Centeno atinge salário de 20 mil euros mensais após aumento histórico de 7%

Governador e administradores do Banco de Portugal também se viram livres do corte de 5% que se aplicou aos políticos e gestores públicos. E com isso tiveram um aumento histórico este ano.

Mário Centeno e os restantes membros do conselho de administração do Banco de Portugal tiveram um aumento salarial histórico este ano, superior a 7%, beneficiando não só da atualização nos salários da Função Pública, mas sobretudo do fim do corte salarial de 5% que se aplicou a políticos e gestores públicos desde a crise da dívida soberana.

Com esta atualização, o governador passou a receber, desde janeiro deste ano, um salário mensal de 19.496,39 euros, de acordo com a tabela publicada pelo supervisor bancário no seu site, correspondendo a uma subida de 7,26% em relação ao que recebeu ao longo do ano passado. Trata-se do maior aumento desde que há dados disponíveis (2009).

Este aumento histórico também se aplicou às remunerações dos dois vice-governadores, Luís Máximo dos Santos e Clara Raposo (18.277,87 euros), e dos restantes quatro administradores (17.059,35 euros), Helena Adegas, Rui Pinto, Francisca Guedes de Oliveira e Luís Morais Sarmento.

Em nota de rodapé, o Banco de Portugal explica que os salários do conselho de administração definidos para 2025 resultaram da aplicação da atualização salarial de 2,15% para os funcionários públicos e também da eliminação da redução remuneratória de 5% para titulares de cargos políticos e os gestores públicos, uma restrição que esteve em vigor desde 2010 e que foi levantada no final do ano passado pela Assembleia da República, no âmbito do Orçamento do Estado para 2025.

Evolução dos salários da administração do Banco de Portugal

Fonte: Banco de Portugal

No caso de Mário Centeno, cujo mandato termina em julho, teve este ano um aumento igual ao que acumulou entre 2020, ano em que tomou posse, até ao ano passado: 7%.

Em termos anuais, o governador do Banco de Portugal passa agora a auferir uma remuneração de cerca de 272,9 mil euros. É inferior, por exemplo, ao que recebem os presidentes dos principais bancos nacionais. Na Caixa Geral de Depósitos (CGD), o banco do Estado, o presidente da comissão executiva, Paulo Macedo, tem um salário fixo de 423 mil euros anuais, mas recebe prémios de desempenho – algo que o governador não recebe.

Em comparação com governadores de outros bancos centrais, o salário de Centeno também fica aquém da maioria dos seus pares do Eurosistema. A presidente do Banco Central Europeu (BCE) recebeu 370,2 mil euros no ano passado. O governador belga aufere um salário superior a meio milhão de euros anuais.

Salários polémicos

Os salários pagos no topo da hierarquia do Banco de Portugal voltaram a ser tema de debate intenso no final do ano passado, depois da polémica relacionada com a nomeação de Hélder Rosalino para secretário-geral do Governo – cargo para o qual acabou por desistir depois de o Banco de Portugal se ter recusado a suportar o salário que o ex-administrador recebe como consultor da administração do supervisor.

Por conta desse episódio – que marcou um novo embate entre o ministro das Finanças e o governador – Joaquim Miranda Sarmento solicitou uma reunião da comissão de vencimentos do Banco de Portugal (a primeira em mais de dez anos, como chegou a destacar o ministro) e da qual saiu a decisão de estudar os salários no supervisor bancário.

Na verdade, são dois estudos a serem feitos: um para comparar os salários dos membros do conselho de administração com a média europeia e outro sobre as estruturas salariais dentro do próprio Banco de Portugal, de modo a compreender eventuais disparidades.

Recentemente, em entrevista ao ECO, Miranda Sarmento disse não ter novidades sobre o assunto, mas presume que esteja na fase da “contratação da entidade que vai fazer esse estudo”.

“O que quisemos fazer foi uma análise comparativa das remunerações e creio que esse processo estará a decorrer”, referiu o ministro das Finanças. O ECO contactou o Banco de Portugal sobre se já selecionaram a entidade que irá realizar os estudos, mas não obteve uma resposta até ao momento.

Da esquerda para a direita: Francisca Guedes de Oliveira, Helena Adegas, Luís Máximo dos Santos, Mário Centeno, Clara Raposo, Rui Pinto e Luís Morais Sarmento.Banco de Portugal

“Eu é mais bolos”

Por conta da polémica com os salários, Mário Centeno chegou mesmo a ir ao Parlamento para dar explicações. E chegou a ironizar quando foi questionado sobre o facto de o seu salário ser superior ao do primeiro-ministro (quase 82 mil euros por ano). “Eu é mais bolos”, atirou, citando um sketch do humorista Herman José.

“Falar de salários é sempre muito sensível. Mas cito aquele sketch [da personagem] do José Severino: ‘Eu é mais bolos'”, afirmou o governador, defendendo que “quando preenchemos um lugar devemos ter as exigências, as competências e o salário” correspondentes. “É importante ter esse debate”, frisou.

Ainda assim, lembrou que cabe à Assembleia da República “a decisão sobre os vencimentos do Estado em cada um das funções“. “O que não me parece normal é que se tome uma decisão e depois se diga que é o Banco de Portugal que paga”, argumentou Mário Centeno.

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