Mudança da hora: e se Portugal acordasse com o fuso horário de Nova Iorque?
A hora vai mudar este domingo, algo obrigatório na UE -- já trocar para o fuso horário de Nova Iorque, é possível. Por cá, há uma "Comissão da Hora" para avaliar. Conheça estas e outras curiosidades.
Este domingo muda a hora. É só, literalmente, uma hora a mais nos relógios, mas a questão não é assim tão simples — que o diga o presidente da Comissão Permanente da Hora em Portugal, Rui Jorge Agostinho. Esta comissão existe para ajudar o Governo quando o assunto é a mudança de hora, numa altura em que a discussão está lançada na Europa. Para já, Portugal é obrigado pela UE a avançar os ponteiros, mas o fuso horário é uma decisão política. “Posso querer viver à hora de Nova Iorque“, ilustra Rui Agostinho. O exemplo é irrealista, mas Portugal já esteve alinhado com a Alemanha.
Se os portugueses quisessem acordar ao mesmo tempo que os nova-iorquinos, a medida só estaria sujeita à votação dos deputados no Parlamento e, depois, ao sim de Belém, como qualquer decreto-lei, explica o professor Rui Agostinho. Já quando chega ao verão, os países da UE concordaram “acertar-se” e rodar os ponteiros no mesmo sentido. A Comissão Europeia está agora a fazer uma avaliação cautelosa desta prática secular.
Em Lisboa, seria a Comissão Permanente da Hora a proceder ao mesmo estudo, se necessário. É “um órgão consultivo do Governo da República, depende do Observatório Astronómico de Lisboa e tem por finalidade estudar, propor e fazer cumprir as medidas de natureza científica e regulamentar ligadas ao regime de hora legal e aos problemas da hora científica”, lê-se no site. Rui Agostinho é o diretor do Observatório Astronómico de Lisboa, e por isso foi nomeado presidente da comissão. É acompanhado pelo membro mais antigo do Observatório e, finalmente, por representantes de todos os ministérios.
Em Portugal, a mudança acontece à 01h00 da manhã da madrugada deste domingo, 25 de março. Contudo, “os países podem mudar a hora em dias diferentes, durante três semanas”, explica José Afonso, que trabalha no Observatório Astronómico de Lisboa. “Isto, para os países que o fazem. O Havai, que tem um clima bastante temperado, não sente necessidade. Perto da linha do Equador nenhum país faz a mudança“, assinala o especialista. “Queremos o meio-dia à altura do ponto mais alto do sol”, e estes países são os que menos sentem alterações na posição relativa do sol, acrescenta.
Hora científica vs hora social
“Há a hora científica — a dada pelo sol — e depois, a hora social, que está sujeita aos interesses“, retorna Rui Agostinho. Mas que interesses podem existir por detrás das horas? “Se faço muitos negócios com Espanha, é conveniente o horário espanhol. Se tenho muitos visitantes alemães, já prefiro coordenar com as horas alemãs”, ilustra o professor. Em termos de luz solar, o horário de Nova Iorque não faria qualquer sentido. Mas os portugueses já tiveram de viver no fuso alemão, sem se habituarem: “No passado chegámos a adotar a hora da Europa central”, conta o professor. “No início do inverno havia estrelas no céu às 8h da manhã, o que afetava a produtividade e às 23h ainda havia luz solar, que não deixava dormir”. Os portugueses recuaram passados cerca de três anos.
O ruído criado pela mudança da hora sobrepõe-se ao tiquetaque dos relógios. Os estudos apontam como efeitos os problemas de sono, stress e até ataques cardíacos. Mas “não existe uma certeza” relata José Afonso. Por este motivo, “o horário de verão não faz grande sentido”, opina, sobretudo tendo em conta que a poupança de energia é residual. “Quando o consumo era determinado pelas lâmpadas, justificava-se. Hoje, aparelhos de ar condicionado, computadores e frigoríficos ficam ligados todo o dia”, aponta.
Quer ser pontual? Tente a Apple, diz a “Comissão da Hora”
O Observatório Astronómico de Lisboa está o “relógio fundamental”, um relógio atómico que é acertado à distância — mais propriamente a partir do espaço, através de um GPS –, de forma de garantir que está certo e coordenado com os do restante globo. A precisão vem com várias casas decimais: é de 0,0000000001 segundos. E pode ser consultado online, sendo que informa também do desfasamento para a hora do dispositivo a partir de onde se acede.
“O relógio de pulso da Apple utiliza o Network Time Protocol (NTP), pelo que está sempre a atualizar a hora”, exemplifica Rui. Está ao nível da bolsa de valores, que também usa o mesmo sistema, à semelhança de qualquer entidade onde o tempo seja crucial. Já os computadores Windows só atualizam a hora cerca de uma vez por semana pelo que são menos eficientes.
Para os restantes é preciso não esquecer: os ponteiros do relógio avançam uma hora às 01h00 da manhã da madrugada deste domingo, 25 de março.
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