Porque é que a sede do PSD tem de estar em Lisboa?
O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas está muito bem instalado no centro de Lisboa. Mas uma unidade da Google na zona do Pinhal Interior do país é que estaria muito bem. É isto?
“Porque é que a Google em Portugal tem de ir parar a Lisboa?”. A pergunta foi feita por Rui Rio na edição desta semana do Expresso e veio intrometer-se no tema que já tinha destinado para este artigo: e se o Estado tratasse melhor da sua vida, da sua gestão e dos serviços que deve prestar à comunidade e deixasse de se intrometer nas opções que competem a cidadãos e empresas?
A pergunta feita pelo recém eleito líder do PSD erra no destinatário e, como cosequência desse primeiro erro, vira depois de pernas para o ar a lógica que estas coisas devem ter.
O destinatário óbvio da “alfinetada” é o Governo. Mas está mal. A pergunta deve ser enviada para Palo Alto, na Califórnia, onde a Google tem o seu quartel-general. Porque, não tendo havido contrapartidas do Estado português para este investimento da empresa, a localização dos sítios onde investe e onde instala serviços são da sua exclusiva responsabilidade e opção.
Se queria ter uma intervenção lógica e construtiva neste assunto, Rui Rio devia ter perguntado aos gestores da Google o que os levou a escolher Oeiras, na região de Lisboa, em vez do Porto, em Braga, Aveiro, Viseu ou Faro.
Com a resposta desses e de outros gestores talvez pudesse ficar com algumas ideias da imensidão de coisas que temos que mudar no país para que, daqui a alguns anos, as empresas que querem investir possam encarar como alternativa viável toda a “paisagem” que está para além da Grande Lisboa.
Esta intervenção é reveladora do ponto em que estamos e da deriva dirigista, proibicionista e intrometida que várias iniciativas e intervenções públicas mais recentes têm revelado. Quando devíamos estar a seguir na direcção contrária, tratando os cidadãos como adultos responsáveis, o que temos é um Estado com tiques cada vez mais intervencionistas.
Acontece que este Estado, que se acha com capacidade e legitimidade para intervir na gestão das vidas alheias, vai dando sinais consecutivos de não conseguir organizar-se a si mesmo e prestar de forma decente os serviços básicos que lhe competem.
O caso da descentralização é um dos casos mais flagrantes. O Estado concentra, há séculos, a generalidade dos seus serviços em Lisboa. Tem falhado também em políticas públicas que permitam a fixação de populações no interior do país ou que criem condições de competitividade territorial para a atracção de investimento para ali.
Mesmo quando quer dar ares de descentralizador, o Estado fá-lo com a incompetência demonstrada no caso Infarmed: uma decisão não reflectida, tomada para arrancar aplausos da plateia e que só agora, depois de anunciada, está a ser estudada. Tem tudo para correr mal e para transformar uma atitude que devia ter óbvias vantagens para o país numa má decisão em que todos ficam a perder. É este o modelo que o Estado quer que os privados sigam?
O Estado que não impõe, para si próprio, as medidas mais básicas vai agora dizer às empresas privadas, que estão a investir o seu dinheiro, que devem ir para longe da capital do país?
A sede do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas está muito bem instalada na Avenida da República, no centro cada vez mais caótico de Lisboa, porque o Estado aí o colocou há muito tempo. Mas uma operação tecnólogica da Google na zona do Pinhal Interior do país é que estaria muito bem. É isto?
Vamos mal se continuamos neste processo de tentar compensar os efeitos perversos de um Estado pesado, burocrático, centralista, desorganizado e ineficiente com exigências aos agentes privados, com proibições e regras cada vez mais apertadas que entram no núcleo das decisões individuais que competem aos cidadãos e às empresas.
A pergunta retórica feita por Rui Rio pode ser respondida com outras duas questões que esclarecem bem o problema.
Agora que terá que reajustar a sua vida pessoal por força da sua eleição para presidente do PSD, porque não se instala pessoalmente Rui Rio numa capital de distrito do interior? Ou, melhor ainda, porque não desloca a sede do partido e os seus funcionários e dirigentes para uma dessas cidades?
Pois. Não dá, não é? Aí está. Não precisamos de ir a Palo Alto à procura de respostas para a decisão da Google. Foi por essas mesmas razões que a empresa norte-americana escolheu a região de Lisboa.
Nota: Por opção própria, o autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.
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