Operação Picoas. Ex-CEO da Altice, Alexandre Fonseca, constituído arguido
Na Operação Picoas está em causa uma “viciação decisória do grupo Altice em sede de contratação, com práticas lesivas das próprias empresas daquele grupo e da concorrência”.
Alexandre Fonseca, ex-CEO da Altice, foi constituído arguido, no âmbito da chamada Operação Picoas. O antigo presidente executivo da Altice esteve esta manhã no DCIAP a ser interrogado, avançou inicialmente a SIC Notícias.
A Operação Picoas revelou um alegado esquema financeiro em torno da Altice, detentora da antiga PT, que terá lesado o Estado e o grupo empresarial em centenas de milhões de euros. Está em causa uma “viciação decisória do grupo Altice em sede de contratação, com práticas lesivas das próprias empresas daquele grupo e da concorrência” que apontam para corrupção privada na forma ativa e passiva e para crimes de fraude fiscal e branqueamento. Os investigadores suspeitam que, a nível fiscal, o Estado terá sido defraudado numa verba superior a 100 milhões de euros.
A investigação indica também a existência de indícios de “aproveitamento abusivo da taxação reduzida aplicada em sede de IRC na Zona Franca da Madeira” através da domiciliação fiscal fictícia de pessoas e empresas. Entende ainda o MP que terão sido usadas sociedades offshore, indiciando os crimes de branqueamento e falsificação.
Na rede social facebook, o agora arguido confirma que esteve no Departamento Central de Investigação e Ação Penal para ser ouvido. “Finalmente, ao fim de quase dois anos, fui confrontado com questões relacionadas com a Altice no âmbito do processo e foi-me dada oportunidade de tomar conhecimento e de, cabalmente, esclarecer todas as questões levantadas”, diz o ex-CEO da Altice Portugal.
“É sem surpresa ou alarme que assumo o estatuto de arguido após prestar declarações que há muito esperava e ambicionava poder prestar. Seria, a todos os títulos, incompreensível ou até estranho, para não dizer quase impossível, que o presidente executivo da empresa, à época dos factos sob investigação, fosse deixado de fora de tal processo”, continuou.
Alexandre Fonseca diz que “desde Julho de 2023 aguardava esta oportunidade para contribuir para o apuramento dos factos” e esclarecer como desempenhou “funções entre 2017 e 2022, sendo que os factos alegadamente imputados são exclusivamente aqueles que foram veiculados na comunicação social há cerca de dois anos e os quais serão cabalmente clarificados”.
“Este é o melhor estatuto processual – não para me defender, mas sim para, com serenidade e rigor, contribuir para o desfecho rápido e justo da investigação”, conclui.
Saída de Alexandre Fonseca da Altice
Em janeiro de 2024, Alexandre Fonseca anunciou que chegou a “um acordo” com o Grupo Altice que concretizou a sua saída definitiva da empresa. O ex-CEO da Altice Portugal era co-CEO da multinacional, tendo suspendido o mandato em julho de 2023, na sequência da buscas da Operação Picoas.
“Venho comunicar que eu e o Grupo Altice concretizámos um acordo que põe termo a uma relação de mais de uma década, na qual coloquei toda a minha entrega e dedicação e a quem prestei profunda colaboração. Seguir-se-á uma nova fase com novos desafios”, escreveu o gestor nas redes sociais, numa publicação acompanhada de uma imagem com a inscrição “decida onde quer chegar e não pare até conseguir”.
Em julho, dias depois das buscas em Portugal a altas personalidades da empresa, que conduziram à detenção para interrogatório do cofundador da Altice Armando Pereira, Fonseca anunciou a suspensão das suas funções executivas e não-executivas na empresa, incluindo no mercado português. Segundo informou na altura a Altice Portugal, a decisão visava “proteger os interesses do grupo”.
As suspeitas do Ministério Público
O Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) do Ministério Público (MP), em colaboração com a Autoridade Tributária (AT), lançou no dia 13 de julho de 2023 uma operação com cerca de 90 buscas domiciliárias e não domiciliárias.
O cofundador da Altice Armando Pereira será alegadamente o líder de um esquema que, segundo o MP, terá lesado o Estado e o grupo empresarial em centenas de milhões de euros através do envolvimento de dezenas de sociedades controladas de forma indireta pelo seu homem de confiança, Hernâni Vaz Antunes.
O empresário terá utilizado a sua influência no grupo para controlar as decisões de contratação de fornecedores, que, alegadamente, passariam também a ter de contratar serviços a empresas controladas por Hernâni Vaz Antunes para conseguirem os contratos com a Altice. A influência de Armando Pereira terá também sido concretizada na alienação de imóveis da Altice em Lisboa, cuja venda a empresas na órbita de Hernâni Vaz Antunes terá ficado por valores bastante abaixo da posterior revenda, com mais-valias de vários milhões de euros.
Os outros arguidos
Jéssica Antunes, Álvaro Gil Loureiro e Hernâni Vaz Antunes são os outros arguidos da “Operação Picoas”. Jéssica Antunes, filha de Hernâni Vaz Antunes é apontada pelo MP como ‘testa de ferro’ do pai em diversas empresas.
Álvaro Gil Loureiro, economista, tem ligação a diversas empresas associadas aos negócios em torno da Altice e que estão igualmente ligadas a Hernâni Vaz Antunes.
Já Hernâni Vaz Antunes, conhecido como ‘braço direito’ de Armando Pereira, estava entre os visados da operação, é suspeito de obter comissões milionárias em vários negócios e de colocar ‘testas de ferro’ à frente de empresas para contratos de fornecimento à Altice.
Armando Pereira está indiciado pelo Ministério Público (MP) de 11 crimes, entre os quais seis de corrupção ativa e um de corrupção passiva no setor privado, além de quatro de branqueamento de capitais e crimes não quantificados de falsificação de documentos.
(Notícia atualizadas às 21h50 com a reação de Alexandre Fonseca)
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