Alemã Esprit deixa têxtil portuguesa pendurada
O culpado de a empresa ter entrado em PER é um só: a alemã Esprit que fez uma avultada encomenda de casacos e nunca pagou.
De vencedora de prémios como o Top Export e PME líder para as listagens do Citius. A Madureira & Irmão, uma têxtil de Guimarães, que nasceu em 1971 pelas mãos de José Carlos Madureira, viu-se obrigada a recorrer a um Processo Especial de Revitalização (PER) para conseguir pôr os bancos de acordo numa reestruturação da dívida e assim evitar a falência da empresa.
“Esta é uma atividade que exige muito capital e temos um movimento bancário pesado com maturidades que não são consentâneas com a atividade da empresa”, disse ao ECO Ricardo Vieira. O diretor financeiro da empresa sublinhou a “dificuldade de pôr sete bancos de acordo”. “Sem um PER é impossível”, frisa.
“O PER vai obrigar a minoria a aceitar as regras da maioria”, acrescenta, revelando que foi a própria Caixa Geral de Depósitos que aconselhou a empresa a seguir este caminho e “utilizar esta ferramenta de gestão”. Ricardo Vieira garante que a empresa não está a pedir nenhum perdão de dívida, mas apenas um alongar das maturidades dos empréstimos que tem contraídos junto de várias instituições como o BCP (o maior credor), Totta, Popular e CGD. O responsável fez ainda questão de frisar que não tem quaisquer dívidas aos 53 trabalhadores da empresa, ao Fisco ou à Segurança Social.
Mas como é que a empresa chegou aqui? Segundo o responsável o culpado é um só: a alemã Esprit que fez uma avultada encomenda de casacos — 800 mil euros — mas nunca pagou. A PME não aguentou o embate e admite que não tem meios para combater a empresa em tribunal. Uma ação que estava cerca que poderia vencer já que a Esprit é conhecida no mercado por recorrer a este esquema.
Ou seja, a empresa encomendou as peças, não as pagou alegando que tinham defeito e não as devolveu porque garante que as destruiu, resume o diretor financeiro da Madureira & Irmão. O problema é que a empresa portuguesa viu os casacos que forneceu à retalhista alemã pendurados nas lojas. “Tenho de reclamar a ação junto dos tribunais na Alemanha, mas para isso tenho de pagar 10% da ação à frente, ou seja 80 mil euros. Vemo-nos numa situação em que…”, diz desalentado para concluir que não tem dinheiro para avançar.
O rombo de 800 mil euros “foram refletidos nas contas de 2016, numa lógica de transparência” e “os prejuízos recorde” “assustaram os bancos”, contou.
Agora a empresa, enquanto espera que o PER avance — os credores estão em negociações até 19 de fevereiro — volta a concentrar a sua atividade nos clientes de sempre: a Inditex, a dona da Zara, marcas italianas de roupa infantil.
O ECO também contactou o administrador de insolvência Bruno Miguel da Costa Pereira, mas o responsável não quis avançar quaisquer esclarecimentos “para evitar focos de contaminação para o negócio” ou “notícias que deixem intranquilos as partes envolvidas”.
(Notícia atualizada com mis informação às 16h00)
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