Centeno recusa ser definido como anti-Schäuble e anti-austeridade
Em entrevista ao jornal alemão Handelsblatt, o presidente do Eurogrupo fala em sinais "encorajadores" da Alemanha e defende um seguro comum para os depósitos.
Poucos dias depois de assumir a liderança do Eurogrupo, Mário Centeno recusa a definição de anti-Schäuble e de anti-austeridade e diz que vê sinais muito encorajadores da Alemanha. Ideias deixadas em entrevista ao jornal alemão Handelsblatt.
O ministro português das Finanças começa por dizer que a definição de anti-Schäuble, assumida por alguns, não encaixa, e, aliás, até falha o ponto essencial. Refere que o Governo português “está a promover consolidação orçamental e ao mesmo tempo convergência económica com a UE” e, pelas discussões que teve com Schäuble, também o ex-ministro alemão das Finanças defende ambos os pontos.
Centeno também recusa o rótulo de anti-austeridade: “Esse é outro equívoco”, responde o ministro, dizendo que nunca se descreveu assim e apontando para a mensagem do Governo quando iniciou funções. “Era tempo de introduzir um elemento de coesão social em Portugal”, afirmou o ministro na entrevista publicada no Portal do Governo.
O presidente do Eurogrupo sublinha ainda que “muito observadores” estiveram errados sobre Portugal nestes últimos anos. “Talvez houvesse algum preconceito com um Governo de centro-esquerda ou apenas falta de informação”, frisa, notando que os resultados estão à vista.
Questionado sobre se a sua presidência vai afastar-se da austeridade para se aproximar da solidariedade financeira, Mário Centeno lembra que a estratégia política “não é determinada pela escolha do presidente do Eurogrupo”. Mas entende que os 19 países partilham a vontade de tornar a zona euro “mais robusta e resiliente a crises”. “Isto não é sobre mais ou menos austeridade”, atira, salientando depois que a União Económica e Monetária é jovem. Ainda vai ser preciso trabalhar algum tempo numa maior harmonização, o que exige esforço ao nível das reformas nacionais mas também decisões conjuntas na zona euro. “Completar a arquitetura institucional da zona euro vai beneficiar todos os Estados-membros e toda a gente tem de perceber isso”, conclui.
Centeno diz ainda que vê sinais “muito encorajadores” da Alemanha. O ministro respondia assim a uma questão sobre o orçamento comum para o investimento admitido no pré-acordo entre SPD e CDU/CSU. “Como economista, diria que isto faz sentido. Faz sentido para uma união monetária ter capacidade orçamental que desempenhe o papel de apoiar o investimento e possa servir como ferramenta de estabilização”, declara o líder do Eurogrupo, mas acrescentando que há preocupações com alguns riscos. “Preocupações com transferências permanentes são muito compreensíveis”, diz.
O ministro espera que em junho já seja possível tomar decisões quanto à discussão em torno das reformas na zona euro, dizendo que é preciso aproveitar este período vantajoso, com o início de novo ciclo político e económico em muitos países. O facto de não existir um Governo na Alemanha não parece ser problema para o calendário de Centeno. Ainda assim, defende um novo Governo na Alemanha o mais rapidamente possível.
O ministro diz ainda que “faz todo o sentido” ter um seguro comum para os depósitos numa união bancária. “Isto iria beneficiar todos os cidadãos e empresas e providenciar uma rede de segurança para o nosso sistema bancário, impedindo uma corrida aos bancos que podem ter repercussões sistémicas na zona euro”, afirmou.
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