José Félix Morgado concorda com a entrada da Santa Casa no banco, mas em conjunto com outros investidores. Quantos mais, maior segurança, mas diz que o banco não precisa de aumentar capital.
Assumiu a liderança do Montepio em 2015, mas não termina o mandato. Ainda assim, o ex-presidente executivo do banco da Associação Mutualista Montepio Geral, salienta o bom desempenho da administração que comandou. José Félix Morgado sublinha o regresso aos lucros da instituição que agora entrega a Carlos Tavares. Será com o ex-presidente da CMVM que o Montepio ganhará novos acionistas. A Santa Casa vai entrar, mas Félix Morgado espera que não venha sozinha.
O Montepio fechou 2017 com lucros de 30,1 milhões de euros, depois de prejuízos nos dois anos anteriores. Estes resultados são sustentáveis? “Eu sou responsável por estes resultados”, não pelos que o banco venha a apresentar daqui em diante, afirmou o ex-presidente do Montepio em entrevista ao ECO24, uma parceria entre o ECO e a TVI24. “Não sei quais são as decisões do próximo conselho de administração” que será liderada por Carlos Tavares. “Fica bem entregue”, diz.
A saída acontece num contexto de mudanças na estrutura acionista do Montepio. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa prepara-se para comprar 2% do banco por uma soma que, diz Tomás Correia, presidente da AMMG, rondará os 45 a 48 milhões de euros. A SCML entrará com outras misericórdias e IPSS, embora não haja ainda qualquer confirmação oficial quanto à participação destas na operação.
Félix Morgado defende que haja mais investidores. Isto porque “se em vez de ficarmos dependentes de um acionista ficarmos dependentes de dois continua a ser… não melhoramos substancialmente” na diversificação de fontes de financiamento, alerta. Ainda assim, garante que deixa o Montepio sem necessidades adicionais de capital.
O Montepio registou lucros de 30,1 milhões em 2017. Estes resultados são sustentáveis?
Os resultados são sustentáveis? Depende. Eu sou responsável por estes resultados e seria responsável se continuasse. Não sei quais são as decisões do próximo conselho de administração, embora confie no [novo] presidente do conselho de administração [do Montepio]. O Dr. Carlos Tavares, que me substitui, é uma pessoa com provas dadas, é uma pessoa que sabe e que conhece a banca e, portanto, o banco fica bem entregue. Agora não sou responsável pelas decisões que venham a ser tomadas.
O que posso dizer é que estes resultados assentam em primeiro lugar, num modelo de negócio sustentável. Quando entramos em 2015, as despesas representavam cerca de 110% das receitas, isto sem entrar com as chamadas imparidades, sem entrar com o chamado custo do risco. Nós saímos e este rácio é agora de 56%, quer dizer os custos representam 56% das receitas. E as imparidades, que representavam cerca de 3% em 2015, agora esse rácio é de 0,9%, que é a média de mercado. Quer dizer que também do ponto de vista de crédito, do modelo de crédito, os segmentos que foram definidos em termos de target de mercado, de facto esse modelo é sustentável.
O Dr. Carlos Tavares, que me substitui, é uma pessoa com provas dadas, é uma pessoa que sabe e que conhece a banca e, portanto, o banco fica bem entregue.
É possível visualizar a solidez do banco sem visualizar a solidez do seu acionista? Ou uma coisa está necessariamente dependente da outra?
Este trabalho que foi feito durante estes dois anos de separação de governo societário permitiu isolar os riscos que existem na Caixa Económica, do banco face ao acionista [a AMMG]. Há sempre riscos que são induzidos pelo próprio acionista, agora o Montepio, juridicamente, é uma sociedade anónima, autónoma e que tem o seu próprio negócio.
Mas não o preocupava a situação, por exemplo, de capitais negativos, os prejuízos da Associação Mutualista, sabendo nós que os subscritores da Associação Mutualista são também os clientes do banco?
Alguns clientes são. O banco tem muito mais clientes para além de associados [da AMMG]. O banco tem 1,2 milhões de clientes.
E há 600 mil que são associados…
Obviamente que o risco de reputação é sempre um risco. Mas isso só reforça a necessidade de ter as marcas diferenciadas [entre Caixa Económica Montepio Geral e a AMMG] e de termos duas instituições diferenciadas. Volto a frisar todo este trabalho que foi feito em termos de governo societário obviamente que minimiza esses riscos.
O Montepio vai precisar de um aumento de capital em 2018?
Fechámos 2017 com um rácio de core Tier 1 de 13,6%. Comparativamente com os outros bancos do setor, estão entre 13,4% e 13,8%, portanto, o Montepio está na média superior daquilo que é o setor. Aquilo que estava no plano é que o banco, seguindo as recomendações que existem das entidades reguladoras sobre a matéria, designadamente ter vários tipos de capital, em primeiro lugar, e em segundo lugar, em termos de rácio de capital total, o banco precisa de substituir uma emissão de obrigações subordinada e o que estava previsto era que essa emissão fosse de 250 milhões de euros.
Nesta matéria, julgo que devido ao sucesso deste trabalho, e da implantação deste plano, que tivemos, no último trimestre de 2017, uma melhoria do rating do banco e conseguimos colocar com sucesso quer uma emissão de obrigações hipotecárias, quer a venda crédito malparado em condições muito competitivas e em alguns casos até melhores que alguns dos nossos concorrentes. Fez-se um caminho para que quando chegássemos a esta altura em que temos que fazer a emissão das subordinadas elas possam ir para o mercado.
Como é que avalia a entrada da Santa Casa e outras misericórdias e IPSS no capital do Montepio?
Em primeiro lugar, e em termos genéricos, para qualquer banco é positivo que haja diversos acionistas porque em caso de necessidade de capital não está dependente de um acionista. Isso é sempre vantajoso. Em segundo lugar, entendo que reforça sempre o governo societário e, portanto, esse também é um impacto positivo e julgo, para não dizer que tenho a certeza, que é a perspetiva do Banco de Portugal quando refere que vê com bons olhos a entrada de acionistas porque diversifica as fontes de capital.
Mas especificamente destes acionistas?
Relativamente a estes acionistas, depende da posição que vierem a tomar porque acionistas que subscrevem meia dúzia de ações não tem peso. Ou temos acionistas com 10%, ou 5%, ou mais… agora acionistas que têm participações simbólicas não tem qualquer impacto.
"A entrada de novos acionistas visa dois objetivos: reduzir o risco em caso de necessidade de capital e reforçar o governo societário. Se em vez de ficarmos dependentes de um acionista ficarmos dependentes de dois, continua a ser… não melhoramos substancialmente.”
Mas nunca se falou muito numa participação simbólica. Seriam valores mais substantivos…
Vamos ver… Só sei aquilo que vejo nos jornais.
Mas veria com bons olhos a Santa Casa adquirir 10%?
Veria, desde que entrassem outros acionistas com posições equivalentes.
Não apenas a Santa Casa?
Não apenas a Santa Casa.
E porquê?
A entrada de novos acionistas visa dois objetivos: reduzir o risco em caso de necessidade de capital e reforçar o governo societário. Se em vez de ficarmos dependentes de um acionista ficarmos dependentes de dois, continua a ser… não melhoramos substancialmente. As recomendações que existem em termos de autoridades do setor bancário é que haja uma diversificação das fontes de financiamento e que elas possam vir do mercado e que não estejam dependentes de acionistas específicos. É dentro dessa expectativa que faço esta minha avaliação.
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Santa Casa? “Em vez de um, se o Montepio tiver dois acionistas não melhora substancialmente”
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