“Acordo secreto” UE-França deixa défice derrapar
Durão Barroso e Juncker permitiram que França apresentasse previsões de défices "intencionalmente falsas" para maquilhar as contas e, assim, escapar ao Procedimento por Défices Excessivos.
Um alegado “acordo secreto” entre a Comissão Europeia e o Governo francês permitiu a François Hollande não olhar para o défice. Em França, as metas europeias não são para ser cumpridas. É esta a revelação — que não foi desmentida – do livro “Um Presidente não deveria dizer isso”, noticia o Expresso Diário.
Durão Barroso e Jean-Claude Juncker deixaram que França apresentasse previsões de défices “intencionalmente falsas” para maquilhar as contas e, assim, escapar ao Procedimento por Défices Excessivos (PDE), ao qual Portugal, entre outros países, está sujeito. A situação acontece desde que François Hollande foi eleito Presidente em 2012.
As revelações são da autoria de dois jornalistas de investigação do jornal le Monde, Gérard Davet e Fabrice Lhomme. No livro, os autores escrevem que “durante todo o quinquénio, as autoridades francesas apresentaram com efeito previsões do défice intencionalmente falsas, e isso com a aprovação das próprias autoridades europeias”. Ou seja, da Comissão Europeia e, provavelmente, do Eurostat que é quem apura os défices anuais dos Estados-membros.
Durante todo o quinquénio, as autoridades francesas apresentaram com efeito previsões do défice intencionalmente falsas, e isso com a aprovação das próprias autoridades europeias.
“Eles (na Comissão) disseram-nos: o que vos pedimos é que apontem para 3% e o que vos concederemos é uma certa bondade sobre o ritmo da vossa trajetória”, admitiu François Hollande aos dois jornalistas. Houve “benevolência sobre os números que tínhamos apresentado”, disse: “Eles sabiam que não atingiríamos os 3% em 2015!”.
Segundo Hollande, a Comissão Europeia pediu para apontarem para os 3% para poder “fazer frente a outros países”, prometendo não “atacar” os números franceses. O objetivo era inibir outros países da Zona Euro de pedirem a mesma exceção ao PDE e, por isso, perturbar a união monetária.
Quando confrontado pelos jornalistas sobre se Hollande faz o que quer com a Comissão, o Presidente francês respondeu que “é o privilégio dos grandes países (…) os europeus sabem que precisam de nós e portanto isso paga-se”.
Além de referir o défice fictício, o livro revela informações comprometedoras sobre elementos do Governo e pessoas ligadas ao partido socialista francês. Ao todo foram cinco anos de investigação, com 61 entrevistas e mais de 100 horas de entrevistas a Hollande, refere o Expresso.
Editado por Mónica Silvares
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