Morgado sai do Montepio. Carlos Tavares recebe casa quase arrumada
Félix Morgado está de saída. Entrega a Carlos Tavares, o novo presidente do Montepio, um banco com lucros, rácios fortes e a confiança dos depositantes. Mas ainda há desafios a superar.
José Félix Morgado está de saída do Montepio, mas deixa a sua marca. O gestor entrou na instituição financeira da Associação Mutualista em 2015 e encontrou um banco com prejuízos de várias centenas de milhões e rácios de capital fracos. Agora, dois anos depois, Morgado sai, mas deixa a casa quase arrumada. Conseguiu limpar prejuízos e reforçar rácios. Mas também travar uma quebra dos depósitos, provocada pelos receios dos investidores em torno da solvabilidade da instituição. Caberá agora a Carlos Tavares gerir um banco com novos acionistas, mas também com um problema do passado: o malparado.
“A difícil conjuntura económica internacional e nacional vivida no exercício de 2015 condicionou fortemente o desenvolvimento da atividade bancária devido, nomeadamente, à volatilidade dos mercados a par dos crescentes requisitos regulatórios e da envolvente do setor.” Esta era a mensagem deixada por Félix Morgado, presidente do Montepio, nos resultados de 2015. Um ano marcado por prejuízos de 243,4 milhões e rácios de capital a rondarem os 9%.
"A difícil conjuntura económica internacional e nacional vivida no exercício de 2015 condicionou fortemente o desenvolvimento da atividade bancária devido, nomeadamente, à volatilidade dos mercados a par dos crescentes requisitos regulatórios e da envolvente do setor.”
Mas, passo a passo, Félix Morgado começou a preparar o banco para regressar aos bons resultados. No ano seguinte, o gestor já foi capaz de entregar um relatório onde ainda revelava um prejuízo, mas mais reduzido (86,5 milhões). Mas também uma margem financeira mais forte, com uma aposta no aumento das comissões como fonte de geração de receitas. Mas os frutos do trabalho do gestor ficaram à vista quando o banco apresentou lucros de 30 milhões em 2017, num ano de melhoria evidente na vertente comercial: isto é, aumentou as receitas. E muito.
De prejuízos a lucros, em menos de um mandato
E os rácios? Foram reforçados
Com os resultados a passarem de negativo para positivo, os rácios de capital foram melhorando. Mas decisivo para que o banco fosse fortalecido foi mesmo o aumento de capital de 250 milhões de euros, totalmente subscrito pelo único acionista, a Mutualista. Uma operação, realizada no ano passado, que permitiu elevar os rácios de capital da Caixa Económica para “o nível dos demais bancos do sistema com melhores rácios de capital”, garantiu então Félix Morgado.
Mas Félix Morgado foi ainda mais longe, afirmando ao ECO que este reforço serviu “para acabar com as dúvidas” perante a instituição. O presidente executivo da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) revelou que este reforço respondeu “não só às exigências do regulador, como também às recomendações”, o que permitiu, além de reforçar os rácios, travar uma fuga de depósitos. Em 2016, os depósitos caíram de 12.969 milhões de euros no ano anterior para 12.468 milhões de euros. Um montante que cresceu para 12.561 milhões no final de 2017.
Malparado continua a ser um desafio
Apesar de ter conseguido colocar o banco novamente a dar lucros, com rácios reforçados e ter recuperado a confiança dos depositantes, há um desafio que ainda tem de ser superado, mas já por Carlos Tavares: o elevado nível de malparado no balanço da instituição financeira. No final de 2017, o rácio de crédito em incumprimento era de 9,8%, uma melhoria face aos 11,5% registados no final de 2016.
“O banco revelou uma melhoria muito significativa dos rácios de capital depois da injeção de capital por parte da Associação Mutualista, em junho de 2017”, afirmou a DBRS no final do ano passado. Mas, “embora este rácio esteja agora em linha com a maioria dos bancos portugueses”, o mesmo não acontece com o malparado. “O nível de Non-Performing Assets continua mais elevado em relação aos pares e vulnerável à capacidade do banco de avançar com reduções suficientes” destes ativos em incumprimento.
Um futuro com mais acionistas
Carlos Tavares terá de lidar com o malparado naquele que, agora, será um banco social. Com a Oferta Pública de Aquisição lançada pela Associação sobre as unidades de participação do Montepio que estavam em bolsa, deu-se “um importante passo para dar corpo à estratégia de tornar a CEMG na Instituição Financeira da Economia Social, podendo assim contribuir ativamente para o desenvolvimento do nosso país”, afirmou, então, Tomás Correia.
Para conseguir garantir a criação de um banco de economia social, o Montepio terá novos acionistas. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e as restantes misericórdias e IPSS vão ficar com 2% do banco por 50 milhões, uma entrada no capital que deverá ser gradual, como confirmou fonte oficial da Santa Casa ao ECO.
Agora, será necessário fazer uma boa gestão do malparado de forma a que este não comprometa uma das métricas que Tomás Correia definiu para a administração: gerir o banco no sentido de continuar a apresentar resultados positivos de forma a dar dividendos aos seus donos, seja a Mutualista, sejam as misericórdias ou as IPSS. O presidente da Associação Mutualista pede uma “remuneração adequada”.
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