Poupar em tempos de juros baixos. Missão impossível?

Poupar está cada vez mais caro. As alternativas aos juros baixos dos depósitos encontram-se em produtos pouco conhecidos pelos portugueses e que comportam maior risco. Mas há mais opções.

No Dia de Mundial de Poupança referir que poupar está cada vez mais caro pode não ser o melhor mote para chamar a sua atenção. Mas com os depósitos a prazo a oferecer remunerações cada vez mais baixas, o risco de perder dinheiro com uma aplicação neste ativo é hoje em dia bastante provável. Há alternativas no mercado que podem compensar a fraca atratividade dos depósitos. Só que este tipo de produtos tende a comportar maior risco e são desconhecidos para a maioria das famílias portuguesas.

As conclusões do último inquérito à literacia financeira dos portugueses são claras quanto à indisponibilidade para poupar e quanto ao conhecimento acerca dos produtos financeiros disponíveis. Os depósitos a prazo continuam a ser os preferidos. Já ações, obrigações ou fundos de investimento os portugueses continuam afastados das carteiras dos portugueses, uma situação que pode ser explicada pela falta de conhecimento em relação a estes produtos — dois em cada três portugueses disseram nada conhecer ou conhecer muito pouco sobre produtos do mercado de valores mobiliários. Parece missão impossível poupar em tempos de juros baixos?

Para Filipe Garcia, presidente do IMF, a resposta pode ser chocante. “Corro o risco de chocar os leitores, mas tendo em conta os níveis de literacia financeira da maioria e o tempo disponível para acompanhar as aplicações, parece-me que o principal objetivo será mesmo assegurar a manutenção do capital e tentar, no máximo, cobrir a de inflação a que cada um está exposto“.

Corro o risco de chocar os leitores, mas tendo em conta os níveis de literacia financeira da maioria e o tempo disponível para acompanhar as aplicações, parece-me que o principal objetivo será mesmo assegurar a manutenção do capital e tentar, no máximo, cobrir a de inflação a que cada um está exposto.

Filipe Garcia

CEO da IMF

Depósitos à mercê da inflação

No caso dos depósitos a prazo, grande parte da oferta nacional deixa a desejar. Aliás, em muitos casos, até pode ganhar mais (leia-se, perder menos) se deixar o seu pé-de-meia debaixo do colchão. É que não basta ter em conta apenas a taxa de rentabilidade oferecida pelo depósito. Se os preços do que compramos no dia-a-dia aumentarem mais durante o período da aplicação, já estará a perder dinheiro com o depósito.

Para Portugal, a inflação prevista no Orçamento do Estado para 2017 aponta para uma subida de 1,6% nos preços ao consumidor. Se somarmos as comissões praticadas pelas instituições financeiras, então nem mesmo os cinco depósitos a 12 meses com melhor remuneração poderão ser uma boa ideia para amealhar algum dinheiro.

Melhores depósitos ainda dão mais de 1%

Fonte: Preçários dos bancos. Nota: Aplicações com um mínimo de investimento até 5.000 euros. * TANB Média

De acordo com a recolha de informação do ECO juntos dos bancos a operar em Portugal, apenas dois depósitos conseguem sobreviver com ganhos à erosão da inflação: um depósito a 12 meses do BNI Europa, que oferece 1,85%, em termos brutos, e o Invest Choice Novos Depósitos, uma aplicação para o prazo de um ano exclusiva a novos clientes do Banco Invest, onde é garantida uma taxa bruta de 1,75%.

E quando é expectável que as taxas de juro na Zona Euro continuem a apresentar valores mínimos históricos nos próximos anos, deixando o bancos sem margem para melhorar a rentabilidade dos depósitos, o caminho para extrair algum rendimento extra deste produto de poupança continuará a estreitar-se ainda mais à medida que inflação se direciona para os 2% que o Banco Central Europeu tem como referência. Há alternativas que não representem maior risco?

Contornar a inflação? Pense a prazo

Com o desconhecimento generalizado em relação ao mercado de ações, obrigações e outros produtos do mercado de capitais, é natural que a tradição se imponha à novidade quando o que está em causa é o nosso dinheiro. Talvez por isso os portugueses tenham mantido uma relação muito especial com os Planos Poupança Reforma (PPR) desde a sua criação.

Além dos benefícios fiscais — entretanto reduzidos –, o PPR são um tipo de pé-de-meia que pode ser reforçado ao longo do tempo, não exigindo um montante de aplicação elevado logo à entrada.

Carlos Almeida, diretor de investimentos do Banco Best, lembra duas coisas. A primeira: “Basta um pequeno investimento para começar a construir a sua poupança de forma regular. Não sinta como uma privação ao consumo na atualidade. Pense antes como maior qualidade de consumo no futuro ou maior capacidade de fazer face a situações de emergência”. A segunda: “É preciso disciplina e criar um hábito regular para poupar”.

Basta um pequeno investimento para começar a construir a sua poupança de forma regular. Não sinta como uma privação ao consumo na atualidade. Pense antes como maior qualidade de consumo no futuro ou maior capacidade de fazer face a situações de emergência.

Carlos Oliveira

Diretor de investimentos do Banco Best

De acordo com os dados da APFIPP, foram dois os PPR na modalidade de fundo de investimento que apresentaram uma rentabilidade anual acima de 3% no último ano: Santander Poupança Prudente FPR e o Optimize Capital Reforma PPR Moderado, com níveis de risco intermédios.

Fundos PPR com retornos acima de 3%

Fonte: APFIPP. * Rendibilidade anualizada no último ano

Na modalidade de seguros, entre os mais rentáveis no último ano, há dois PPR apresentaram uma rentabilidade bruta no último ano acima de 5%: o Leve DUO da Fidelidade e o PPR-PSN da PSN Mutua de Seguros. No top 5 encontramos ainda PPR com taxas acima de 3%.

Taxas em queda nos seguros PPR

Fonte: ASF.

Em todos estes casos, os produtos permitiram contornar a armadilha da inflação. Mas há outros pormenores a ter em conta para evitar ser surpreendido.

comissões de subscrição e de reembolso que penalizam o rendimento que pretende extrair da aplicação. A taxa de tributação a pagar sobre os ganhos pode ser mais baixa se o momento de saída for realizado nas situações previstas por lei: reforma por velhice, a partir dos 60 anos, desemprego de longa duração, incapacidade permanente para trabalhar ou doença grave de algum familiar do seu agregado, pagamento de prestação de crédito à habitação.

Além disso, importa ter em conta que a rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura. Ou seja, apesar das rentabilidades de 3% apresentadas no último ano, taxas de ganhos mais baixas ou até negativas também são possíveis. A este propósito vale a pena referir que 40% dos PPR na modalidade fundos de investimento apresentou uma taxa negativa no último ano, segundo os dados da APFIPP.

A via pública

Outra alternativa poderá passar pelo recurso aos produtos do Estado. Por exemplo, para quem subscreveu os certificados de Aforro (CA) durante o mês passado, a taxa oferecida situou-se nos 0,699%, um nível de rentabilidade que compara com a taxa média de 0,36% dos novos depósitos com prazo de 12 meses.

Mas dentro da oferta de poupança pública são os Certificados de Poupança Mais (CTPM) quem mais tem atraído o investimento dos portugueses. A taxa de juro média anual bruta nos 2,25% já convenceu subscrições no montante de 2,565 mil milhões de euros em 2016, enquanto os CA apresentam um volume de subscrições de apenas 159 milhões.

Um terceira opção são as Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTVR). Neste caso, porém, a única solução se pretender aplicar algum dinheiro neste produto será recorrer ao mercado secundário, onde as condições de negociação poderão determinar uma menor rentabilidade.

No final de contas, o Dia Mundial da Poupança é mais um dia da sua vida. Para os especialistas, mais importante do que colocar o seu dinheiro a render, é tê-lo num local onde não o perca de vista.

“É importante saber quais os objetivos em relação às alocações de poupanças e ter atenção às necessidades de liquidez. Por exemplo, para fazer face a despesas inesperadas tenha uma aplicação de muito baixo risco e de conversão muito rápida em liquidez”, diz Carlos Oliveira. Filipe Garcia complementa: “Se eu perder 20% numa aplicação, demorarei muitos anos a recuperar essa perda pela via dos produtos de baixo risco. Portanto, o essencial é mesmo não perder dinheiro em aplicações financeiras”.

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