Confiança. O negócio da banca
Entrega dinheiro a quem não confia? Não. Por isso é que segue os conselhos do seu gestor de conta. Mas nem sempre o aconselhamento é o melhor. E quem vende não explica. Falta literacia financeira.
“Boa tarde. Estou a ligar do seu banco. Estou a contactá-lo porque temos aqui um novo produto de poupança que achamos que lhe poderá interessar…” Esta é a conversa típica que qualquer gestor de conta faz vezes sem conta, hora a hora, dia após dia, com praticamente toda a carteira de clientes que tem a cargo. Uma cortesia? Não. Faz parte do trabalho.
Produtos novos? Há quase todos os dias. Mesmo que não sejam efetivamente novos, os bancos dão-lhe uma roupagem diferente para os relançar no mercado. Depois cabe à rede de balcões, aos gestores de conta fazerem deles um sucesso. São eles que os têm de vender. Sim, vender! Por muito que procurem ajustar a oferta ao cliente, estão a vender um produto que terá um retorno mas também gerará comissões para o banco – afinal, é um negócio. Precisa de ganhar dinheiro.
Quem vende nem sempre percebe bem o que está, efetivamente, a colocar no mercado. São intermediários entre o cliente e o banco. Mas são eles a força de uma qualquer instituição financeira. São eles que têm os contactos dos clientes que têm dinheiro para os subscrever. E, mais importante ainda, são estes gestores que têm a confiança dos clientes. E o negócio da banca depende disso mesmo, da confiança. Ninguém entrega dinheiro a quem não confia.
A confiança é bonita. Mas pode sair cara aos clientes da banca. É junto dos gestores de conta que uma grande parte dos portugueses procura aconselhamento. Quase 60% dos entrevistados no mais recente Inquérito à Literacia Financeira seguem o conselho dado ao balcão da instituição onde adquirem o produto. Ou seja, quem lhe quer vender produtos tem essa vantagem de ser visto como alguém que quer o melhor para si.
No passado bem recente, este modelo já deu provas de que falha. Falhou várias vezes. E já custou muitos milhões de euros a portugueses apanhados desprevenidos por escândalos financeiros como o Banif ou o BES, e antes o BPN e BPP. Muitos casos, casos a mais. Mas os portugueses continuam a confiar cegamente nos gestores de conta, mesmo sem perceberem muitas vezes o que estão a comprar. E os gestores também não explicam.
É um problema para o qual os reguladores têm vindo a alertar mas que invariavelmente esbarra num défice dos portugueses que é o de falta de conhecimentos financeiros. A literacia financeira tem evoluído nos últimos anos. Está a melhorar, mas é suficiente? Não. Como é que podemos ficar satisfeitos com os fracos sinais de melhoria quando ninguém (dos inquiridos, leia-se) é capaz de responder corretamente a cinco questões básicas sobre taxas de juro?
Como é que num país em que mais de 1,5 milhões de famílias têm contratos de crédito à habitação – fora outros empréstimos ao consumo – e continuam a não saber o que é a Euribor? É preciso olhar para a questão da literacia (falta dela) como um problema sério. É urgente. Ou alguém quer ver sequelas das desgraças da banca?
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