O que acontece em Vegas não fica em Vegas
Esta madrugada os candidatos à Casa Branca estiveram frente a frente no último debate. O que restou destes 90 minutos?
Tudo parecia encaminhado para mais noventa minutos de ataques e contra ataques: o clima tinha vindo a adensar-se desde o último debate com as alegadas vítimas de Trump a virem a público e um novo leak de e-mails de Hillary, e pelo que se tinha visto na segunda-feira passada, a animosidade entre os dois candidatos está longe de ser um caso vulgar de competição. Ia escorrer sangue.
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Na sala começou por se pedir o que é pedido em todos os debates: os membros do público tinham de manter o silêncio durante a sessão, sem qualquer tipo de reação àquilo que fosse dito no palco, com pena de afetar os tempos dos candidatos. Depois chamaram-se os candidatos, que se dirigiram diretamente para os seus púlpitos, sem o cumprimento cordial que marca o início do combate.
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Assim, de luvas apertadas e sorrisos esboçados, os dois candidatos ouviram as perguntas de Wallace e responderam, vez à vez, sem se interromperem. Esperem! Estamos a ver o debate certo? Eles são Trump e Clinton? Os mesmos candidatos da semana passada? São sim, mas, desta vez, conseguiram acertar no sítio e nas regras de etiqueta. Desta vez falou-se mais de política e de economia do que de escândalos e boatos. Desta vez argumentou-se mais do que se usaram falácias ad hominem. Desta vez assistimos todos a um debate presidencial — que não quer dizer que Trump tenha deixado o seu temperamento de lado e Clinton tenha respondido a todas as perguntas sem se desviar do ponto.
O arranque
Ambos os candidatos começaram fortes com o surgimento de assuntos que definem profundamente os ideias dos partidos que representam: o aborto, as armas e a segunda emenda e a constituição do Supremo Tribunal. Nestas, Trump sublinhou a sua posição a favor da vida, e de como essa vai implicar a sua escolha para o Supremo Tribunal, bem como a importância da aplicação uma “justiça correta”, que garanta o acesso às armas. Clinton, por sua vez defendeu o direito de escolha da mulher, a revisão do livre acesso às armas e expressando o seu apoio pelo nome proposto por Obama para o Supremo Tribunal.
“Vou defender o direito das mulheres tomarem as suas decisões de saúde. Chegámos demasiado longe para voltarmos atrás agora”
Seguiu-se a imigração e as posições mantiveram-se, com Trump a querer uma política muito restrita no que toca à entrada de pessoas no país e Clinton a defender fronteiras seguras, mas com a inclusão de algumas reformas. Apenas temos a sublinhar neste bloco as referências feitas a Putin e à relação da espionagem russa com as presentes eleições — e com o candidato republicano.
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Como se podia adivinhar, foi neste assunto que Trump voltou a ser Trump e ao afirmar que a fronteira do México era a porta de entrada das drogas no país, concluiu com a frase “Temos alguns hombres maus aqui e vamos tirá-los”.
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E a economia?
As medidas de estímulo da economia que foram defendidas seguem também as cores partidárias de ambos os candidatos, sendo elas:
Trump
- Exigir aos países aliados o pagamento dos serviços prestados
- Renegociar os tratados de comércio – NAFTA criado na administração Clinton
- Reduzir impostos dos privados e das empresas
- Trazer o dinheiro das offshores
- Cortar o programa de saúde Obamacare
Em relação à criação de emprego não foram apresentadas medidas concretas, mas o candidato criticou a atuação de Obama neste ramo.
Este é o último relatório de emprego antes da eleição? Porque se for eu ganho isto facilmente.
Clinton
- Apoiar classe média com programa de criação de emprego
- Implementar energias limpas – criação de emprego
- Subir o salário mínimo
- Garantir a igualdade de pagamento entre sexos
- Renovar o sistema de educação
- Abolição de propinas e para famílias com menos de 250 mil dólares de rendimento
- Manter os impostos das famílias com menos de 250 mil dólares de rendimento
- Pôr os mais ricos a pagar a sua “parte justa”
Clinton Foundation, o calcanhar de Aquiles
As doações recebidas pela Fundação Clinton foram alvo de críticas por parte de Trump. O candidato republicano fez questão de conectar as doações feitas por países como a Arábia Saudita — que tem falhas graves nos direitos das mulheres — com as ideias defendidas pela democrata. Acabou por desafiar a concorrente a devolver esse dinheiro — ao que Clinton respondeu com a ausência de declarações fiscais do seu oponente.
E se Trump perder?
A afirmação mais marcante deste debate saiu de Trump, que ao ser questionado se aceitaria os resultados ao sair derrotado no dia 8 de novembro, o magnata limitou-se a responder que ainda não sabia o que iria fazer.
“Olharei para isso nessa altura. Não olho para nada disso agora. (…) Vou manter o suspense.”
Como afirmou Chris Wallace no fim do debate, “Agora a decisão está nas suas mãos“. Resta-nos esperar para ver qual o desfecho que os americanos vão dar a esta campanha eleitoral que nos apanhou a todos de surpresa.
Sabia que…
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