Sharing My Change: os desafios à mudança nas grandes empresas portuguesas

  • Ana Luísa Alves
  • 20 Outubro 2016

Líderes de grandes empresas nacionais também passam por grandes mudanças. E essas mudanças foram partilhadas esta quarta-feira, na segunda edição do evento Sharing My Change.

Liderar uma grande empresa é trazer às costas a responsabilidade de dar o primeiro passo para gerir a mudança, sempre que necessária. Foi sobre esta gestão, e todos os problemas que a própria mudança acarreta, que se falou esta quarta-feira no Museu da Eletricidade, na segunda edição do Sharing My Change.

Teresa Fialho e Maria João Martins
Teresa Fialho e Maria João MartinsDR 19 outubro, 2016

“Lembro-me de ver numa empresa, atrás da receção, papéis colados na parede com a ‘visão’, a ‘missão’. Quando ganhei coragem para perguntar o que era aquilo ninguém me soube responder”, recorda António Mexia. Convidado para a primeira parte do evento, António Mexia, presidente da EDP há 10 anos, falou de “Pequenas Grandes Transformações”.

Para o gestor, o mais importante na gestão da mudança é saber para onde se vai e sobretudo quem está no controlo. E para isto, segundo Mexia, é preciso ter visão. “A visão tem a ver com isto, a questão da determinação, saber juntar pessoas inteligentes”. Mas visão não é só isto. Para o CEO da EDP há pessoas com “miopia, dentro das empresas”. “Se não há visão temos uma ‘tropa fandanga‘”, acrescenta.

Para a gestão da mudança, na opinião de Mexia, é crucial o talento. “O talento é uma questão de sorte, o que separa as pessoas é a coragem”.

"O talento é uma questão de sorte, o que separa as pessoas é a coragem.”

António Mexia

CEO da EDP

Já o segundo painel de convidados teve como tema “As equipas no centro da estratégia: mudar a cultura e integrar a diversidade”. Os convidados foram José Félix Morgado, presidente do Montepio, Gonçalo Salazar Leite, presidente da Secil, e Alexandre Pinho, da Microsoft Portugal. O líder é quem comanda a equipa no sentido da mudança, e vai “na frente do barco”, disse Teresa Fialho, mediadora do debate e uma das sócias da consultora MyChange.

“Sem a preparação dos líderes é impossível. A mudança é um conflito, e é o que dá origem a problemas e mal entendidos. Sem uma boa equipa não há uma, nem duas, nem dez pessoas que consigam mudar uma organização”, refere o CEO da Secil. “Para estarmos envolvidos temos de tirar a insegurança das pessoas que estão na empresa”, acrescenta. Isto porque, segundo Gonçalo, a insegurança tem a ver com o papel de cada m na organização.

Para José Félix Morgado pode ser um cliché dizer que nada se faz sozinho. “Tenho tido a sorte de trabalhar com empresas que fazem a transformação necessária. Podemos ter a visão, saber para onde queremos ir, mas o importante é irmos juntos”, refere o CEO do Montepio. “A mudança dá medo, é preciso tirar as pessoas das suas posições confortáveis. E eu não acredito nas empresas que não aceitem a mudança no mundo, porque se tornam obsoletas, acrescenta.

Como membro da Microsoft Portugal, Alexandre revela que, mais do que pensar nos líderes importa ter uma organização com skills de liderança em todo o lado. “Uma empresa de empreendedores. É fundamental ter a visão para a mudança e existir identidade de toda a organização para a mudança. Trabalhar com as pessoas nessa visão e ter mais facilidade em fazer com que essa visão se concretize.”, acrescenta Alexandre Pinho.

"Uma empresa de empreendedores. É fundamental ter a visão para a mudança, e existir identidade de toda a organização para a mudança. Trabalhar com as pessoas nessa visão e ter mais facilidade em fazer com que essa visão se concretize.”

Alexandre Pinho

Microsoft Portugal

A diversidade foi outro assunto chave, lançado por Teresa Fialho. Mas este é “um tema delicado porque se corre o risco de ser demasiado correto”, refere Gonçalo. “A diversidade tem vindo a ganhar relevância, porque há um aspeto fundamental que não me parece que esteja a ser valorizado: o pensamento diverso”, acrescenta Alexandre.

O terceiro painel de convidados debateu o tema “Ética na gestão da mudança”, com Rute Sousa Ribeiro, senior manager da My Change. Os convidados foram António Saraiva, presidente da CIP, António Pita de Abreu, Reitor da Universidade EDP, e Ricardo Parreira, CEO da PHC.

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Os convidados foram António Saraiva, presidente da CIP, António Pita de Abreu, Reitor da Universidade EDP, e Ricardo Parreira, CEO da PHC.

“A ética é a mais ‘chamada’ ao líder em fase de mudança”, esclarece António Pita de Abreu. “A mudança tem para mim quatro ou cinco dimensões: a técnica, o saber; a relação com os poderes dentro da empresa, que tem chefes e subordinados, e a dimensão ética – para que serve o que faço e em que sentido vem”, acrescenta o reitor da Universidade EDP.

A visão da empresa tem de ser uma “visão de helicóptero” para “percecionar os fenómenos e reagir a eles”, explica António Saraiva. “Somos diariamente confrontados com uma terminologia muito económica, os défices e orçamentos… acho que existe é um défice de valores de cidadania ativa e participativa”, acrescenta.

"Somos diariamente confrontados com uma terminologia muito económica, os défices e orçamentos… e de défice que eu acho que existe é um défice de valores de cidadania ativa e participativa.”

António Saraiva

CEO da CIP

Mas, para Ricardo Parreira, “a visão e a missão não chegam”. À semelhança do que disse António Mexia, também tínhamos isso na parede da empresa e ninguém sabia o que lá estava escrito”, enfatiza Ricardo.

No fim de cada painel, foi entregue a cada orador uma palavra para que dissesse o que significava para si. Ao lado do palco, palavra a palavra, formou-se a frase “acreditar em mim”.

O quarto e último painel foi poesia para os ouvidos de público. Literalmente. Com acompanhamento do piano, pelo diretor dos Recursos Humanos do Banco de Portugal, Pedro Raposo, foram lidos os poemas “escuto”, de Sophia de Mello Bryner, o “Para além da curva da estrada”, de Fernando Pessoa, e ainda “É urgente o amor”, de Eugénio de Andrade, lidos por Teresa Fialho, Maria João Martins, Pedro Ramos, da Groundforce, e Fernando Magalhães, diretor geral do externato Frei Luís de Sousa.

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Os poemas foram lidos por Teresa Fialho, Maria João Martins, Pedro Ramos, da Groundforce, e Fernando Magalhães, diretor geral do externato Frei Luís de Sousa.DR 19 outubro, 2016

 

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Dia Europeu da Estatística / Fonte: INE
Dia Europeu da Estatística / Fonte: INE

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