Desde a troika já saíram mais de 10 mil trabalhadores da banca

  • Rita Atalaia
  • 19 Abril 2018

A banca continua a encolher. Desde a crise financeira já saiu perto de um quinto dos trabalhadores e fecharam centenas de balcões. Uma redução que vai continuar nos próximos anos. Números são da APB.

A banca continua a encolher. E uma das faces mais visíveis desse ajustamento é o número de colaboradores que, desde a chegada da troika a Portugal, já levou à saída de mais de 10 mil trabalhadores do setor. Só no último ano, os bancos perderam mais 700 funcionários, o dobro dos balcões que fecharam portas. Apesar da redução substancial do número de colaboradores, o ritmo de saídas tem desacelerado, ao contrário do fecho de agências que continua a aumentar.

A crise financeira deixou marcas no setor bancário nacional. Foi preciso reduzir as estruturas, nomeadamente o número de funcionários e as agências em funcionamento, para diminuir os custos. Cortes que ganharam ainda mais força quando os bancos tiveram de começar a implementar planos de reestruturação definidos com Bruxelas para, como foi o caso da Caixa Geral de Depósitos (CGD), receberem injeções de capital.

Desde 2011, ano que foi marcado pelo pedido de resgate de Portugal à Comissão Europeia, saíram cinco pessoas por dia dos balcões das instituições financeiras. Os bancos perderam, ao todo, 10.630 colaboradores, seja por saídas naturais, acordos por mútuo acordo ou reformas antecipadas, de acordo com a síntese de indicadores do setor bancário da Associação Portuguesa de Bancos (APB). As restruturações em cursos em vários bancos indicam que a tendência de ajustamento do mercado vai continuar nos próximos anos, mas não à mesma velocidade.

Saíram mais de 10 mil trabalhadores da banca desde a troika

Fonte: Associação Portuguesa de Bancos | Valores em milhares de euros

Apesar de continuarem a sair funcionários do setor, o ritmo abrandou nos últimos três anos — atingiu a variação mas baixa desde o início da crise no ano passado. O mesmo não se pode dizer do encerramento de balcões: entre 2016 e 2017 fecharam 332 agências. Desde a crise são quase menos 2.000. Uma redução que pode ser explicada pela política de corte de custos, mas também pela adaptação a uma nova realidade: a digitalização da banca. “O futuro na banca depende muito menos de balcões e muito mais de digitalização”, referiu o presidente da CGD, Paulo Macedo numa conferência em setembro, afirmando ainda que os “bancos estão, e bem, a adaptar as suas estruturas para responder aos clientes”.

O encerramento de balcões é uma situação transversal a todos os bancos. Mas é mais pronunciada em determinadas entidades devido aos planos de reestruturação. A CGD, por exemplo, encerrou 64 agências no ano passado. E, este ano, vai fechar mais 70 até ao início do verão. O Novo Banco também está a acelerar o encerramento de balcões. Só este mês, o banco liderado por António Ramalho vai fechar 35 balcões, um número que vai aumentar para 73 até ao final do ano. Assim, até à chegada do verão, haverá uma redução expressiva no número de balcões entre os maiores bancos nacionais.

Há cada vez menos balcões

Fonte: Associação Portuguesa de Bancos | Valores em milhares de euros

Menos funcionários, menos balcões… menos malparado

Os bancos não estão apenas a implementar planos para reduzir o número de funcionários e de balcões. As instituições financeiras têm outro processo de “limpeza” em curso: diminuir o crédito malparado, um “fardo” que ainda pesa muito no balanço. E os resultados estão à vista: os chamados NPL (ou crédito malparado) situaram-se, em termos líquidos, nos 25.359 milhões de euros em 2016. Caíram para 18.776 milhões de euros no ano passado, segundo a síntese de indicadores económicos da APB.

Créditos em incumprimento estão a diminuir

Fonte: Associação Portuguesa de Bancos

Por outro lado, o rácio de cobertura de NPL também foi reforçado. Passou para 49,3% em 2017, um valor que compara com os 45,3% registados em 2016 e com 40,8% em 2015. Isto enquanto o rácio de NPL ficou nos 13,3% (face a 17,2% no ano passado), um valor ainda elevado para os padrões europeus. Segundo a DBRS, e considerando o ritmo atual de redução destes empréstimos em incumprimento, os bancos nacionais vão precisar de pelo menos mais quatro anos para que os rácios de NPL fiquem abaixo dos 5%, em linha com os critérios da Autoridade Bancária Europeia.

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