O acordo que é votado hoje na Autoeuropa não é só salários

  • Marta Santos Silva
  • 1 Março 2018

Os trabalhadores da Autoeuropa decidem esta quinta-feira se aceitam as condições salariais acordadas entre os seus representantes eleitos e a administração. Mas não são apenas salários em jogo.

Habitualmente, na fábrica da Volkswagen em Palmela que emprega mais de 5.000 pessoas, as condições salariais para o ano seguinte são negociadas em setembro, entre a Comissão de Trabalhadores (CT) eleita pelos operários, e a administração da Autoeuropa.

O ano de 2017, porém, foi diferente, com a chegada do T-Roc, um novo automóvel da Volkswagen, à fábrica, e maiores exigências de produção que pediam um novo horário de trabalho que incluísse os fins de semana. Os trabalhadores rejeitaram vários pré-acordos e acabaram por forçar a demissão de uma CT para eleger outra, que agora negociou um pré-acordo para os aumentos salariais deste ano.

Esta quinta-feira, em três plenários divididos pelos turnos de trabalho, os trabalhadores decidem se querem as condições negociadas pela CT liderada por Fernando Gonçalves que incluem, não só aumentos, embora inferiores ao que a Comissão reivindicava inicialmente, como também outros incentivos. O acordo, se for aprovado, vigorará com efeitos retroativos a partir de outubro de 2017, altura em que teria entrado em efeito se tudo tivesse corrido de acordo com o planeado, e até ao final de 2018, deixando assim espaço para voltar a negociar aumentos para 2019.

Aumentos de 3,2% e prémios em abril

A Comissão de Trabalhadores exigia, no seu caderno reivindicativo, um aumento de 6,5%, com um mínimo de 50 euros, enquanto a administração contrapropôs um aumento de 3% em 2018 e de 2% em 2019. O compromisso ficou nos 3,2% em 2018, com 2019 a ficar por negociar, com um mínimo de 25 euros para aqueles trabalhadores a quem 3,2% de aumento não chegue a esse valor. O aumento, como referido, tem retroativos relativos a 1 de outubro.

Em abril de 2018, haverá prémios para os trabalhadores de 100 ou 200 euros, que dependerão da antiguidade do trabalhador. A atribuição dos prémios vai depender de novos critérios, ainda não determinados, para “ser mais justo”, conforme se lê no pré-acordo.

São ainda atribuídos três dias adicionais de descanso em 2018, para além dos 22 dias de férias. Todos os trabalhadores terão acesso a dois dias de descanso, e aqueles que cumpram os objetivos de absentismo, com poucas ausências, terão um suplementar.

Integração de trabalhadores a termo

O entendimento inclui a “conversão de 250 contratos a termo em contratos efetivos até 31 de dezembro de 2018”, o que significa que 250 trabalhadores entram para os quadros da Autoeuropa. Este gesto é habitual numa empresa em que os trabalhadores, no passado, aceitaram acordos menos favoráveis para poderem integrar outros trabalhadores ou prevenir despedimentos, tendo chegado a prescindir dos seus aumentos anuais para tal durante os anos da crise.

As grávidas passam a ter ainda direito a condições especiais se estiverem a trabalhar em regime de turnos rotativos. “A empresa compromete-se a identificar estações de trabalho/tarefas compatíveis com o desempenho de funções da mulher grávida”, assinala o pré-acordo, podendo a mulher aceder ainda a um subsídio por gravidez que corresponde a 10% do salário base, enquanto prestar trabalho.

Fim dos salários mais baixos

As tabelas salariais vão ser alteradas, removendo os escalões mais baixos de entrada. Isto significa que um operário que agora entraria para a empresa no nível A0, a ganhar 660 euros de salário base bruto, passa a entrar diretamente para o escalão A, cujo salário base é de 715 euros. Também há alterações para os especialistas, que serão admitidos diretamente no segundo nível de integração. Pode consultar aqui as tabelas salariais atualmente em vigor na Autoeuropa.

E os horários?

Este acordo não contempla nenhuma consideração relativamente aos horários e turnos de trabalho. A contestação ao trabalho ao sábado na fábrica tem estado sob o olho atento da opinião pública e da imprensa, mas neste momento manter-se-á até agosto, altura em que a empresa encerra para o descanso anual.

A Comissão de Trabalhadores deverá começar a negociar depois da decisão sobre os salários para decidir qual o horário que será aplicado de agosto em diante. A empresa pretende que a Autoeuropa entre num modelo de laboração contínua que inclua trabalho ao sábado e domingo como dias normais, e com folgas semanais não necessariamente consecutivas. Os trabalhadores contestam esse modelo. O que vai acontecer depois de agosto ainda está por decidir.

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