Chefe da diplomacia angolana diz que relações com Portugal são insubstituíveis

  • Lusa
  • 22 Janeiro 2018

No dia do arranque do julgamento da Operação Fizz, o ministro das Relações Exteriores de Angola disse estar confiante num "desfecho favorável".

O chefe da diplomacia angolana garantiu esta segunda-feira que as relações com Portugal são insubstituíveis, acreditando num “desfecho favorável” no caso do julgamento, em Lisboa, do ex-vice-presidente da República Manuel Vicente, que diz ser um “problema interno de Portugal”.

Nós esperamos e acreditamos num desfecho favorável para aquilo que é o nosso entendimento deste caso. Não tenho a certeza se o julgamento vai ter mesmo lugar, de qualquer modo é um problema interno de Portugal, um problema da Justiça portuguesa“, disse hoje o ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, na Suíça, em declarações aos jornalistas angolanos.

O governante acrescentou que esta terça-feira, à margem do arranque do Fórum Económico de Davos, na Suíça, o Presidente angolano, João Lourenço, deverá reunir-se com o primeiro-ministro português, António Costa. “No que nos diz respeito, continuamos a acreditar que as autoridades portuguesas, principalmente as autoridades judiciais, acabarão por compreender a nossa razão“, insistiu Manuel Augusto, aludindo à pretensão de ver o processo sobre Manuel Vicente – cujo julgamento arrancou hoje em Lisboa – a transitar para Luanda, à luz de acordos internacionais.

O chefe da diplomacia angolana manifestou a confiança em que “este episódio”, que diz ser “visto de diferentes formas”, “não venha a constituir-se num escolho naquilo que é um caminho harmonioso de relações entre os dois países”. “Que, como nós sempre dissemos, são relações importantes para nós. As relações com Portugal são relações únicas, são relações singulares, são relações que não podem nem devem ser substituídas, porque ligam-nos laços de vários tons e vários níveis. Por isso mesmo, a nossa mensagem é positiva”, disse ainda Manuel Augusto.

O Presidente angolano avisou a 8 de janeiro que as relações com Portugal vão “depender muito” da resolução do caso em torno do ex-vice-Presidente, Manuel Vicente, com João Lourenço a classificar a atitude da Justiça portuguesa como “uma ofensa” para Angola. “Nós não estamos a pedir que ele seja absolvido, que o processo seja arquivado, nós não somos juízes, não temos competência para dizer se o engenheiro Manuel Vicente cometeu ou não cometeu o crime de que é acusado. Isso que fique bem claro”, disse o Presidente da República, reafirmando a pretensão de o caso do ex-vice-presidente ser julgado em Luanda, ao abrigo dos acordos judiciários entre os dois países.

Lamentavelmente, [Portugal] não satisfez o nosso pedido, alegando que não confia na Justiça angolana. Nós consideramos isso uma ofensa, não aceitamos esse tipo de tratamento e por essa razão mantemos a nossa posição“, enfatizou João Lourenço. Mas, realçou, “a intenção não é livrar o engenheiro Manuel Vicente da acusação”.

Em causa está o caso “Operação Fizz”, processo em que o ex-vice-Presidente de Angola e ex-presidente do conselho de administração da Sonangol, Manuel Vicente, é suspeito de ter corrompido, em Portugal, Orlando Figueira, quando este era procurador do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), do Ministério Público, que investiga a criminalidade mais grave, organizada e sofisticada, designadamente de natureza económica.

O tribunal decidiu esta segunda-feira separar o processo de Manuel Vicente no caso da Operação Fizz. Para justificar esta separação, o tribunal alegou que se “afigura que existe um interesse ponderoso e atendível que justifica a admissibilidade da separação de processo de Manuel Vicente”, dado que o arguido Orlando Figueira está sujeito a uma medida privativa da liberdade. O processo do Manuel Vicente continuará, contudo, adstrito ao mesmo coletivo de juízes do tribunal criminal de Lisboa, que é presidido por Alfredo Costa.

À entrada do julgamento, o advogado de Manuel Vicente tinha afirmado que lhe parecia inevitável a separação dos processos. Questionado pelos jornalistas sobre o porquê da ausência de Manuel Vicente, Rui Patrício disse que o ex-vice-Presidente de Angola não comparece “porque não pode”. “Não comparece porque não pode. A questão da imunidade não está na disponibilidade e vontade de Manuel Vicente, é um assunto de Estado”, afirmou. Rui Patrício insistiu que, neste processo, Manuel Vicente não foi notificado da acusação e nem sequer chegou a ser constituído arguido.

O julgamento da Operação Fizz, que começou esta segunda-feira, tem como arguidos o ex-vice-Presidente de Angola, Manuel Vicente, o ex-procurador Orlando Figueira, o advogado Paulo Blanco e o empresário Armindo Pires.

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