Que competências têm os 17 gestores que vão mandar no BCP? Da inteligência artificial à capacidade de gerir crises
O que dizem deles próprios? Que competências têm? De onde vêm? Que línguas falam? Quantas ações do BCP têm em carteira? Esta é a lista dos novos administradores do BCP.
De 19, o conselho de administração do BCP emagreceu para 17, tal como o Jornal Económico e o ECO já tinham antecipado. Não por vontade dos maiores acionistas — Fosun e Sonangol — mas por imposição do Banco Central Europeu, sendo que os estatutos do banco preveem um mínimo de 17 e um máximo de 25 administradores a serem eleitos pela assembleia geral (AG).
Em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a instituição bancária desvendou esta terça-feira os nomes que vão para aprovação na AG de 30 de maio. Outra das novidades é que, se os acionistas assim o entenderem, o mandato passará a ter a duração de quatro anos, face aos atuais três.
Da lista de administradores proposta para aprovação, a mudança mais relevante processa-se na cúpula, com a troca da cadeira de CEO entre Nuno Amado e Miguel Maya. Amado passa a chairman e ocupa o lugar do embaixador António Monteiro. Miguel Maya — que com os seus 22 anos de BCP conhece bem os cantos à casa — passa a CEO por proposta do acionista chinês Fosun, do angolano Sonangol e do Fundo de Pensões da EDP. Recorde-se que António Mexia também deixará de fazer parte do board do BCP.
Dos 17, a esmagadora maioria são homens: 13 contra apenas quatro mulheres. E dos 17, seis vão sentar-se à mesa da comissão executiva: Miguel Maya, João Nuno Palma, José Miguel Pessanha, Maria José Campos, Miguel de Bragança e Rui Miguel Teixeira. Até agora eram oito os executivos: saem José Jacinto Iglésias Soares e Maria da Conceição Callé Lucas.
Na CMVM, o banco também depositou o currículo de cada um dos 17 novos administradores, bem como o número de ações detidas. Esta é a equipa que vai comandar os destinos do maior banco privado português nos próximos quatro anos: uns são poliglotas, outros nem por isso, vêm dos quatro cantos do mundo, têm naturalmente muita experiência em banca e até há um que tem “conhecimento profundo em algoritmos de inteligência artificial”.
Nuno Amado
Presidente do conselho de administração
Nº de ações: 1.025.388
Nuno Amado veio do Banco Santander Totta para o BCP e liderou os destinos do banco nos últimos anos. Passa de CEO a presidente do conselho de administração, devendo ficar com poderes reforçados face a um chairman tradicional. Deve ficar com a pasta da internacionalização. Ainda foi Nuno Amado que deu a cara pelos lucros do BCP no arranque do ano que dispararam 70%.
No CV, Amado puxa dos galões, e enaltece os “fortes conhecimentos do setor e da atividade bancária”. Descreve assim as suas competências relacionadas com o trabalho:
- “Capacidade de resiliência”;
- “Capacidade de gestão em situações de crise profunda e prolongada”;
- “Capacidade de fazer ‘pontes’ em situações de alguma divergência”.
Esta última qualidade será particularmente útil num banco cujos maiores acionistas têm culturas muito diferentes: os chineses da Fosun (com 27,06% do capital) e os angolanos da Sonangol (com 19,49%).
Em relação a línguas, Amado coloca a nota quase máxima — C1 — no domínio das línguas inglesa, francesa e espanhola.
Norberto Rosa
Presidente da comissão de auditoria
Nº de ações: 0
Norberto Rosa, 63 anos, passou pelo Banco de Portugal e pela Caixa Geral de Depósitos. Também foi secretário de Estado do Orçamento num governo PSD, quando Manuela Ferreira Leite era ministra das Finanças. É dos poucos que ainda apresenta o CV à moda antiga e não no modelo europeu. Como atividades “não lucrativas” destaca a publicação do livro “Vamos conseguir pagar a nossa dívida pública? O que devemos fazer?”
Cidália Lopes
Vogal da comissão de auditoria
Nº de ações: 2.184
Cidália Lopes, 46 anos, é professora na Coimbra Business School — Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra e convidada da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Foi membro dos Grupos de Trabalho para a Simplificação Fiscal e para a Política Fiscal, Competitividade e Eficiência do sistema fiscal em Portugal, do XVII Governo Constitucional.
Valter Barros
Vogal da comissão de auditoria e vice-presidente do conselho de administração
Nº de ações: 0
Segundo uma nota do banco, Valter Barros, 54 anos, “foi responsável pelos departamentos de IT do Banco Comercial Angolano e do Banco Totta de Angola, foi professor na Escola de Economia e Gestão da Universidade Católica de Angola e da ASM – Angola School of Management”.
Wan Sin Long
Vogal da Comissão de Auditoria
Nº de ações: 0
O CV vem com a indicação de “Confidencial”, mas está publicado no site da CMVM. Sin Long Wan, 52 anos, desempenhou, entre outras, funções de gestão e direção no China Construction Bank, foi vice-diretor de divisão do JianSing Bank em Hong Kong e foi assessor do secretário da Economia e Finanças do governo de Macau. Além da língua materna, — o chinês, — diz dominar o inglês.
Miguel Maya
Presidente da Comissão Executiva
Nº de ações: 361.408
É o homem que se segue. Está no BCP desde 1990 e já desempenhou muitos cargos no banco. No CV, Maya destaca 28 cargos que já ocupou no banco ou em empresas associadas. Domina o inglês e espanhol (C1), e o francês mais ou menos (A1).
Miguel Maya, 53 anos, destaca no seu CV a “experiência e boa capacidade de diálogo com as Autoridades (MoF, BdP, BCP, CMVM) e stakeholders”.
E as competências relacionadas com o trabalho? Maya destaca:
- “Capacidade de resiliência”;
- “Capacidade de gestão em situações de crise profunda e prolongada”;
- E, tal como Nuno Amado, destaca a “capacidade de fazer ‘pontes’ em situações de divergência”.
Ana Paula Gray
Administradora não executiva
Nº de ações: 0
Gray, 56 anos, é “diretora não executiva do Banco Angolano de Investimentos. Foi Gestora no Investec Bank em Joanesburgo, Londres e Hong Kong, vice-chairman não executiva do Banco Sul Atlântico, IFI, de Cabo Verde, vice-chairman e diretora executiva do Banco BAI Europa.”
João Nuno Palma
Administrado executivo e vice-presidente da comissão executiva
Nº de ações: 32.695
Foi administrador financeiro da Caixa Geral de Depósitos até 2016 e é gestor do BCP desde 2017. O ser CFO no banco público terá ajudado às “competências de comunicação” de Palma, adquiridas em “conferências de imprensa, reuniões com analistas, reuniões com investidores estrangeiros e road shows”.
Jorge Magalhães Correia
Administrador não executivo
Nº de ações: 88.500
Atualmente é chairman e CEO da Fidelidade e desempenha ou desempenhou vários cargos em empresas como a Multicare, HPP – Hospitais Privados de Portugal, Luz Saúde, REN e Banco Pinto & Sotto Mayor. “Foi assessor da Comissão de Reforma do Tesouro (1990), gestor na CMVM e desempenhou várias funções na área das seguradoras”, diz uma nota biográfica do banco.
É “representante” dos chineses da Fosun em Portugal, o maior acionista do BCP, que o escolheram para liderar a Fidelidade. A Luz Saúde também é dos chineses da Fosun.
José Costa
Administrador não executivo
Nº de ações: 0
José Elias da Costa, 65 anos, foi administrador executivo do Santander Totta e foi ainda secretário de Estado da Construção e Habitação e secretário de Estado das Finanças nos governos de Cavaco Silva.
José Miguel Pessanha
Administrador executivo
Nº de ações: 1.748
É mais uma recondução no board e também tem a carreira feita no BCP onde já desempenhou vários cargos.
Nas competências relacionadas com o trabalho, Pessanha diz ter “conhecimento profundo de técnicas de modelização, de tratamento computacional de dados, desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial, de gestão bancária, de técnicas contabilísticas e da regulamentação que enquadra a atividade bancária”
Maria José Campos
Administradora executiva
Nº de ações: 96.240
Maria José de Campos, 51 anos, foi administradora executiva no Bank Millennium, na Polónia, responsável pela área de tecnologias. Iniciou a carreira nos Correios e Telecomunicações de Macau, tendo passado pelo Banco Comercial de Macau (subsidiária do Millennium bcp).
Tal como Pessanha, também domina a área tecnológica. Diz que é “oradora e participante frequente em painéis sobre tecnologia, banca digital e Fintech” e ganhou o Prémio Market Visionay 2017 “pela aplicação inovadora e estratégica de novas tecnologias à banca”.
Miguel de Bragança
Administrador executivo
Nº de ações: 365.968
É mais um repetente na administração executiva, onde tinha um dos pelouros mais importantes, o de CFO. Veio com Nuno Amado do Santander Totta e chegou ao BCP em 2012.
Além do inglês, francês, e espanhol, Miguel de Bragança domina ainda o alemão. E competências de organização? Destaca a “capacidade de liderança alicerçada numa experiência particularmente variada em termos de funções e mercados, bem como na participação em diferentes projetos empresariais desafiantes, que consistentemente atingiram os respetivos objetivos”.
Rui Miguel Teixeira
Administrador executivo
Nº de ações: 36.336
Mas um gestor “da casa” e com carreira feita no BCP. Tem fortes ligações ao setor dos seguros.
Teófilo da Fonseca
Administrador não executivo
Nº de ações: 36
Mais uma “importação” da Caixa Geral de Depósitos e com experiência internacional. Fonseca, 51 anos, foi coordenador da CGD em Moçambique, vice-diretor-geral da CGD Timor-Leste, deputy chief of corporate development do Banco Caixa Geral Espanha e membro do comité executivo do Banco Caixa Geral Totta Angola. Mais recentemente, foi diretor adjunto da divisão internacional do Grupo CGD.
Xiao Xu Gu (Julia Gu)
Administradora não executiva
Nº de ações: 0
Xiaoxu Gu, 47 anos, é mais um nome indicado pelos chineses da Fosun. Desempenhou vários cargos para o Governo de Shanghai. Foi vice-diretora-geral no Shanghai Huaxia Bank e Managind Director da All in Pay Network Services. É igualmente membro da administração do MYBank, presidente da Zhangxingbao (Shanghai) Network Technology e vice-presidente do Grupo Fosun.
Xu Lingjiang
Administrador não executivo
Nº de ações: 0
Também entra na quota dos chineses e no BCP já desempenhava funções como vogal na comissão de nomeações e remunerações.
Na administração, é dos que pode falar alemão com Miguel de Bragança já que tem o bacharelato em língua alemã da Foreign Studies Unversity, em Pequim.
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