Josu Fabo, o responsável da Fitch pelo rating das instituições financeiras, considera que os "desenvolvimentos recentes" ajudaram o Montepio a "resolver vários riscos".
Josu Fabo, o responsável da Fitch pelo rating das instituições financeiras, reconhece que uma injeção de capital no Montepio por parte de qualquer investidor é positiva para a notação do banco ainda liderado por Félix Morgado. Isto depois de a agência ter subido o rating da instituição financeira, uma vez que “tomou várias medidas” para reduzir o risco. Entre estas medidas, o analista considera que o facto de a Associação Mutualista ter voltado a controlar totalmente o banco ajudou a “resolver vários riscos”. Quanto aos outros bancos, o analista não nega que a Fitch possa vir a melhorar a notação nos próximos meses. Mas antes é necessário resolver problemas: o crédito malparado ainda pesa e a rentabilidade é fraca.
Por que é que a Fitch apenas reafirmou o rating da CGD, BCP e BPI depois de retirar Portugal de “lixo”?
Estes bancos ainda têm alguns desafios. As métricas da CGD melhoraram depois da recapitalização e o BCP melhorou muito [também fruto do aumento de capital realizado]. Mas ambos ainda têm métricas fracas quando comparadas a nível internacional. Além disso, a CGD tem um plano de reestruturação, tem de melhorar o plano de negócio e vender alguns dos negócios internacionais. Isto ficou definido com a Comissão Europeia. Deu alguns passos, mas ainda é cedo para subirmos o rating. Mas o outlook positivo reflete o facto de caso execute adequadamente os planos, a notação da Caixa pode ser revista em alta. No caso do BCP, o banco já implementou o seu plano com bastante sucesso e não estamos tão preocupados com o plano de negócios. É mais uma questão de qualidade dos ativos.
Consideram rever o rating destes três bancos em breve?
Revimos mesmo antes do Natal. Não posso dizer quando é que vamos voltar a rever. Mas posso dizer que temos de rever os ratings dos bancos que cobrimos no período máximo de 12 meses. Ou seja, pelo menos uma vez por ano. Mas podemos voltar a avaliar mais cedo se considerarmos que houve mudanças no perfil de crédito do banco.
Admite uma revisão antes dos 12 meses?
É possível. Mas neste momento não posso dizer porque temos de avaliar isso. Há elementos que nos levam a estas alterações do rating.
O que tem de acontecer para estes bancos perderem o estatuto de “lixo”?
No caso do BPI, o banco já está acima deste patamar graças ao apoio da casa-mãe [CaixaBank]. Para que haja uma melhoria, tem de executar com sucesso o plano de integração do CaixaBank, porque isso vai permitir que reforcem o perfil de crédito com a entrada de mais capital (através da emissão de títulos de dívida que contam para os rácios, nomeadamente para o MREL). No caso da CGD e BCP, as instituições financeiras ainda estão longe do estatuto de investimento — três níveis. Podem aproximar-se nos próximos dois a três anos se reduzirem os Non Performing Loans (NPL, ou malparado).
O nível de NPL no sistema bancário português ainda é o principal problema?
Penso que os NPL são um grande problema para o sistema bancário e para o país. Correspondem a cerca de 25% do Produto Interno Bruto, o que é bastante elevado. Não tão elevado como o Chipre ou a Grécia, mas é um valor alto. Por isso, é importante resolver este problema para o setor e para a economia portuguesa. É definitivamente um fator-chave. Mas há outro problema: os bancos têm de melhorar os seus planos de negócio.
Como avalia a plataforma do malparado onde participam o BCP, CGD e Novo Banco? É positivo para o rating?
É positivo, mas o legado que têm é demasiado grande. No futuro, estimo uma diminuição dos NPL porque agora assumem menos risco. Isso é positivo, mas não podemos refletir isso totalmente no rating porque ainda têm este legado.
E em relação à rentabilidade? A nova posição do BCE ajuda?
Se as taxas de juro subirem, isso vai ser positivo para os bancos portugueses em termos das receitas. Mas se as taxas subirem muito e demasiado rápido, isso também pode deixar alguns clientes vulneráveis já que aumenta o pagamento dos juros e isso pode ser um problema em termos da qualidade dos ativos. Ou seja, os aforradores não são capazes de pagar. Mas se as taxas subirem gradualmente, isso vai ajudar.
Mas há também outros fatores [que condicionam a rentabilidade]: os bancos têm de emitir dívida para satisfazer os requisitos europeus, conhecidos como o MREL, e isso vai custar mais do que os depósitos dos clientes [reduzindo a rentabilidade do setor como um todo].
Pensa que os bancos vão precisar de mais capital?
Os bancos não precisam de mais capital. Com o capital que angariaram ganharam tempo para resolverem o problema do NPL. Mas as provisões que registam vão continuar elevadas em comparação com outros bancos [europeus]. Isto porque os investidores institucionais que estão a tentar comprar estes créditos querem comprá-los barato para conseguirem rentabilidade. Por isso, para venderem estas carteiras de malparado, os bancos precisam de registar mais imparidades. Mas não penso que nos próximos anos qualquer um dos bancos precise de mais capital.
Considera que há a necessidade de uma consolidação do sistema bancário português?
Penso que é pouco provável que aconteça no médio prazo. Cada banco está focado na sua estratégia e os acionistas estão focados em conseguirem retornos com a execução dessa mesma estratégia. Se algum deles falhar, então pode acontecer. Mas ainda têm tempo. Se olharmos para o passado, a maioria das fusões e aquisições aconteceu depois de falências de bancos, como foi o Banif ou o Popular. E, em Portugal, não há um grande player como há em Espanha, com o Santander. O setor também já está bem consolidado, temos seis bancos. Penso que os bancos ainda conseguem ser sustentáveis no longo prazo.
Os bancos espanhóis têm uma presença muito forte em Portugal. Isto é positivo?
Para a estabilidade financeira não é necessariamente mau ter algumas instituições que fazem parte de grupos maiores que podem oferecer apoio caso seja necessário. Isso não é mau. Este suporte pode resultar numa vantagem competitiva para estes bancos. Estas instituições podem oferecer empréstimos mais baratos, ganhando quota de mercado com mais facilidade, e ser mais eficientes, uma vez que os serviços estão sediados em Madrid ou Barcelona. E isso vai pressionar os bancos nacionais. Isso é mau? Não necessariamente, porque esta pressão vai fazer com que reajam e tentem encontrar soluções para serem competitivos. Penso que isto pode ajudar a evitar a complacência.
O Montepio é novamente totalmente controlado pela Associação Mutualista. Foi evitada uma crise?
Penso que o Montepio — a quem subimos o rating, pois era o que tinha o rating mais baixo devido aos riscos elevados — tomou medidas, angariou capital e beneficia do regime dos DTA [impostos diferidos, na sigla em inglês]. Tudo isto é positivo e não posso dizer se iam falhar ou não. Mas, definitivamente, houve vários riscos que foram resolvidos graças aos desenvolvimentos recentes.
A Santa Casa está prestes a investir no Montepio. Como avalia este negócio?
Não posso comentar porque sei que ainda não é oficial. Mas se o Montepio receber uma injeção de capital de qualquer investidor, vai ser positivo para o seu perfil de crédito. O Montepio ainda enfrenta vários desafios, mas quanto mais capital o banco tiver, melhor será para os credores porque há mais almofadas de capital para absorver perdas e isso protege-os de choques. O facto de ser a Santa Casa ou outro investidor, neste momento não posso comentar porque apenas teria impacto se o acionista se envolvesse na estratégia e mudasse o conselho de administração. Se isso acontecer, teríamos de analisar. Pode ser positivo ou negativo.
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Fitch: “Montepio ainda enfrenta vários desafios”. Entrada de investidor “será positiva”
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