Armazenamento e hibridização: incertezas, resistências e retorno

  • Pedro Amaral Jorge
  • 12:06

É necessário um marco regulatório claro, aliado a reformas que garantam a competitividade do mercado nacional em termos de investimento.

O armazenamento de energia é crucial para o sucesso da transição energética. Não só garante a estabilidade do sistema elétrico, como apresenta outras enormes vantagens: transforma tecnologias, como a eólica e a solar, em fontes despacháveis; reduz a canibalização de preços; diminui desperdícios de eletricidade renovável; reforça a independência energética e a segurança de abastecimento e facilita a integração de mais renováveis no sistema elétrico.

De Espanha chegam-nos novidades neste domínio. O primeiro concurso para projetos híbridos, com uma dotação de 150 milhões de euros, fechou em março deste ano. Há, no entanto, motivos de preocupação: os atrasos no licenciamento estão a causar tensão no setor.

Em curso está também a licitação de projetos “stand alone”, com 150 milhões, a distribuir entre 35 projetos, e os mesmos desafios de licenciamento. Destaca-se ainda o rápido avanço do mercado livre. Até ao momento foram concedidos 18 GW a projetos de baterias, na maioria “stand alone”, com mais de 10 GW a aguardar resposta.

De realçar ainda a nova circular regulatória focada na flexibilidade operacional para baterias e a criação de uma Subdireção Geral de Armazenamento e Flexibilidade, no Ministério para a Transição Ecológica espanhol, para fomentar o armazenamento e potenciar o seu desenvolvimento estratégico.

São vários os desafios regulatórios e sociais que dificultam o avanço do armazenamento e a hibridização em Espanha. É o caso do mercado de capacidade, cuja implementação é aguardada há mais de um ano. O primeiro leilão está previsto para o início de 2025.

Outra questão prende-se com o regime fiscal e garantias de origem. Há incerteza quanto à aplicação do imposto sobre o valor da produção de energia elétrica ao armazenamento e à manutenção de garantias de origem em centrais híbridas, cujo impacto em Portugal se faz sentir através da aplicação de clawback aos produtores de eletricidade.

Os projetos de baterias, tais como os projetos de centros electroprodutores renováveis, enfrentam resistência social, o que evidencia a necessidade de colaboração entre promotores e instituições para garantir uma integração social adequada.

E quais as expetativas de retorno? Convém sublinhar que o CAPEX de projetos de baterias diminuiu cerca de 30% no último ano e a perspetiva é que continue a descer. Numa primeira fase, a maior parte das receitas para um projeto de baterias será oriunda do mercado dos serviços de sistema. Mas é expectável que a canibalização desses serviços aumente à medida que a capacidade instalada de baterias cresce.

Um estudo da associação espanhola AEPIBAL aponta para retornos na casa dos 5% a 6% para baterias de duas horas com um CAPEX de 250€/kWh ou de quatro horas com um CAPEX de 230€/kWh, considerando receitas provenientes exclusivamente de serviços de arbitragem de preços de mercado e regulação secundária. Caso o mercado de capacidade entrasse em operação e oferecesse condições semelhantes às atuais subvenções (25.000–30.000 €/MW por ano em 10 anos), as rentabilidades poderiam superar os 10%, o que fortaleceria a viabilidade dos projetos de baterias.

As baterias e a hibridização ainda enfrentam desafios significativos e 2025 será crucial para impulsionar o seu desenvolvimento. É essencial implementar soluções que acelerem os processos de licenciamento e continuem a promover e a aumentar a flexibilidade do sistema elétrico, quer por via do consumo, quer por via da flexibilidade, elemento indispensável para facilitar a instalação de baterias. Além disso, é necessário um marco regulatório claro, aliado a reformas que garantam a competitividade do mercado nacional em termos de investimento.

Embora a redução nos preços das baterias seja um fator positivo, os custos permanecem altos, comparando com os preços médios diários do mercado grossista de eletricidade ibérico, o que reforça a necessidade de avanços tecnológicos. Paralelamente, é fundamental adotar estratégias que promovam uma maior aceitação social para projetos de centros electroprodutores renováveis, incluindo os híbridos, e para sistemas de armazenamento de energia.

Apesar de todos os desafios o armazenamento é um pilar essencial para o avanço do setor electroprodutor com base em energias renováveis e determinante para a transição energética.

  • Pedro Amaral Jorge
  • Presidente da APREN

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