Seca “gravíssima” leva a plano de contingência
Cerca de 80% do território estava em seca severa ou extrema, e muitas barragens do Continente têm menos de metade dos reservatórios cheios. A situação da bacia do Sado é a mais preocupante.
A situação de seca em Portugal preocupa de tal maneira que o Governo vai ativar a Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, além de criar um plano de contingência para a seca, que deverá incluir o fim da rega dos espaços verdes nos municípios mais afetados.
À TSF, o secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, admitiu que a situação é muito preocupante, em especial na bacia do rio Sado. Carlos Martins reconheceu que no final de junho, 80% do território estava em seca severa ou extrema. Quase um terço das barragens no Continente tinham menos de metade da água que poderiam ter, e há zonas do país, incluindo o Sado e a Beira Interior, onde pode não haver água para as populações em agosto.
É por isso que “é preciso tomar medidas de contenção de consumos, criar regras e sobretudo alertar para a situação gravíssima que estamos a viver”, disse Carlos Martins à TSF.
As autarquias mais afetadas vão ser incentivadas a reativar antigos furos de água que possam substituir o abastecimento atual e a parar de regar espaços verdes. “Ninguém iria perceber que andássemos a regrar rotundas numa altura em que há restrições de abastecimento à população ou ao gado”, disse Carlos Martins.
Os produtores de arroz já sentem o impacto da seca, e terão de reduzir em 30% a sua produção. O representante dos produtores da zona do Vale do Sado afirma que Portugal vai importar ainda mais arroz em 2017.
Ministro do Ambiente afasta cenário de restrição de água
Horas depois de o secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, ter dito aos microfones da TSF que era “preciso tomar medidas de contenção de consumos”, o ministro João Matos Fernandes afastou a possibilidade de haver restrições do consumo de água à escala nacional.
“A nossa primeira prioridade é a água para consumo e uso humano e essa nunca estará em situação nenhuma em causa”, assegurou o ministro, que falava à margem da apresentação do projeto “Corredores do Vale do Leça”, citado pela Lusa.
“Há um conjunto de albufeiras, particularmente na bacia do Sado, que tem um nível de água abaixo do que é comum nesta altura do ano”, mas que “permite encarar o verão com segurança”, segundo Matos Fernandes, para quem o Governo tem “tempo de, com base em dados que são públicos, tomar as decisões que são certas no tempo certo e elas irão ser tomadas no dia 19 de julho”. Para esse dia, informou, “está convocada a comissão que tem como obrigação tomar essas medidas”.
“Esta situação tem de ser acompanhada ao dia e ainda ontem [quinta-feira], nas bacias onde a água nos faz mais falta, houve uma chuvada severa”, observou o governante, que elencou as prioridades do consumo de água nesta fase.
"Esta situação tem de ser acompanhada ao dia e ainda ontem [quinta-feira], nas bacias onde a água nos faz mais falta, houve uma chuvada severa.”
“A nossa primeira prioridade é a água para consumo e uso humano e essa nunca estará em situação nenhuma em causa. A seguir há um conjunto de prioridades de uso que temos de deixar para o fim, como a lavagem de viaturas, rega de espaços verdes, a lavagem das ruas e é isso que vamos definir com base nos dados que temos e em articulação com as autarquias que poderão ser mais afetadas”, disse.
E prosseguiu: “Há uma outra zona do país que também nos preocupa, onde certamente a situação nunca será grave ao ponto de chegar às sedes do concelho, que é a Beira Baixa. São zonas onde comummente ao longo do ano o consumo de água é baixo mas que com a chegada do verão, presença de turistas e regresso dos emigrantes, o consumo cresce bastante e ai teremos de ter um acompanhamento muito fino”.
“A situação é preocupante, mas tem solução”, salientou, admitindo que em casos extremos, no interior do país, uma ou outra aldeia possa ter de vir a ser abastecida de água por um camião cisterna”, mas serão sempre “situações pontuais” e que o Governo ainda está “a tempo de tudo fazer para que não tenham que se verificar”.
Informando que o grupo técnico associado à comissão já está a trabalhar, o ministro recordou que há uma comissão de gestão de albufeiras, que depende do Ministério do Ambiente, que fornece “essas informações e que vai reunir no dia 14, para a tomada de uma série de decisões no dia 19.
“Não há risco de falta de água para consumo humano”, reafirmou Matos Fernandes, observando que “só na década de 1990 é que o nível médio nas albufeiras foi mais baixo” do que está atualmente e por isso não ser “uma situação insólita”.
E acrescentou: “Com o agravamento das alterações climáticas pode vir a repetir-se mais vezes e por mais tempo, pelo que é importante aprender para o futuro com aquilo que estamos a fazer este ano”.
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