Marcelo sabia de medidas planeadas. Discurso chocou Governo
O primeiro-ministro não esperava um discurso tão duro do Presidente visto que este já tinha sido notificado da demissão prevista da ministra e das medidas de emergência que vinham aí.
O discurso de Marcelo Rebelo de Sousa na terça-feira que se seguiu aos incêndios que vitimaram 44 pessoas, no dia 15 de outubro, tomou de surpresa o Governo, escreve esta quinta-feira o Público, visto que as medidas a tomar estavam “combinadas” com o Presidente da República, desde a calendarização da demissão da ministra da Administração Interna ao que se pretendia aplicar como medidas de emergência, e Marcelo não mostrara qualquer desagrado.
“Estávamos à espera de um discurso duro, mas ficámos chocados”, disse ao Público uma fonte do Executivo. “As coisas estavam combinadas com o Presidente da República, nomeadamente o momento da saída da ministra Constança Urbano de Sousa”.
Mesmo antes dos fogos de dia 15, já estaria decidido que a ministra iria sair, segundo este responsável. Marcelo também fora informado das medidas que seriam tomadas no Conselho de Ministros extraordinário do sábado seguinte.
No seu discurso de dia 17, a partir de Oliveira do Hospital, o Presidente da República foi rígido com o Governo, exigindo que fosse começado um novo ciclo, que poderia não contar com a ministra Constança Urbano de Sousa. “Pode e deve dizer que abrir um novo ciclo, inevitavelmente, obrigará o Governo a ponderar o quê, quem, como e quando melhor serve esse ciclo”, afirmou, além de falar sobre a moção de censura ao Governo que foi chumbada esta terça-feira: “Se, na Assembleia da República, há quem questione a capacidade do atual Governo para realizar estas mudanças que são indispensáveis e inadiáveis, então, que, nos termos da Constituição, a mesma Assembleia, soberanamente, clarifique se quer ou não manter em funções o Governo, condição essencial para, em caso de resposta negativa, se evitar um equívoco, e, em caso de resposta positiva, se reforçar o mandato para as reformas inadiáveis”.
Pedindo medidas urgentes para ajudar as vítimas nesse discurso, Marcelo Rebelo de Sousa saberia já do mecanismo extrajudicial que estava a ser preparado para ser apresentado só cinco dias depois. Muitas das medidas foram, assim, entendidas como cedências perante a rigidez do Presidente da República, quando ele já conhecia grande parte delas quando fez o discurso, segundo o Público.
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