Rui Rio mantém confiança em Elina Fraga apesar da investigação do Ministério Público
O novo presidente do PSD não vai prescindir da sua vice-presidente, apesar de esta estar a ser investigada pelo Ministério Público. "Funciono bem em ambientes de tensão", disse Rui Rio.
O novo líder social-democrata garante que mantém a confiança em Elina Fraga, ex-bastonária da Ordem dos Advogados, que está a ser investigada pelo Ministério Público. Após a reunião da comissão política nacional, Rui Rio falou aos jornalistas, mas depois deu palco às explicações de Elina Fraga, vice-presidente do PSD. “Não me espanta que haja todo este ruído ao meu nome“, começou por dizer, em declarações transmitidas pela RTP3.
A vice-presidente do PSD defende que a auditoria da Ordem dos Advogados “tem de ser situada numa luta” eleitoral. Elina Fraga — que fez questão de dizer que o PSD é a sua casa “há muito tempo” — considera que “é natural que a auditoria desse lugar a um inquérito”, mas revelou que não foi notificada de qualquer diligência ou ato processual e que não lhe foi pedido qualquer esclarecimento.
Sobre a auditoria, Fraga queixou-se de não lhe ter sido possível fazer o contraditório, apontando que pediu ao atual bastonário uma cópia da auditoria, algo que não lhe foi facultado até ao momento. “Fui uma bastonária que colocou o enfoque na defesa do Estado de direito, nas liberdade e garantias dos cidadãos”, afirmou, defendendo-se das várias acusações de que é alvo e assinalando que o seu nome gera “reações em alguns poderes instituídos”.
Os apupos não foram um sinal de fragilidade, mas sim um sinal de pluralidade.
Questionada sobre os assobios no congresso do PSD quando se ouviu o seu nome, Elina Fraga desvaloriza: “A vida ensinou-me que podemos sempre valorizar o que quisermos“. Para a vice-presidente do PSD “os apupos não foram um sinal de fragilidade, mas sim um sinal de pluralidade”. “Se todos pensassem como eu penso, muito provavelmente não estaria aqui. Estou aqui porque penso de forma diferente de alguns militantes do PSD”, argumentou, referindo que sente estar a ser uma “mais valia” para Rio.
Anteriormente, o novo líder do PSD disse manter a confiança em Elina Fraga e até se mostrou agradado pela controvérsia: “Funciono bem em ambientes de tensão, não é com tudo calmo”, disse, referindo também a investigação a Salvador Malheiro, também seu vice-presidente. Rui Rio pediu aos jornalistas para fazerem as “perguntas todas” à sua vice-presidente. Para o novo líder social-democrata isto “não é uma investigação”, mas sim a “leitura da auditoria”. “A palavra investigar banalizou-se na comunicação social“, disse.
Rio justifica ausência de Hugo Soares por este ser um líder parlamentar “demissionário”
Rui Rio não quer alimentar a polémica, mas justificou a ausência do ainda líder parlamentar com a sua demissão. “O Dr. Hugo Soares está demissionário, está em gestão. A comissão política nacional não está a tratar de assuntos de gestão corrente, está a tratar de assuntos de estratégia e essa é a razão pela qual as coisas ocorreram assim”, explicou o novo líder social-democrata. Perante a insistência dos jornalistas, Rio foi direto: “Não conte comigo para alimentar isso [a polémica]”.
"O Dr. Hugo Soares está demissionário, está em gestão.”
Esta terça-feira Hugo Soares afirmou que não foi convocado para a reunião da comissão política nacional, na qual tem assento por obrigatoriedade dos estatutos do partido. “A acontecer, creio que não será verdade, mas a acontecer, creio que se trata de um desrespeito institucional grave para com o grupo parlamentar, mas creio que não deve haver nenhuma reunião porque eu não fui convocado”, disse esta tarde, em declarações à Lusa.
As eleições para a liderança parlamentar — que visam a substituição de Hugo Soares — decorrem esta quinta-feira sendo que Fernando Negrão é o único candidato. A reunião da comissão política nacional desta terça-feira serviu para escolher outras figuras que vão fazer parte do futuro próximo do partido, além de Negrão. Rio informou que Álvaro Amaro será o coordenador para o tema da descentralização e Castro Almeida para os fundos comunitários.
A defesa de Elina Fraga em quatro pontos
Numa longa declaração inicial, a ex-bastonária da Ordem dos Advogados fez a sua defesa à auditoria e às acusações que lhe imputam:
- Sobre o “desvio”, Elina Fraga fez questão de dizer que esta palavra tem “uma conotação pejorativa” e que o que na realidade houve foi um “desvio orçamental”. A ex-bastonária justificou esse desvio orçamental com as comemorações dos 40 anos da Constituição Portuguesa e da Ordem dos Advogados e ainda as eleições da própria Ordem que tiveram duas voltas e que, por isso, houve um custo superior ao previsto;
- Quanto às deslocações de Mirandela para Lisboa, Elina Fraga afirmou que “se não fosse trágico até dava vontade de rir”. A ex-bastonária explicou que havia um princípio instituído na Ordem em que as deslocações pagas têm origem no domicílio profissional (Mirandela) e não na residência pessoal (Valpaços);
- Já as 200 contas bancárias, segundo Elina Fraga, nada têm a ver com “branqueamento de capitais”, mas sim com as operações necessárias pela aplicação dos estatutos. Em causa estão as “200 e tal delegações e os sete conselhos regionais” que têm cada uma de ter uma conta bancária — cujo número de contribuinte é único — por causa das transferência das quotas, ;
- Elina Fraga acrescentou ainda que os honorários de advogados explicam-se com as “centenas de processos da Ordem que em três anos se transformam em milhares”. A ex-bastonária referiu também que uma antiga queixa tinha sido arquivada, não havendo “qualquer indício de qualquer infração disciplinar”.
(Notícia atualizada às 20h)
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