliário, o setor energético, o setor tecnológico e o setor financeiro, com um “papel de destaque para o imobiliário e para o setor de tecnológico, e para transações cross-border em que Espanha desempenha o papel de país originário dos fundos investidos”.
No cômputo geral, Diogo Perestrelo, sócio co-coordenador de Corporate M&A da PLMJ, avalia o desempenho do setor de M&A em 2024 como “mais fraco”, em comparação com os anos de pico de 2021 e 2022. Ainda assim, admite um possível aumento no último trimestre do ano, que “provavelmente não ficará muito longe da atividade registada em 2023”.
“Obviamente que os juros elevados e a incerteza geopolítica dos últimos dois anos, tiveram um efeito negativo no volume de transações e só muito recentemente foi dado o tiro de partida na inversão da política monetária pelo BCE”, revela o sócio.
Segundo explicou à Advocatus, na primeira metade do ano existiu uma queda de 25% dos números de transações, ainda que o valor das operações até tenha crescido “ligeiramente”, com transações relevantes no setor da tecnologia e energia. “Já se nota uma recuperação da atividade de M&A neste último trimestre e, 2025, dá todos os sinais de ser um ano de crescimento mais acentuado das transações, em volume e valor”, acrescenta.
Ano de 2024 poderá ficar aquém de 2023
Apesar das previsões otimistas iniciais em relação a 2023, a incerteza geopolítica e as eleições em vários países impactaram a atividade global de M&A, “com Portugal a refletir as tendências que fomos observando na Europa e por todo o mundo”, consideram os sócios da Linklaters Diogo Plantier Santos e Marcos Sousa Monteiro.
“No entanto, a manutenção de taxas de juro altas tornou-se um obstáculo ao financiamento e a instabilidade económica teve um efeito bloqueador em alguns negócios em especial quando tais negócios eram estruturados com maios de financiamento alternativo – o que, de certo modo, poderá continuar a acontecer em 2025, ainda que a esperada redução das taxas de juro possam contribuir para um aumento do número de transações e da dimensão média dessas transações”, explicam.
Os sócios da Linklaters não acreditam que o volume total de M&A em 2024 superará o de 2023.
A mesma posição é partilhada por Ricardo Andrade Amaro que defende que o ano de 2023 foi muito forte em operações de M&A. “O ano de 2024 está a ser bom, mas não cremos que irá superar o de 2023. A nossa expectativa é que 2024 fique em linha com 2023 ou ligeiramente abaixo”, nota.
Também Mariana Norton dos Reis e Rafael Lucas Pires, sócios da Cuatrecasas, consideram “difícil” que o volume de operações supere o de 2023, mas aguardam “até ao fim” para ver os números finais.
“Há, contudo, alguma assimetria de performance que deve ser tida em conta, com alguns setores a terem muita atividade de M&A durante este ano. Salientamos particularmente, a partir da nossa perspetiva, os setores de lifesciences/healthcare, energia & infraestruturas, IT/technology, venture capital e sports, bem como algumas áreas mais tradicionais, como financial services, logística, indústria e agribusiness, com bastantes transações e muito trabalho, também para 2025”, acrescentaram.
Com a tendência globalmente decrescente em relação a 2023, de cerca de 20%, os sócios da Abreu Advogados também não acreditam que 2024 supere o ano anterior. “Assim e contrariamente aos setores de Private Equity, Venture Capital e Asset Aquisition, – que ao longo de 2024 têm vindo a demonstrar um acréscimo comprovado no valor global das operações de cada um dos setores relativamente a 2024, embora com um número inferior de transações -, o setor de M&A, mesmo com o acréscimo transacional de final de ano, não deverá superar o volume de 2023, quer em número de transações quer em valor”, referem.
Apesar do pessimismo geral para 2024, Diogo Perestrelo mostra-se otimista com o próximo ano. “Os grandes fundos de investimento internacionais de capital de risco e de infraestruturas, mas também vários investidores nacionais, estão com muita liquidez acumulada para aquisições. E, ainda no rescaldo deste ciclo de juros que trouxe desafios exigentes a empresas que já estavam muito alavancadas em dívida, haverá certamente muito trabalho gerado por empresas que saem deste período a precisar de soluções de capital”, admite.
O sócio da PLMJ acha provável que, mesmo com a inversão da política monetária, ainda demore algum tempo para que regressem as condições para as transações alavancadas ganharem um ritmo “mais forte”. “Assim, diria que continuaremos com um buyers market, em que compradores com liquidez e pouca necessidade de alavancagem, podem impor as suas condições”, disse.
Diogo Perestrelo deixou ainda a nota que as transações têm vindo a levar “mais tempo a ser negociadas e concluídas”. “Notamos que, em média, desde a Non binding offer até à conclusão final, a transação pode levar mais de um ano, ao contrário do que sucedia antes. Por outro lado, dada a diferença de perspetivas entre comprador e vendedor quanto ao preço, vemos cada vez mais cláusulas de earn out nos SPA, na tentativa de preencher esse gap”, conclui.
Cuatrecasas lidera valor de operações de M&A
O último ranking do TTR Data, que analisou o período entre 1 janeiro a 31 de outubro de 2024, revelou que a Cuatrecasas liderou por valor total das operações, cerca de 1.800,68 milhões de euros, bem como por número de transações, com 28.
Segundo o relatório do TTR, nos primeiros dez meses do ano foram realizadas 461 transações que se traduziram num valor total de 9.302 milhões de euros. Das quatro áreas, M&A destacou-se com 202 transações (2.975 milhões de euros), seguida por Asset Acquisition com 109 transações (2.988 milhões de euros), Venture Capital com 100 transações (668 milhões de euros), e Private Equity com 51 transações (2.688 milhões de euros).
Estes números representam uma queda de 20% no número de transações em comparação ao mesmo período de 2023. Também o capital mobilizado registou uma quebra de 23%. O setor de Real Estate foi o mais ativo, com 80 transações, seguido de Internet, Software & IT Services, com 53.
As sociedades em destaque são a Cuatrecasas, com um valor de 1.800,68 milhões de euros, seguida pela PLMJ, com 1.448,70 milhões, e a fechar o top 3 a Vieira de Almeida (VdA) com um valor total de 1.087,49 milhões de euros.
No que concerne ao número de transações em M&A, Private Equity, Venture Capital e Asset Acquisitions a liderar a tabela ficou a Cuatrecasas, com 28 transações, seguida da PLMJ, também com 28, e da Morais Leitão, com 27 operações.
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Volume de M&A em 2024 pode ficar aquém do ano anterior
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