Salário mínimo português sobe, mas está mais longe dos campeões da Europa

Em janeiro de 2024, salário mínimo português distava 1.614,26 euros do salário mínimo do Luxemburgo, o campeão da Europa. Agora está a 1.622,79 euros. Em 2025, Portugal foi ultrapassado pela Lituânia.

O salário mínimo português voltou a subir em janeiro deste ano. Mas agravou-se a distância face às retribuições mínimas mais expressivas da União Europeia (UE). E depois de ter sido ultrapassado pela Polónia em 2024, este ano foi a vez de também a Lituânia superar Portugal. Os baixos níveis de produtividade e uma economia que tem crescido, mas precisa de acelerar, explicam esta evolução, de acordo com os economistas ouvidos pelo ECO.

Comecemos pelo retrato nacional. Desde 2015 que o salário mínimo nacional não tem parado de subir — mesmo durante o período pandémico foi reforçado –, tendo crescido mais de 70% na última década.

Este ano, por acordo entre o Governo de Luís Montenegro, as quatro confederações empresariais e a UGT, a retribuição mínima garantida voltou a aumentar, passando dos 820 euros até aqui praticados para 870 euros. São mais 50 euros, o correspondente a um salto de 6,1%.

De 505 euros em 2015 para 870 euros em 2025

Fonte: DataLabor (valores expressos em 14 pagamentos)

Ainda assim, Portugal não conseguiu melhorar na comparação com os demais países do bloco comunitário.

Em 2024, Portugal já tinha sido ultrapassado pela Polónia e, este ano, o salário mínimo desse país voltou a subir mais do que o luso.

Além disso, de acordo com os dados recolhidos e divulgados pelo Eurostat, este ano Portugal viu também a Lituânia passar-lhe à frente.

Luxemburgo tem o salário mínimo mais atrativo da UE

Fonte: Eurostat (Valores expressos em 12 pagamentos. Valores de Espanha e Eslovénia são os em vigor em julho de 2024)

Confrontados com estes dados, os economistas ouvidos pelo ECO apontam, antes de mais, a evolução das economias desses países como explicação.

João Cerejeira, professor da Universidade do Minho, salienta que a Lituânia e a Polónia têm tido “um crescimento muito maior do que Portugal“.

No mesmo sentido, Pedro Braz Teixeira, diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, lembra as projeções de outono da Comissão Europeia: para Portugal, o executivo comunitário prevê um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,7% em 2024 e de 1,9% em 2025. Já para a Polónia, por exemplo, a projeção é de 3% em 2024 e de 3,6% em 2025.

A saúde da economia polaca está bem melhor do que a portuguesa. O PIB cresce bem mais e a taxa de desemprego é muito menor.

Pedro Braz Teixeira

Diretor do gabinete de estudos do Fórum para a competitividade

A saúde da economia polaca está bem melhor do que a portuguesa“, assinala o economista, que frisa que não só o PIB da Polónia está a crescer “bem mais” como a taxa de desemprego “é muito menor”. No caso polaco, esse indicador deverá manter-se abaixo dos 3%, enquanto em Portugal ronda os 6,5%.

Perante este desempenho das economias — isto é, com “crescimentos modestos do PIB e da produtividade” portuguesas –, Pedro Braz Teixeira entende que o país “não poderia ir mais além” do que os aumentos que já tem aplicado, ano após ano, ao salário mínimo.

Com uma visão semelhante, João Cerejeira frisa que o salário mínimo português até tem crescido mais do que seria suscitado pela economia e alerta para a aproximação da retribuição mínima ao vencimento médio. Assim, considera também que Portugal não tinha margem para dar aumentos muito maiores do que aqueles que foram implementados.

Há a realçar que, de acordo com os cálculos do ECO com base nos dados do Eurostat, o salário mínimo português está agora também mais longe dos campeões europeus: a diferença face ao Luxemburgo aumentou quase nove euros entre janeiro de 2024 e janeiro de 2025, face à Irlanda subiu quase 77 euros e em comparação com os Países Baixos agravou-se em torno de 65 euros.

De notar que todos estes valores são absolutos (isto é, estão em causa os valores efetivamente despendidos pelos empregadores, e não ajustados às diferenças de preços entre os países). Mas mesmo se olharmos para os dados do Eurostat expressos em paridades de poder de compra, Portugal continua sensivelmente a maio da tabela (13.º lugar), continuando assim atrás da Polónia e da Lituânia mesmo depois destes ajustes.

A receita para a competitividade salarial

Diagnóstico feito, como pode Portugal ganhar terreno e comparar melhor, em termos salariais, com os demais países europeus? O economista Pedro Braz Teixeira defende que, para isso, o país precisa de “aumentar o potencial de crescimento da economia, sobretudo do lado da produtividade, e não tanto pelo emprego“.

“O caminho será atrair investimento direto estrangeiro, favorecer o aumento de dimensão das empresas e reduzir os custos de contexto (burocracia, preços da energia, justiça, entre outros)”, detalha o diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade.

Também João Cerejeira põe o foco na produtividade, argumentando que Portugal precisa de um perfil de especialização com uma maior aposta em setores de capital intensivo e com mais inovação.

No setor do turismo, é mais difícil conseguir ganhos de produtividade do que a indústria, por exemplo.

João Cerejeira

Professor da Universidade do Minho

No setor do turismo — um dos mais importantes da economia portuguesa neste momento –, “é mais difícil conseguir ganhos de produtividade” do que na indústria, salienta o professor. Daí que não seja um “bom sinal” o reforço do peso desse setor, se o país “quiser fugir de uma economia de baixos salários”.

Ou seja, para João Cerejeira, o problema não está apenas dentro dos setores (que precisam, sim, de melhorar a sua produtividade), mas também no próprio perfil da economia nacional, ao qual é preciso dar um novo rumo.

Já questionado sobre se o acordo que o Governo firmou em Concertação Social vai no caminho certo para resolver este problema, o economista atira: “é um acordo, não é um plano estratégico“.

Ainda assim, João Cerejeira realça que a economia portuguesa vem convergindo com a União Europeia. Agora, recomenda, é preciso pôr o pé no acelerador.

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