Exclusivo Mota-Engil quer acelerar contributo do Brasil com crescimento de perto de dois dígitos
A construtora está otimista para o pacote de grandes investimentos que o Brasil vai lançar. Quanto à participada espanhola Duro Felguera, o CFO assegura que a exposição é "muito minoritária".
A Mota-Engil quer reforçar a sua presença no mercado brasileiro nos próximos anos, aumentando o peso na carteira de encomendas do grupo, que subiu para um recorde de 14,8 mil milhões de euros, no final de setembro. O administrador financeiro (CFO) da construtora portuguesa, José Carlos Nogueira, antecipa um crescimento anual próximo de dois dígitos, destacando as oportunidades neste país da América Latina.
Sobre a parceria com a espanhola Duro Felguera, que está a atravessar dificuldades, o responsável diz que a participação direta do grupo Mota-Engil é inferior a 13% e não antecipa impacto na empresa portuguesa.
“É importante para nós posicionarmo-nos com alguma relevância no Brasil. O Brasil tem obrigação de crescer, senão a dois dígitos, pelo menos a um dígito alto nos próximos anos como contributo para o grupo Mota-Engil“, adiantou o CFO da Mota-Engil, em declarações ao ECO.
José Carlos Nogueira destaca a “dimensão continental” do Brasil, “com uma economia com uma grande capacidade.” “Pela nossa proximidade cultural é um país que nos interessa, onde já estamos há muitos anos, através de uma parceria também local, através da empresa Construtora do Brasil, e quando olhamos para o pacote dos grandes investimentos que o Brasil está a desenvolver neste momento, uma grande parte deles é através de parcerias público-privadas. Uma oportunidade que, com a expertise que temos, não desperdiçaremos”, explica.
Em termos de oportunidades concretas, o CFO da Mota-Engil olha com otimismo para o mercado brasileiro, referindo que “o Brasil está a fazer um caminho grande na sua reindustrialização“. Mais do que as concessões rodoviárias “vai haver concessões muito importantes na área industrial, energia e transformação. Na área das energias renováveis também.”
África é a região com maior peso na carteira de encomendas, representando 55% do total no final de 2023, enquanto a América Latina — México ainda é o país que pesa mais na região — representava 34% do total, no último ano, segundo os dados divulgados no relatório e contas de 2023.
No mesmo documento, a empresa previa que, em 2024, a Empresa Construtora do Brasil registasse um “desempenho operacional positivo, alicerçado na carteira de encomendas entretanto angariada e na procura de oportunidades para expandir a mesma nos planos de infraestrutura estaduais, bem como junto de novos clientes privados, apoiando os mesmos no desenvolvimento dos seus projetos estratégicos.”
Empresa atenta a oportunidades de M&A
Com 90% do volume de negócios gerado no exterior, a Mota-Engil está agora focada “no aumento da rentabilidade das operações” e na concretização do plano estratégico para 2026. Ainda assim, José Carlos Nogueira admite que “estamos sempre atentos a oportunidades no mercado e se surgir [uma oportunidade de M&A] não perderemos a oportunidade.”
“Somos uma empresa verdadeiramente internacional e dotada da capacidade para fazer essa integração no mercado internacional e continuar a desenvolvê-lo, nomeadamente nas regiões onde encontramos maior potencial, África, em primeiro lugar, e a América Latina, que são as regiões com maior potencial de crescimento e desenvolvimento das suas economias”, acrescentou o responsável.
Quanto a Portugal, a construtora, cujo consórcio que integra ganhou o concurso para as obras de alargamento do Humberto Delgado, diz que a empresa tem a obrigação de posicionar-se “no que são os grandes projetos estruturantes em Portugal”.
Na alta velocidade, onde ganharam a adjudicação do primeiro troço, a empresa refere que está a estudar profundamente todo o pacote de alta velocidade em Portugal.
“Somos a empresa com maior número de km de ferrovia em construção no mundo neste momento. Dá-nos uma capacidade de estudarmos convenientemente o segundo troço que será lançado para a alta velocidade e em que esperamos, até por algum economia de escala que exista com o primeiro, nos posicionarmos também de forma vencedora nesse segundo troço”, remata o CFO.
Acionistas “muito minoritários” na Duro Felguera
Numa semana em que surgiram novas notícias sobre a espanhola Duro Felguera, participada da Mota-Engil que está a passar por dificuldades, o responsável pelo pelouro financeiro mostra-se tranquilo, notando que a situação não deverá ter impacto no grupo português.
“O tema da Duro Felguera nasce como um braço capaz para o desenvolvimento de grandes investimentos que vai haver na reindustrialização, mas é importante perceber que a Mota-Engil esteve envolvida como parceiro industrial, mas posicionou-se sempre com um ticket de capital muito, muito exíguo, abaixo dos 13%, nos 12,5%”, esclarece José Carlos Nogueira.
O CFO da Mota acrescenta que a empresa tinha conhecimento que “a Duro Felguera tinha três mercados onde apresentava problemas”, fez “o caminho com a Duro Felguera de acomodar antes da operação o que eram as perdas e a avaliação de risco dessa mesma operação”. E a Mota-Engil “entra já numa ótica de futuro e de ter um parceiro industrial num setor em que ainda hoje em dia é muito difícil encontrar e é muito especializado com parcerias capazes de nos darem essa expertise para incorporação nos nossos grandes projetos”, acrescenta.
Dito isto, o CFO nota que a exposição do grupo “está dentro de um ambiente bastante controlado. Somos muito minoritários na estrutura acionista da Duro Felguera“, reforça.
A Mota-Engil e o grupo mexicano Prodi completaram no final do ano passado a injeção de 90 milhões de euros na Duro Felguera, o primeiro passo para a entrada como novos acionistas da cotada espanhola que em 2021 recebeu um apoio público temporário no valor de 120 milhões de euros. Depois dos primeiros 30 milhões em outubro, desembolsaram em dezembro a segunda tranche de 60 milhões de euros.
Já no passado mês de junho, a Mota-Engil, através da sua subsidiária no México, assinou um contrato com a Pemex Transformación Industrial, subsidiária da empresa petrolífera estatal mexicana, Petróleos Mexicanos, para a construção de uma unidade industrial de fertilizantes no país, um contrato no valor de 1,2 mil milhões de dólares, que integra a sua associada Duro Felguera.
Trata-se do primeiro projeto conjunto com a espanhola, que viu esta semana a estatal argelina Sonelgaz reclamar o pagamento de mais de 400 milhões, isto depois de o CEO, Jaime Argüelles, ter renunciado ao cargo após a empresa ter reportado prejuízos de 26 milhões de euros na primeira metade do ano.
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