O dia em que Mário Centeno saiu do lixo e foi eleito presidente do Eurogrupo
A eleição do ministro das Finanças português para liderar o Eurogrupo fechou com chave de ouro um ciclo tanto para Centeno, como para a própria Comissão Europeia.
4 de dezembro, 15h43, Bruxelas: Mário Centeno foi eleito presidente do Eurogrupo. O ministro das Finanças português não ganhou à primeira volta mas, à segunda, uniu os socialistas e conquistou o lugar de Mr. Euro. Fechou-se um ciclo para Centeno, para Portugal e para a Comissão Europeia: o ministro afirmou-se internacionalmente, o país recuperou autoridade perante os pares e a Comissão ganhou a tão procurada história de sucesso para contar.
À medida que a data da eleição se aproximava, os potenciais candidatos foram aparecendo. O francês Bruno Le Maire, o italiano Pier Carlo Padoan e o espanhol Luis de Guindos chegaram a ser falados pela imprensa internacional, mas acabaram por não avançar. Em Portugal, o nome de Mário Centeno como potencial candidato circulava desde abril, quando uma notícia do Expresso garantiu que o ministro português tinha sido sondado para substituir o ainda presidente Jeroan Dijsselbloam. A 4 de abril o primeiro-ministro António Costa assumiu que Centeno tinha sido sondado, mas faltavam ainda muitos meses de negociações para que o Executivo português assumisse oficialmente uma candidatura.
A 29 de novembro, o ministro das Finanças português ficou a conhecer a sua concorrência oficial: Peter Kazimir, o socialista da Eslováquia, Dana Reizniece-Ozola, da Letónia e Pierre Gramegna, o liberal do Luxemburgo. A candidata letã desistiu depois da primeira volta e a RTP avançou que Centeno conseguiu oito votos nessa primeira votação.
À segunda, os socialistas uniram-se e Centeno venceu.
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Uma “história tremenda de sucesso” para contar
Em Portugal, a eleição de Centeno fechou a gestão política do dossier das Finanças com chave de ouro. O ano tinha começado conturbado para o ministro: a 13 de fevereiro Centeno chegou a colocar o lugar à disposição, por causa da guerra com o então presidente da Caixa Geral de Depósitos, António Domingues, sobre a entrega da declaração de rendimentos da equipa da administração do banco público, ao Tribunal Constitucional.
As dúvidas sobre o impacto da recapitalização da Caixa no défice orçamental — que, com o ano a terminar, ainda permanecem — obrigaram a esperar pelo verão para que a saída do Procedimento por Défice Excessivo se confirmasse. E, no entretanto, Portugal ia repetindo a discussão com a Comissão Europeia em torno das regras de avaliação do esforço de ajustamento estrutural, ao mesmo tempo que dava o tudo por tudo para vender o Novo Banco ao Lone Star e evitar o caminho da resolução.
Mas não foi só em Lisboa que o acontecimento foi marcante. A escolha foi carregada de simbolismo para a própria Europa. A 18 de julho, em Lisboa, o comissário económico para os Assuntos Financeiros, Pierre Moscovici assumiu: “Queremos fazer de Portugal uma história tremenda de sucesso.”
A declaração não foi propriamente uma novidade. A suavização do discurso face ao rumo da economia portuguesa e às escolhas do Executivo socialista apoiado pelos partidos à sua esquerda era cada vez mais evidente. Mas naquele dia ficou claro que a Comissão procurava um país saído de um programa de ajustamento, com um governo pró-europeu, para mostrar que as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento e que a política europeia funcionam.
É que a Europa teve um ano desafiado por eleições difíceis — em França, na Alemanha, e na Holanda temiam-se os populismos de direita — e por dúvidas quanto à força do projeto europeu — o Reino Unido acionou o Artigo 50.º para deixar a União e a Cimeira de Roma ficou marcado pela ideia de uma Europa a duas velocidades.
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