Altice paga muito pela TVI? Depende
Franceses avaliam Media Capital em 10 vezes o seu lucro operacional. É muito? Negócio da AT&T teve implícito um múltiplo similar. Mas transações europeias são feitas por valores bem mais inferiores.
A Altice vai pagar 440 milhões de euros pela Media Capital, num negócio que avalia a dona da TVI em cerca de dez vezes o EBITDA que consegue gerar por ano. É muito? Talvez, mas depende da perspetiva.
Métricas que relacionam a avaliação da empresa com o EBITDA (ou outros múltiplos) são frequentemente utilizadas pelo mercado pois ajudam a comparar negócios diferentes independentemente dos valores envolvidos. Por exemplo, quando a AT&T comprou a Time Warner no ano passado por 80 mil milhões de dólares, o negócio incorporou um rácio valor da empresa/EBITDA de cerca de 9,3 vezes. Isto quer dizer que a AT&T poderia reaver o dinheiro investido na Time Warner em 9,3 anos num cenário de estabilidade das receitas e de outras variáveis.
Agora, ao oferecer 440 milhões de euros pela Media Capital, a Altice está a pagar um valor que é 10,8 vezes o EBITDA que gerou nos últimos 12 meses até março de 2017. De acordo com os analistas do BPI, a negócio tem implícito um valor de empresa 10,2 vezes o EBITDA esperado para 2018. Ou seja, comparando com o negócio da AT&T-Time Warner, o grupo francês pagou ligeiramente mais para ficar com o grupo de media português que, além da TVI, detém a produtora Plural e rádios como a Rádio Comercial e M80.
Durante a apresentação em Lisboa, Michel Combes, CEO da Altice, explicou que a sua estratégia tem sobretudo a ver com a convergência de operadoras telecomunicações com empresas de media. Mas esta está longe de ser uma estratégia exclusiva da Altice. Os analistas acreditam que a Nos poderá atacar a Impresa para ficar em igualdade de circunstâncias com a rival da Meo. E isto num contexto de acelerada consolidação mundial que está a deixar o setor dos media em ebulição.
Como compara o negócio da Altice
Fonte: Bloomberg, Altice
Ainda no mês passado a operadora francesa Vivendi fechou a aquisição do grupo de comunicação Havas por 2,6 mil milhões de dólares. Foi o maior negócio no setor dos media a nível mundial, que desde o início do ano viu serem concluídos 356 negócios de fusão e aquisição, de acordo com a Bloomberg.
Em média, estas transações incorporaram um valor empresarial de 9,44 vezes o EBITDA, um múltiplo inferior ao que está implícito no negócio Altice-Media Capital. Mas, se compararmos com as 122 fusões e aquisições apenas no mercado europeu, ficamos com uma melhor noção do investimento francês em Portugal: a média do múltiplo valor de empresa/EBITDA situa-se nas 6,38 vezes.
Se a Altice não se importa de esperar uma década para reaver o que investiu, na Europa os investidores são mais impacientes.
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