Centeno alerta para a deterioração do crédito em moratória
Apesar de os bancos dizerem não esperar problemas significativos com o fim das moratórias, o governador do Banco de Portugal alerta para a deterioração do crédito que estava suspenso na pandemia.
Enquanto a banca se diz tranquila com o fim das moratórias, ressalvando que não será um problema macro, o governador do Banco de Portugal veio esta sexta-feira alertar para a deterioração dos indicadores de qualidade dos ativos, nomeadamente do crédito que estava protegido pelas moratórias.
“Devemos manter o alerta e esta é a parte em que entra o governador do Banco de Portugal: alguns indicadores da qualidade de ativos deterioraram — eu diria que naturalmente no decurso da crise pandémica –, nomeadamente do crédito em moratória”, apontou Mário Centeno no encerramento da Money Conference, organizada pelo Dinheiro Vivo, DN e TSF.
O antigo ministro das Finanças deu mesmo conta dos indicadores que se agravaram:
- o rácio NPL bruto dos créditos em moratória aumentou 2,9 pontos percentuais, para 8,3% face a junho de 2020;
- o rácio de empréstimos reestruturados aumentou 2,8 pontos percentuais, para 9,2%;
- o peso dos empréstimos em stage 2 — “aquilo que designamos como empréstimos para os quais se observou um aumento significativo do risco de crédito” — aumentou 12,1 pontos percentuais, para 27,3%.
Para Mário Centeno, isto significa que a banca fez aquilo que lhe foi pedido. Isto é, “olhou para as carteiras de crédito, avaliou, valorizou e agiu em conformidade na identificação das dificuldades”. Dificuldades “contidas”, destacou, mas que estão presentes no balanço dos bancos.
Ainda assim, o sucessor de Carlos Costa não deixou de sublinhar o esforço que os bancos e a sociedade portuguesa fizeram na redução do malparado nos últimos anos, passando de 17,9% em junho de 2016 para 4,3% em junho de 2021.
"Devemos manter o alerta e esta é a parte em que entra o governador do Banco de Portugal: alguns indicadores da qualidade de ativos deterioraram — eu diria que naturalmente, no decurso da crise pandémica –, nomeadamente do crédito em moratória.”
Mário Centeno destacou mesmo o facto de, pela primeira vez, Portugal ter rácios de NPL para o conjunto do sistema bancário inferiores a 5%. E recordou como este patamar era importante no contexto europeu.
“Costumo sempre recordar as longuíssimas horas, enquanto presidente do Eurogrupo, em que tive de tratar destas questões de redução do risco nos sistemas bancários na Europa e a importância que em todos aqueles textos tinha o valor de 5% para a identificação de um sistema bancário em que o risco estivesse sob controlo”, relatou.
Malparado em mínimos
Fonte: Banco de Portugal
“Todos os sistemas bancários em que o rácio de NPL bruto fosse superior a 5% eram vistos com dúvidas sistémicas e metódicas pelos reguladores e decisores”, lembra o responsável do banco central, notando que não quer que os bancos portugueses voltem a superar esse patamar.
Portugal foi dos países da Europa onde as famílias e empresas mais recorreram às moratórias durante a pandemia. Os últimos dados do Banco de Portugal revelam que ainda havia 19,2 mil milhões de crédito em moratória no fim de setembro, data em que terminou a moratória pública para a generalidade dos contratos. Ainda assim, sublinhou que o valor será inferior, pois algumas instituições só registaram o fim das moratórias já em outubro.
Na última ronda de resultados foram vários os banqueiros a considerarem que as moratórias não terão grande impacto, destacando antes a crise das matérias-primas e o aumento dos custos de energia e dos transportes como alguns dos principais problemas que têm em mãos.
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