Altice/TVI: O negócio é privado, mas não parece
A venda da TVI à Altice é um negócio privado, mas não parece. Da direita à esquerda, são várias as reações a esta operação avaliada em 440 milhões de euros.
Foi durante o debate sobre o Estado da Nação que o primeiro-ministro se mostrou apreensivo com o futuro da PT, agora detida pela Altice. António Costa disse mesmo temer pelo futuro dos postos de trabalho e chegou a apontar a uma das operadoras “falhas graves” no incêndio de Pedrógão Grande.
“Receio bastante que a forma irresponsável como foi feita aquela privatização possa dar origem a um novo caso Cimpor, com um novo desmembramento que ponha não só em causa os postos de trabalho, como o futuro da empresa“, declarou o primeiro-ministro durante o debate, na quarta-feira. Na sexta-feira, a Grupo Altice anunciou que chegou a acordo com a Prisa para comprar por 440 milhões de euros a Media Capital, dona da TVI.
As críticas não tardaram a chegar. Do lado do PSD, Pedro Passos Coelho, acusou o António Costa de pressionar a PT, enquanto o CDS disse ser “indigno de um primeiro-ministro” o comentário de Costa sobre o futuro da PT. À esquerda, o Bloco de Esquerda questionou as condições financeiras da Alice por estar a comprar a TVI ao mesmo tempo que despede trabalhadores na PT, ao passo que o PCP afirma que, caso este negócio se concretize, pode “vir a parar o país”.
Oposição: Atitude “quase terceiro-mundista” e “indigna” sobre PT
Começando pela oposição. Pedro Passos Coelho acusou o primeiro-ministro de fazer pressão sobre a PT e de ter uma atitude “quase terceiro-mundista” ao questionar o futuro da empresa agora propriedade da multinacional Altice. “É uma péssima imagem. É uma coisa quase terceiro-mundista ter um primeiro-ministro que faz politicamente, publicamente acusações a empresas que, em princípio, criam emprego, trazem investimento ao país e podem gerar riqueza”, afirmou o líder do PSD.
"É uma péssima imagem. É uma coisa quase terceiro-mundista ter um primeiro-ministro que faz politicamente, publicamente acusações a empresas que, em princípio, criam emprego, trazem investimento ao país e podem gerar riqueza.”
Esta é a segunda vez em dois dias que o presidente social-democrata critica António Costa por causa das declarações acerca da Altice. Não é ao chefe do Governo que “compete estar publicamente a fazer uma espécie de bullying [pressão] sobre determinadas empresas” como a PT/Altice, afirma. Passos Coelho considera que não é “um bom discurso estar a discriminar as empresas como boas ou más, em função dos gostos” sobre “os seus investidores”, por exemplo.
Do lado do CDS, a líder centrista qualificou de “indigno de um primeiro-ministro” o comentário de António Costa, na quarta-feira, sobre o futuro da PT. “Quem quer ser um governante de primeira linha, quem quer ser um primeiro-ministro sério e respeitado, quem quer ser um estadista, não faz os comentários que fez no parlamento e da forma como fez”, afirmou Assunção Cristas, à margem de uma ação de pré-campanha na freguesia de Marvila, em Lisboa. “É indigno de um primeiro-ministro”, sublinhou.
Esquerda critica despedimentos e “negócios milionários”
A coordenadora do Bloco de Esquerda veio em defesa de António Costa. Catarina Martins criticou Pedro Passos Coelho por este afirmar que “nenhum governante pode dizer mal da Altice” em vez de defender os 3.000 trabalhadores que a empresa quer despedir.
“Diz ele [o presidente do PSD] que está mal despedir mais de 3.000 trabalhadores da mesma empresa que está a anunciar negócios milionários? Não. Diz que nenhum governante pode dizer mal da empresa”, afirmou a líder bloquista, enquanto discursava na apresentação do candidato do partido a Vila Real.
"Diz ele [o presidente do PSD] que está mal despedir mais de 3.000 trabalhadores da mesma empresa que está a anunciar negócios milionários? Não. Diz que nenhum governante pode dizer mal da empresa.”
Catarina Martins lembrou que a Altice, ao mesmo tempo que anuncia a “capacidade financeira para fazer aquilo que designou como o maior negócio deste género já feito, ao comprar um grupo de comunicação social, diz que quer despedir” trabalhadores.
O PCP também se mostra preocupado com esta operação. O secretário-geral do partido, Jerónimo de Sousa, deixou um alerta em relação aos negócios que a Altice está a desenvolver em Portugal, considerando que a multinacional “poderia parar o país” caso a compra da Media Capital se concretizar.
Jerónimo de Sousa apelou ao Governo para que utilize “todos os meios disponíveis para impedir” os negócios que a Altice está a desenvolver em Portugal, por considerar que “põem em causa o interesse nacional”. O secretário-geral do PCP afirma que “é o interesse nacional que está em jogo. Não há como ficar em cima do muro. Ou se age para impedir a alienação de um setor estratégico ou se é conivente com esse objetivo”.
“A compra do grupo Media Capital com um canal de TV, a TVI, de larga audiência, e a Plural, uma importante produtora de conteúdos, assume particular gravidade. A concretizar-se, não é exagerado afirmar, que uma multinacional, um grupo económico poderia fazer parar o país”, sustentou.
A Altice, grupo que comprou há dois anos a PT Portugal, anunciou na sexta-feira que chegou a acordo com a espanhola Prisa para a compra da Media Capital, dona da TVI, entre outros meios, numa operação que a empresa espanhola avalia em 440 milhões de euros.
A ERC tem agora de se pronunciar sobre a operação quando for contactada pela Autoridade da Concorrência (AdC), antes desta última dar o seu parecer sobre o negócio. O parecer do regulador dos media é vinculativo.
(Atualizado às 17h00 com declarações de Jerónimo de Sousa)
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Altice/TVI: O negócio é privado, mas não parece
{{ noCommentsLabel }}