O que surpreendeu o Banco de Portugal no PIB de 2017?

A aceleração do investimento e das exportações tramaram as projeções que o Banco de Portugal tinha apresentado há um ano para a economia portuguesa.

No início do ano passado já se notava a aceleração da economia no seguimento de um quarto trimestre de 2016 mais forte. Mas os dados ainda eram escassos. Nessa altura, o Banco de Portugal estimava um crescimento económico de 1,8%. Um ano depois, o INE revelou que o PIB cresceu 2,7%. O que justifica a diferença de 0,9 pontos percentuais? O investimento empresarial e as exportações de serviços relacionados com o turismo.

O aumento pronunciado das exportações em 2017 foi parcialmente inesperado, contribuindo em larga medida para o erro na projeção para o crescimento do PIB em 2017 elaborada pelo Banco de Portugal há um ano atrás”, escreve o Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal na atualização das projeções para o período de 2018-2020.

Dentro das exportações destaca-se o turismo cujas vendas ao exterior cresceram 15,4%, “o que constitui uma das taxas de crescimento mais elevadas desde o início dos anos 90”, nota o BdP, referindo que esta taxa só é comparável a que se verificou no ano da Expo98. O turismo impulsionou os serviços à volta deste, como é o caso das passagens áreas. Por fim, o contributo decisivo da aceleração das exportações de bens (cresceram 10,1%), excluindo os energéticos.

Mas as surpresas continuam. Numa autoanálise às projeções feitas em março do ano passado, o Banco de Portugal evidencia os principais fatores explicativos do desvio entre a evolução do PIB observada e a projetada. As exportações foram realmente a surpresa principal com o maior erro de projeção. Mas logo a seguir vem o investimento, cuja componente empresarial acelerou fortemente graças à confiança dos agentes económicos.

“Pela análise do quadro conclui-se que a subestimação do crescimento das exportações de bens e serviços foi o principal fator explicativo do erro de projeção na taxa de crescimento do PIB”, refere o Banco de Portugal, explicando que “esta subestimação está associada aos ganhos de quota de mercado das exportações observados em 2017, que ascenderam a 3,2%, o que contrasta com uma projeção de 1,9%”.

Já em relação ao investimento, o Banco de Portugal escreve que “o comportamento mais dinâmico do que o antecipado destas componentes reflete essencialmente a evolução do consumo de bens duradouros e do investimento privado, num contexto de melhoria da confiança dos agentes económicos ao longo de 2017 para valores próximos dos máximos históricos disponíveis”.

Contudo, a equipa técnica do Banco de Portugal deixa um aviso: “Os desvios entre as taxas de crescimento observadas e projetadas, vulgarmente designados por ‘erros de projeção’, resultam não apenas do facto de as hipóteses incorporadas no exercício de projeção poderem não se materializar, mas ainda de fatores relacionados com os próprios modelos e com os elementos de julgamento incorporados na projeção”.

O próprio Governo quando desenhou o Orçamento do Estado para 2017 (OE2017), em outubro de 2016, esperava um crescimento económico de 1,5% em 2017. Depois da aceleração verificada no quarto trimestre de 2016, a economia continuou a um bom ritmo, tendo chegado a atingir os 3% no segundo trimestre de 2017. A evolução levou o Governo a rever em alta a meta, em outubro de 2017, para 2,6%. No mês passado, o INE revelou o número final: o PIB cresceu 2,7% em 2017.

Não foi só o Banco de Portugal ou o Governo a fazer uma previsão errada. O mesmo ocorreu com outras instituições. Em março de 2017, o Conselho das Finanças Públicas estimava que o PIB ia crescer 1,8%, tendo depois revisto em alta em setembro para 2,7% acertando naquele que viria a ser o número final. Em fevereiro de 2017, a Comissão Europeia previa um crescimento económico de 1,6%.

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