Padaria Portuguesa “vende-se” no regresso aos lucros após prejuízos de cinco milhões na pandemia
Primos José Diogo Quintela e Nuno Carvalho contrataram Haitong para assessorar venda da empresa com 78 lojas e duas fábricas. Lucrou 1,6 milhões em 2023, com custo médio de 17.620 euros por empregado.
Poucos dias após comemorar os 14 anos da abertura da primeira loja na Avenida João XXI, em Lisboa, a 5 de novembro de 2010, nessa altura para “resgatar um sentimento bairrista em declínio” e numa altura em que os lisboetas “iam cada vez mais comprar o pão às grandes superfícies”, o negócio d’ A Padaria Portuguesa acaba de ser colocado à venda pelos acionistas, que acenam aos potenciais interessados com o regresso aos lucros depois da pandemia.
É que após ter acumulado prejuízos de quase cinco milhões de euros em 2020 e em 2021, anos em que todo o comércio foi afetado por restrições de funcionamento devido à pandemia de Covid-19, de acordo com os dados oficiais consultados pelo ECO, nos últimos dois exercícios, esta sociedade familiar voltou a registar resultados positivos: em 2022 ascenderam a 887 mil euros e em 2023 ultrapassaram os 1,6 milhões de euros.
A empresa foi buscar a “inspiração” a Paris, Londres e Berlim, e foi idealizada por Nuno Carvalho, licenciado em Gestão pelo ISEG, depois de quase uma década a trabalhar no grupo Jerónimo Martins, que detém o Pingo Doce, onde foi diretor de negócio. No ano passado, as vendas aumentaram 13% em termos homólogos, para 42,6 milhões de euros, com o EBITDA ajustado num valor estável em torno dos 3,3 milhões de euros e o passivo a aumentar ligeiramente para 13,5 milhões.
No final de 2023 contava com 905 trabalhadores (abaixo dos 1.104 que chegou a ter no ano anterior à pandemia), com um custo médio de 17.620 euros por empregado, estando atualmente o número de funcionários próximo de um milhar. Perto de 600 são “colaboradores efetivos”, de acordo com a informação divulgada pelo sócio e presidente executivo no LinkedIn, onde anunciou há dias que vai fazer um “grande investimento” ao atribuir-lhes seguro de saúde já a partir de 2025. Contactada pelo ECO, a administração não quis prestar declarações.
Com um capital social de 37.500 euros, a maior acionista da sociedade “A Padaria Portuguesa CQ – Atividades Hoteleiras” é a ZDQ, Lda. (42,49%), controlada por José Diogo Quintela, que se tornou conhecido do grande público como humorista no grupo Gato Fedorento. Com uma participação de um terço (33,33%) surge depois a Nutelo – Gestão, Comunicação e Marketing, cujo único dono e sócio-gerente é o primo Nuno Carvalho, atual presidente executivo. As restantes participações estão nas mãos de outros elementos da família.
Segundo fontes do mercado citadas na última edição do Jornal Económico, os donos d’ A Padaria Portuguesa já contrataram o Haitong Bank para assessorar o processo de alienação da empresa. O banco de investimento já está a receber propostas não vinculativas (non-binding offers) por este negócio que, escreve a mesma publicação, deverá ser atrativo para fundos de capital de risco e fundos de private equity.
Plano de expansão de 16 milhões de euros
A origem da empresa, um ano antes da entrada da troika em Portugal, é situada pela própria marca numa “pequena fábrica em Samora Correia”, que abasteceu as lojas próprias que foi abrindo na região de Lisboa até 2017, quando inaugurou uma nova unidade industrial em Marvila, onde diz empregar atualmente perto de uma centena de pessoas e produzir todos os dias “milhares de pães e bolos”. Com a expansão para Norte iniciada durante o ano passado – soma já quatro lojas, três no Porto e uma em Matosinhos –, passou a ter uma segunda unidade de produção nesta região do país.
A loja mais recente, a 78.ª da rede, abriu a 4 de dezembro em Alverca do Ribatejo, junto ao Lidl, somando 14 postos de trabalho. Em outubro deste ano, poucas semanas antes de ser conhecida a intenção de alienar o negócio, a empresa apresentou um programa de expansão até 2028, avaliado em 16 milhões de euros. Prevê a abertura de mais 40 unidades e a criação de até 600 empregos adicionais, aumentando o efetivo para os 1.600 trabalhadores. Estima com esta estratégia chegar ao último ano do plano com vendas superiores a 80 milhões de euros.
A empresa que em 2018 inaugurou um centro de inovação (Lab) e uma academia para ser uma referência na formação em restauração, já tinha alargado a presença ao digital com a entrada no e-commerce via plataformas de entrega ao domicílio. Fê-lo em plena pandemia, quando o CEO Nuno Carvalho escreveu uma dramática carta aberta dirigida ao então ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, em que dizia estar em risco de fechar portas e pedia medidas de apoio às empresas que não fossem “um engodo” ou “uma mão cheia de nada”.
Esse foi, no entanto, apenas mais um episódio a gerar polémica em torno d’A Padaria Portuguesa. Três anos antes, em 2017, as declarações de Nuno Carvalho atingiram proporções maiores quando, em diferentes entrevistas, defendeu, por exemplo, uma maior “flexibilização da contratação, do despedimento e do horário extra de trabalho”; ou quando afirmou que “o espírito de equipa vale muito mais do que salário base”, originando protestos de organizações contra a precariedade laboral e até páginas de incentivo ao boicote à marca nas redes sociais.
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