“Parlamento não deu uma oportunidade a Portugal”. Patrões preocupados com efeitos da queda do Governo
CIP e CCP alertam para cenário internacional marcado por instabilidade e mostram-se preocupados em relação ao impacto da queda do Governo. Armindo Monteiro aponta "problema de produtividade" na AR.
“O Parlamento não deu uma oportunidade a Portugal“. As palavras são do presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), que se mostra preocupado com o impacto no país da queda do Governo de Luís Montenegro, numa altura em que o cenário internacional está também marcado por instabilidade. Em declarações ao ECO, Armindo Monteiro critica o “não esforço de convergência” entre os partidos com assento na Assembleia da República.

“Aquilo a que assistimos ontem [na terça-feira] no Parlamento foi a uma tática pré-eleitoral, e não um esforço concreto de convergência dos partidos para salvaguarda dos interesses do país. O Parlamento não teve como principal preocupação os interesses do país”, sublinha o patrão dos patrões.
Na tarde de terça-feira, foi discutida e votada uma moção de confiança, tendo PS, Chega, BE, PCP, PAN e Livre ditado o seu chumbo e, consequentemente, a queda do Governo que tomou funções há menos de um ano.
Em reação, Armindo Monteiro nota que “havia um entendimento” sobre a forma de escrutínio do primeiro-ministro — a Comissão Parlamentar de Inquérito, como propôs o PS e chegou a admitir o Governo –, mas “o ponto de discórdia foi o prazo“, o que, na visão do presidente da CIP, é de criticar.
“O Parlamento tem um problema de produtividade“, atira Armindo Monteiro. “Se os partidos tinham interesse em escrutinar e só não se entenderam no prazo, parece-me que é um problema de produtividade, de fazer no tempo oportuno em vez de no tempo político”, insiste.
Se os partidos tinham interesse em escrutinar e só não se entenderam no prazo, parece-me que é um problema de produtividade.
Ao ECO, o líder da CIP diz ainda estar preocupado por três razões: não só por não haver convergência dos partidos em torno dos interesses nacionais, mas também por não haver um “sentimento de privilegiar a prosperidade em Portugal“. E, pior, pela dificuldade que se adivinha na governação do país, após a nova ida às urnas.
“Continuamos a insistir na tática partidária e não em unir esforços”, lamenta Armindo Monteiro, que chama a atenção para o cenário repleto de “perigos internacionais” — como as tarifas alfandegárias impostas pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — que serve de pano de fundo a esta crise política em Portugal.
CCP com preocupação redobrada

Também da parte da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) chega a mensagem de que é lamentável que o país seja “novamente confrontado com a realização de eleições legislativas”, passado pouco mais de um ano desde a última ida às urnas, especialmente quando o resultado “poderá conduzir a um novo ciclo de instabilidade política“.
“As empresas precisam de estabilidade e previsibilidade para a prossecução da sua atividade, principalmente num contexto internacional marcado pela incerteza“, salienta a CCP, numa nota enviada às redações, em linha com o expresso pelo presidente da CIP.
A confederação liderada por João Vieira Lopes lembra também que já estava preocupada com o atraso no cumprimento das expectativas das empresas, “quer do ponto vista fiscal, quer económico”, sentimento que agora é agravado, “face aos previsíveis agravamentos decorrentes de mais esta mudança a curto prazo no elenco governativo”.
“A CCP apela a que todos os partidos políticos se comprometam — em caso de vitória eleitoral — com a adoção de procedimentos céleres que agilizem a tomada de decisões fundamentais para o país“, assinala a confederação.
Já da parte da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), o secretário-geral, Luís Mira, entende que “a queda de um governo é sempre um fator de potencial instabilidade para o país“, mas garante que “as empresas estão preparadas para continuar a funcionar normalmente“.
“No caso da agricultura, a atividade não para e as culturas não esperam pelas eleições nem pelo Governo. Além disso, julgo que não há razão para que o Plano de Recuperação e Resiliência não avance e penso que a Administração Pública tem de estar preparada para continuar a funcionar com normalidade, até porque o regime faz atualmente cinquenta anos e os portugueses estão já habituados a estas situações“, afirma o responsável.
O ECO também questionou a Confederação do Turismo de Portugal sobre o atual cenário político, e aguarda respostas. Já a UGT remeteu declarações para momento posterior à decisão do Presidente da República.
Em contraste, do lado dos sindicatos, Tiago Oliveira, secretário-geral da CGTP, já defendeu que não há que ter receio em relação ao futuro, criticando a atuação do Governo de Luís Montenegro, não só nesta crise — “teve muito tempo para ultrapassar os obstáculos”, entende –, mas em relação ao último ano, tendo em conta que, nomeadamente, os salários portugueses continuam a compara mal.
(Notícia atualizada às 17h56 com declarações da CAP)
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