Catalunha: Polícia fechou mais de metade dos 2.300 locais de voto

Cerca de 1.300 assembleias de voto foram encerradas pelas autoridades. Mais de 160 locais de voto continuam ocupados enquanto manifestantes contra o referendo estão nas ruas de várias cidades.

Espanha está a ferro e a fogo. Na contagem decrescente para arrancar o referendo à independência da Catalunha, intensificam-se as iniciativas contra e a favor da sua realização. Enquanto em Barcelona centenas de pessoas mantêm ocupadas as escolas e os centros cívicos no sentido de garantir a realização da votação, milhares manifestam-se em Madrid, Barcelona e outras cidades, no sentido de impedir o referendo. Autoridades espanholas continuam a tentar travar a realização do referendo. Já conseguiram fechar mais de metade dos locais de voto.

São várias as cidades onde acontecem neste sábado manifestações contra a realização do referendo. Milhares de pessoas concentraram-se hoje em frente às câmaras municipais de várias cidades espanholas, incluindo de Barcelona, que reivindicam a “unidade de Espanha”.

De acordo com a agência espanhola EFE, a maior manifestação ocorreu em frente à Câmara Municipal (Ayuntamiento) de Madrid, na praça de Cibeles. Milhares de pessoas concentraram-se no local, entoando gritos de protesto como “A Espanha unida, jamais será vencida” ou “[Carles] Puigdement para a prisão”, numa referência ao presidente do governo regional catalão, que tem insistido na realização do referendo pela independência.

 

A multidão em Madrid também lançou gritos de apoio ao trabalho da Guardia Civil e da Polícia Nacional espanhola, ambas encarregadas de garantir que a polícia regional catalã, os Mossos d’Esquadra, impeça a votação nas mais de 2.300 assembleias de voto designadas.

O protesto foi convocado pela Fundação para a Defesa da Nação Espanhola (Denaes), sob o lema “Espanha somos todos”. A Delegação do Governo de Madrid (equivalente aos antigos Governos Civis em Portugal) estimou que cerca de dez mil pessoas participaram no protesto. Muitas delas desfraldaram bandeiras espanholas na manifestação.

Já em Barcelona, cerca de 350 pessoas – segundo a Guarda Urbana da cidade – concentraram-se na praça de Sant Jaume, em frente ao Palácio da Generalitat (governo regional), em defesa da permanência da Catalunha em Espanha. “Puigdemont para a prisão” e “Não votaremos” foram algumas das palavras de ordem ouvidas.

Neste protesto registaram-se alguns desacatos, como quando um homem gritou para os manifestantes “Vocês dão vergonha”. O homem teve de ser protegido pelos Mossos d’Esquadra. Também na cidade catalã de Tarragona houve manifestação pela unidade de Espanha, num protesto que reuniu cerca de 300 pessoas.

A situação mais tensa, relatou a EFE, viveu-se em Vitoria, no País Basco, onde cerca de 30 pessoas se concentraram em frente ao Ayuntamiento com duas bandeiras de Espanha.

Frente a eles estava cerca de uma centena de jovens contra-manifestantes, com ‘ikurriñas’ (bandeiras do País Basco) e ‘esteladas’ (bandeira independentista catalã), que gritaram insultos como “fascistas”. O protesto terminou com pequenos desacatos que, ainda assim, resultaram na identificação de quatro jovens.

Na Comunidade Valenciana, em Valência, centenas de pessoas fizeram um protesto idêntico, mostrando bandeiras espanholas.

Palma de Maiorca, Saragoça, Pamplona, Sevilha, Logronho, Santander ou Valhadolid foram outras cidades e capitais de província que foram palco de protestos iguais.

A manifestação de Palma reuniu cerca de 4.000 pessoas e, em Sevilha, muitos milhares de pessoas foram para as ruas, em protesto contra o que consideram ser “um projeto golpista do separatismo catalão”.

São vozes que se levantam numa altura em que o braço de ferro entre os governos catalão e de Madrid se mantém, bem como as iniciativas de ambos os lados. Desde esta sexta-feira que muitos defensores à realização do referendo se deslocaram até às escolas e centros cívicos com o objetivo de impedir que as autoridades os encerrem e assim conseguirem impedir a votação.

Na Catalunha há mais de 150 escolas e colégios ocupados pelos defensores do “sim” à independência, enquanto as autoridades espanholas já confirmaram que conseguiram encerrar 1.300 locais de votação, segundo a Bloomberg. A ordem que há para que até às 6h00 deste domingo todos os colégios eleitorais estejam fechados. No total foram mais de 2.300 as escolas selecionadas para servir de local de votação. Apoiantes do “sim” ao referendo mantêm ocupadas 163 locais de votação.

As iniciativas de tentar impedir a realização do referendo à independência catalã, estão já a entrar no campo do ciberespaço. Neste sábado, agentes da Guarda Civil espanhola deslocaram-se ao Centro de Telecomunicações do governo catalão para comprovar o bloqueio dos serviços informáticos para o voto eletrónico no referendo de domingo, como ordenou o Supremo Tribunal de Justiça da Catalunha.

Fontes próximas da investigação disseram à agência de notícias espanhola Efe que quatro agentes à paisana entraram pelas 10h30 (09h30 em Lisboa) na sede do centro (CTTI), em Barcelona, para determinar se foi bloqueado o acesso a 29 aplicações informáticas que gerem bases de dados que seriam usadas no referendo de domingo, pelo que a juíza obrigou a que fossem suspensas.

Governo catalão não desiste… insiste

Enquanto as autoridades espanholas procuram forma de impedir a realização do referendo, os responsáveis catalãs mantêm a sua posição de força. “Não vamos desistir dos nossos direitos“, afirmou Carles Piugdemont, líder do governo catalão à AFP neste sábado. “Não vamos para casa”, acrescentou o mesmo responsável, dizendo ainda que “tudo está a postos de modo a que tudo seja levado a cabo normalmente“.

Pos sua vez, o vice-presidente do governo regional da Catalunha, Oriol Junqueras, defendeu também este sábado que se todos os catalães votarem no domingo, Mariano Rajoy e o PP “vão cair” e garantiu que “tem soluções” para realizar o referendo suspenso pelo Tribunal Constitucional.

Numa entrevista publicada hoje pelo jornal El Periódico, Oriol Junqueras assegura que um “triunfo do direito de voto e da democracia” na Catalunha será “a melhor” moção de censura ao Governo de Espanha.

“Os votos dos catalães serão a alavanca de mudança na Espanha. Se votarem todos os catalães, o PP vai cair”, defendeu o também responsável pela Economia da região.

O vice-presidente do governo catalão afirmou acreditar que o apoio das pessoas ao referendo “tem crescido” e advertiu contra “eventuais provocações” que poderão ocorrer no domingo.

De salientar que o Primeiro-Ministro espanhol destacou milhares de polícias da Catalunha para manter a ordem pública num referendo considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional espanhol.

(Notícia atualizada às 18h12 com mais informação)

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