CEO do Web Summit diz que se no último ano muitos foram ao evento apenas para ver, agora querem participar. A edição deste ano vai ter 270 startups portuguesas a exporem os seus produtos.
Um “enorme centro comercial” onde empreendedores, investidores e até curiosos podem ir à procura de inspiração, exemplos e ideias de negócio. Em vésperas da inauguração da segunda edição do Web Summit — que decorre em Lisboa entre 6 e 9 de novembro — o irlandês Paddy Cosgrave conversou com o ECO sobre a aproximação das startups à política e sobre os assistentes da conferência: cada vez menos curiosos, cada vez mais focados.
Há dois anos, quando falámos pela primeira vez, disse-me que queria trazer os grandes decisores políticos ao evento. Porquê convidar pessoas tão importantes para conhecer startups?
Porque é incrivelmente importante.
Porquê?
Porque o mundo está a mudar mais rápido do que em qualquer ponto da história que já vivemos. Por exemplo, os dois presidente da câmara de Berlim e Paris, duas das cidades mais importantes da Europa… Porque é que eles vêm? Por exemplo, pelos setores do alojamento, que estão a ser permanentemente inovados com plataformas como o Airbnb. Os transportes estão a conhecer desafios como a Uber e outras tecnologias. Os contextos estão a mudar e precisamos de novas políticas. As velhas [políticas] precisam de ser alteradas.
E o que implica essa mudança?
Isso ainda não é claro: requer constante diálogo, discussão e debate. Há 150 anos ainda não era óbvio que as crianças teriam de ser educadas e a maneira como deveriam ser educadas. Era uma ideia louca: não havia políticas para isso, nem sequer ideias. Podemos mandá-las para a escola? Podemos fazer testes? Tudo isso teve de ser trabalhado. Demorou tempo. O mundo é um sítio onde muita coisa tem mudado. Pensando mais nas crianças de hoje: no caminho para a escola não olham para a estrada mas para os telemóveis. Algumas pessoas acham isso incrível, ter os miúdos agarrados às redes sociais, sempre conectados e em contacto com os amigos. Mas os adolescentes europeus nunca se sentiram tão isolados, nunca como hoje sofreram tanto com a ansiedade. Quanto mais estão nas redes sociais, mais ansiosos e depressivos estão.
O mundo está a mudar mais rápido do que em qualquer ponto da história que já vivemos.
Não vamos fazer nada em relação a isso? Há tantas discussões e debates possíveis, é irresponsável trazer o CTO da Amazon, pessoas da Uber e outras empresas, tê-las no mesmo espaço, e não usar a oportunidade para aumentar a consciência em ambos os lados. Falar de impostos? Teremos a comissária Margrethe Vestager, e isso é ótimo porque ela está a fazer algo realmente importante nessa área. E acho que tem sido uma evolução incrível no espaço de um ano. No ano passado começámos o processo. Foi ok. Este ano estivemos muito melhor.
Têm grandes nomes como oradores. António Guterres…
Sim, tivemos sorte. Na semana passada, por exemplo, conheci o José Mourinho. Encontrei-o no hotel, e começámos a conversar. Ele tinha vestido o fato do Manchester United, e conversámos sobre o Web Summit. Foi incrível.
Alguma vez, ou em algum momento, imaginou criar um evento onde estivessem 60.000 pessoas?
Não. Quer dizer… O primeiro Web Summit foi um encontro de 150 pessoas. Todos da Irlanda. E, durante três anos, todos os assistentes eram irlandeses. Na verdade, nos últimos anos, as coisas mudaram dramaticamente. Mas isso demonstra a procura: as pessoas querem perceber como é que a tecnologia vai mudar os seus negócios. Se olharmos para os assistentes, apenas 20% das pessoas são destas incríveis novas empresas. Outros 20% são de médias e grandes empresas tecnológicas, mas a grande maioria dos assistentes não vêm de empresas de tecnologia. Porquê? Porque independentemente do negócio — seja ele qual for –, mesmo que estejas focado em marketing ou vendas, tens a responsabilidade de assegurar que profissionalmente estás consciente do que se passa. Se és uma grande empresa de retalho espanhola, aqui vais ter a oportunidade de ver pares. Porque é que vêm os líderes nas mais diversas áreas? Vêm para aprender. Os pagamentos estão a mudar, o e-commerce está a mudar, tudo está a mudar.
"Vamos ter este ano 270 startups portuguesas a expor os seus produtos. Acho que é a maior participação de sempre de um país.”
E passa-se a mesma coisa em Portugal: no ano passado, muitas das pessoas estavam curiosas sobre o que era o Web Summit e foram ao evento só para ver. Acho que este ano as pessoas estão mais focadas, até nos tipos de pessoas que vêm.
Haverá menos portugueses este ano?
Acho que serão mais ou menos os mesmos mas vamos ter bem menos pessoas que não sabem porque vêm e cada vez mais pessoas que sabem porque o fazem. Muitas pessoas, muitas startups portuguesas, não participaram no ano passado porque não sabiam realmente porquê. Queriam só estar e ficar a ver. Vamos ter, este ano, 270 startups portuguesas a exporem os seus produtos. Acho que é a maior participação de sempre de um país.
Como se pode manter essa abertura de mindset, quando estamos no meio de 60.000 pessoas?
Como assistente, é só preciso ir. É como ir a um enorme centro comercial, onde se pode dar uma volta, dar uma vista de olhos na conferência do Al Gore, ouvi-lo, ir ver um dos mais famosos jogadores de futebol, conversar com uma das modelos mais bem pagas do mundo. Quando queres fazer negócio, é fácil encontrar startups disruptivas que estão a mudar os seus respetivos setores. Tudo no mesmo sítio. É claro que queremos facilitar as coisas, mas é óbvio que as pessoas precisam ainda de fazer o trabalho de casa. E, com sorte, espero que à noite consigam relaxar.
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Paddy Cosgrave: Web Summit é “um enorme centro comercial onde se pode dar uma volta”
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