Félix Morgado na despedida do Montepio: “É difícil ser vertical, sério, honrado e garantir um governo societário rigoroso”
Na carta de despedida, Félix Morgado bateu com estrondo com a porta: "É difícil ser vertical, sério, honrado e garantir um governo societário rigoroso".
José Félix Morgado já se despediu dos trabalhadores do banco Montepio e a mensagem que deixou esta quarta-feira não podia ser mais clara em relação à tensão com o presidente da Associação Mutualista, Tomás Correia.
“Saio porque fui fiel aos meus princípios éticos e profissionais, sem ceder a interesses que não sejam os da instituição e dos trabalhadores. Teria sido mais fácil acomodar pedidos ou ceder a promessas. É difícil ser vertical, sério, honrado e garantir um governo societário rigoroso. Esse foi o caminho que escolhi há muito e do qual não me afasto. Como vos disse ‘é preciso deixar rasto’, e por isso deixo também este testemunho de firmeza nos princípios e de desapego a interesses pessoais”, escreveu o agora ex-CEO do Montepio na carta de despedida a que o ECO teve acesso.
Em nenhum momento Félix Morgado especifica o destinatário desta mensagem. Mas, nas entrelinhas, é fácil de perceber o mau estar com Tomás Correia, tal como o ECO já dava conta em dezembro, quando o presidente da mutualista anunciou a saída do gestor num almoço de Natal com os quadros do grupo. Na altura, várias fontes confidenciaram ao ECO que a saída de Félix Morgado resultaram de diferenças insanáveis entre ambos no que toca à composição da administração do banco. Além disso, Félix Morgado discordava da ideia de transformar o Montepio num banco social — que vai acontecer com a entrada da Santa Casa e de outras instituições sociais.
“Sei que a grande maioria de vós comunga dessa postura de vida”, prossegue Félix Morgado na mensagem enviada aos trabalhadores no dia a seguir à sua saída do banco — para o seu lugar foi nomeado Carlos Tavares. “Estou, por isso, confiante no futuro que todos vós continuarão a construir em conjunto com o vosso novo Conselho de Administração. Unam-se em torno desta vossa liderança, com confiança, com a mesma entrega e com o mesmo compromisso que já demonstraram. Juntos continuarão a construir o futuro da Caixa Económica Montepio”, sublinha ainda.
"Saio porque fui fiel aos meus princípios éticos e profissionais, sem ceder a interesses que não sejam os da instituição e dos trabalhadores. Teria sido mais fácil acomodar pedidos ou ceder a promessas. É difícil ser vertical, sério, honrado e garantir um governo societário rigoroso. ”
“Cumpri a missão que me foi confiada”
Félix Morgado sai o Montepio com o sentimento de dever cumprido e agradece o trabalho conjunto de quase três anos que permitiu “devolver ao Montepio a reputação, notoriedade e rentabilidade que são os pilares da sustentabilidade“.
“Como sabem, não acredito em projetos pessoais. Cada passo, cada degrau, cada concretização, ganhámo-los em equipa. E não há nada mais objetivo do que os indicadores económicos e financeiros que definimos em 2015 – antes de iniciar estes trabalho de recuperação – e que cumprimos”, explica o gestor. “E, quer alguns queiram, quer não, eles são positivos. Devemos, por esse motivo, estar orgulhosos e de consciência tranquila, não dando importância aos poucos que procuram menosprezar o nosso trabalho coletivo destes quase três anos. De facto “quem fala não faz, não sabe fazer””, refere.
"Quer alguns queiram, quer não, os resultados são positivos. Devemos, por esse motivo, estar orgulhosos e de consciência tranquila, não dando importância aos poucos que procuram menosprezar o nosso trabalho coletivo destes quase três anos. De facto, “quem fala não faz, não sabe fazer”.”
Lembra ainda que foram pedidos sacrifícios aos trabalhadores “nas atualizações salariais e progressão de carreira”, mas ressalva que a recuperação do banco abre agora “a possibilidade de uma maior partilha dos resultados que se deve iniciar já em 2018”.
“Partilhando com todos os meus seis colegas de Conselho, e com todos vós, cumpri a missão que me foi confiada“, destaca Félix Morgado na hora da sua saída.
(Notícia atualizada às 13h48 com mais informação)
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