Inov Contacto: Seis meses lá fora para preparar o futuro

As candidaturas ao Inov Contacto da Aicep estão a correr até 4 de outubro. Quem quiser estagiar num dos 80 mercados disponíveis ainda vai a tempo.

“O Inov Contacto mudou a minha vida profissional e, ao mesmo tempo, foi uma adrenalina.” É com esta frase de Inês Caleiro, CEO da Guava, que começa o vídeo de apresentação do programa Inov Contact. Este é um programa de estágios no estrangeiro promovido pela Aicep, cujas candidaturas estão abertas até 4 de outubro.

“É uma porta aberta para a realidade”, acrescenta Inês Caleiro, que lançou a sua própria marca de sapatos em 2011, depois de ter voltado dos Estados Unidos, onde estagiou seis meses na Jimmy Choo. A Guava distingue-se das outras marcas pelos saltos geométricos que parecem joias. Vende essencialmente online, apesar de já ter dois espaços físicos: um showroom na Rua Augusto Rosa, no Porto; e no Príncipe Real, em Lisboa, no showroom da marca portuguesa BeYou. Conta ainda com a modelo Amber Valletta, que já trabalhou com a Versace, Louis Vuitton e Calvin Klein, como embaixadora da marca.

Mas Inês Caleiro não é única, o Inov Contacto já mudou a vida de mais de cinco mil pessoas. Segundo Maria João Bobone, a diretora do programa, “99% dos participantes têm essa opinião”.

É com orgulho e satisfação que fala, ao ECO, desta iniciativa, que comemora 20 anos e que além de ter uma taxa de empregabilidade invejável — cerca de 70%, um mês após a conclusão do estágio –, “melhora a imagem de Portugal e a perceção do país no exterior, promove maior competitividade das entidades em termos internacionais que recebem jovens motivados e qualificados e ainda fomenta a competência” desses mesmos jovens.

Todos os anos há uma avalanche de candidaturas para os cerca de 300 estágios disponíveis. E como é típico dos portugueses, o hábito é deixar tudo para o fim apesar de ser desaconselhável, já que uma candidatura apresentada com tempo permite introduzir correções e não ser automaticamente excluída por conter erros e o prazo já ter acabado. Este ano foi introduzida uma exigência acrescida, a necessidade de entregar um certificado com as habilitações de inglês e que ditou o prolongamento do prazo de entrega das candidaturas até 4 de outubro.

“A certificação obrigatória do inglês é uma entropia”, reconhece Maria João Bobone, mas é necessária para evitar surpresas futuras. Já aconteceu candidatos chegarem ao seu estágio — sempre no estrangeiro, as regras permitem que no máximo se passe um mês em Portugal — e não terem conhecimentos suficientes de inglês para poderem desempenhar devidamente as suas funções.

O Inov Contacto pretende ser um programa de elite, que não se compagina com facilitismos, explica a diretora do programa. “Manter a elevada qualidade dos estágios” é uma premissa de que ninguém quer abrir mão. Mesmo que, “atualmente, haja outro tipo de oportunidades inexistentes há 20 anos” e os jovens de hoje tenham “outro tipo de expectativas, como sejam o imediatismo e o acesso real ao que pretende”, que “de certa forma não se coaduna com as particularidades do Inov Contacto que mantém e pretende manter níveis de exigência e qualidade que implicam um processo com os seus próprios timings“.

Maria João Bobone até admite que, de futuro, se introduzam algumas alterações ao programa, nomeadamente prolongar/reforçar a componente de formação na fase inicial do programa ou até simplificar o que for possível no processo de seleção. Mas a prioridade não é essa. É manter o elevado nível de reconhecimento do programa e os seus níveis de excelência.

Exemplo de uma das formações de dois dias que os candidatos têm antes de partir para os vários mercados onde vão estagiar.

Estágios em mais de 80 países

“O Inov Contacto trouxe a possibilidade de conhecer o mundo”, defende Ricardo Marvão, cofundador da BEta-i, uma aceleradora de empresas, uma associação portuguesa para a promoção do empreendedorismo. “Uma pessoa nunca esquece a experiência”, acrescenta Ricardo Marvão.

Este é mais um dos testemunhos que integram a nova campanha de promoção do programa. Uma aposta em humanizar a iniciativa e dar a conhecer algumas, das muitas, caras que participaram no programa e hoje são um exemplo de sucesso.

O Inov Contacto oferece estágios em mais de 80 países. Mas o processo é uma “carta fechada”. É essa, aliás, uma das marcas distintivas do programa face a outras ofertas de acesso ao mercado externo. Os candidatos não escolhem os mercados ou as empresas, nem as empresas escolhem os jovens. A seleção é feita pela Aicep.

Mas então como funciona? Os jovens entregam as suas candidaturas (neste caso até 4 de outubro). Depois há que analisar os perfis dos candidatos — que entretanto foram sujeitos a uma avaliação motivacional, este ano feita pela consultora Psicotec — e fazer um matching entre as habilitações dos candidatos e as necessidades das empresas que oferecem os estágios. Em meados de janeiro os jovens sabem se foram selecionados e é realizada a ação de formação — dois dias intensivos de muita aprendizagem. O objetivo é, em fevereiro, todos já estarem nos respetivos mercados. Em agosto estão de regresso. Ou não, porque cerca de 40% das empresas acaba por fazer propostas aos candidatos para ficarem a desenvolver os projetos em que estão envolvidos. Claro que nem todos aceitam, porque cada um gere a sua carreira.

Foi isso que Luís Franco, diretor geral da SurveyMonkey Europe, fez. A participação no Inov Contacto “foi uma experiência única e uma oportunidade ímpar de acelerar a minha carreira”, garante. “É uma aposta ganha”. Há milhares de empresas e de sites de todo o mundo que usam a plataforma online da SurveyMonkey para fazerem análises de mercado, avaliar a satisfação dos clientes ou até fazer avaliações de desempenho dos colaboradores.

O programa define-se como “democrático” já que ao ser remunerado permite que jovens de todas as condições sociais tenham acesso ao mesmo. Cada estágio tem uma bolsa fixa correspondente a dois IAS (Indexante de Apoio Social), ou seja, 842,64 euros, acrescidos de um subsídio de estadia de permanência no exterior indexado ao último índice de custo de vida das Nações Unidas.

Maria João Bobone admite as críticas de que a bolsa não chega, até porque já se pagou mais, antes de os montantes serem alvo de tributação em sede de IRS e os beneficiários terem de pagar Segurança Social, mas lembra que não há nenhum estágio público que remunere tão bem e recorda o exemplo do Erasmus. “O programa não é all included, deve ser visto como uma aposta na formação”, acrescenta.

O Inov Contacto, por sua vez, é financiado por fundos comunitários, mais concretamente pelo Fundo Social Europeu, através do Eixo 2 do Programa Operacional Inclusão Social e Emprego (POISE). A taxa de comparticipação é de 92%.

Mais de mil empresas fieis

São muitas as empresas que aderem ao programa, mesmo sabendo que não escolhem os estagiários. Até agora continuam a ser as empresas nacionais que dominam as ofertas de estágios, mas o número de empresas estrangeiras está a aumentar cada vez mais.

O segredo do sucesso? Segundo Maria João Bobone o simples facto de não terem obrigação de contratar no final — embora 40% acabe por fazer propostas aos jovens para continuarem — e por terem acesso a estagiários de elevada qualidade.

Todos os anos também são abertas inscrições para as empresas que querem participar. Contudo há uma taxa de fidelização de cerca de mil entidades, revela a diretora do programa. Maria João Bobone admite que muitas empresas ficam “desconfiadas” ao início por não poderem escolher os jovens, mas depois da primeira experiência “pedem mais”. “Há entidades que chegam a pedir 20 estagiários”, diz.

Os estágios são agora de seis meses, mas já foram de um ano. A decisão prende-se não só com razões financeiras, mas também para evitar que as empresas tivessem a tentação de usar os estagiários como mão-de-obra qualificada gratuita. “Como o timing de desenvolvimento de um projeto é normalmente oito a nove meses, ao encurtar os estágios para seis meses estamos a tentar aumentar a probabilidade de as empresas querem ficar com o ativo”, explica a responsável.

Maria João Bobone revela ainda que gestão é a área mais procurada pelas empresas, mas não é a dominante entre os jovens que se propõem ao estágio e essa é mais uma das dificuldades do matching que a Aicep tem de fazer.

Outros números do Inov Contacto:

  • O número de estágios oferecidos é de 300, mas já foram mais. Por altura do Plano Tecnológico, o primeiro-ministro, José Sócrates, deu um forte impulso ao programa, aumentando para 500 a ofertas dos estágios e houve mesmo um alargamento a outras áreas como o Inov Jovem, Inov Artes ou Inov Cultura. Foi contudo impossível manter estes níveis até porque a meta é “que o programa seja uma experiência duplamente ganhadora para as entidades e para os jovens sem baixar a fasquia da qualidade”.

  • O Inov Contacto tem uma plataforma que liga em rede mais de quatro mil participantes no programa. A networkcontacto é uma rede social profissional só para os participantes e que permite concluir que “90% dos jovens está a desenvolver uma atividade de acordo com as expectativas adquiridas”. Na plataforma são carregadas ofertas de emprego, seminários, estudos de mercado, informações úteis sobre os mercados, etc.
  • A Sonae, a Bosch e o BNP Paribas são as três empresas que mais estagiários do Inov Contacto contrata. Segundo Maria João Bobone há empresas que só contratam se o colaborador tiver essa experiência no currículo.

  • A Sonae, a Bosch e o BNP Paribas são também as empresas que mais estágios proporcionam no âmbito do programa. O que explica os números de que 40% dos estagiários são contratados.

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