Banco de Portugal alerta para sobrevalorização das casas. A culpa é do turismo, mas banca pode pagar fatura
A subida dos preços das casas, à boleia do turismo, não preocupa por agora o Banco de Portugal, embora haja sinais de sobrevalorização. E se o turismo perder força, há risco para a banca.
Portugal continua a atrair muitos turistas. Cada avião que aterra nos aeroportos portugueses traz dinheiro que ajuda a acelerar a economia, mas também faz subir os preços das casas para máximos atrás de máximos. Uma escalada que ainda não é preocupante, na perspetiva do Banco de Portugal. Contudo, há sinais de sobrevalorização. E caso o boom no turismo perca força, há riscos: uma correção no valor dos imóveis pode acabar por pôr em causa a estabilidade do sistema financeiro nacional.
“Em Portugal, tem-se observado um período continuado de aumento dos preços no mercado imobiliário”, refere o Banco de Portugal no relatório de estabilidade financeira divulgado esta quarta-feira. O regulador dá, assim, conta da evolução dos preços dos imóveis, cujo valor não para de subir, atingindo máximos desde antes do resgate a que o país foi sujeito em 2011.
"Na segunda metade de 2017 começaram a existir sinais de alguma sobrevalorização, ainda que limitada, dos preços do mercado imobiliário residencial em Portugal.”
“Na segunda metade de 2017 começaram a existir sinais de alguma sobrevalorização, ainda que limitada, dos preços do mercado imobiliário residencial em Portugal”, afirma o Banco de Portugal. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística, a tendência mantém-se — a avaliação bancária de imóveis chegou a 1.171 euros por metro quadrado em abril, um máximo do verão de 2010. No caso de persistência desta dinâmica, há “riscos para a estabilidade financeira”, alerta.
O Banco de Portugal explica que “não existe evidência que o crédito bancário esteja a ser o determinante primordial do aumento dos preços no mercado imobiliário em Portugal”. De quem é a culpa? É do turismo.
“O forte crescimento dos preços do imobiliário residencial (…) tem sido impulsionado pelo turismo e pelo investimento direto por não residentes, podendo a sua inversão alterar esta dinâmica”, alerta o regulador. Não só há cada vez mais estrangeiros a comprarem casa para viver em Portugal, como há uma crescente aposta por parte de investidores no alojamento local.
Tal como a economia, como alertou o Conselho de Finanças Públicas e o FMI, também a estabilidade financeira está refém da manutenção do bom momento do turismo, isto numa altura em que apesar de o país continuar a registar recordes em termos de receita com quem visita o país, o ritmo de crescimento deste setor começa a dar sinais de abrandamento.
"O forte crescimento dos preços do imobiliário residencial (…) tem sido impulsionado pelo turismo e pelo investimento direto por não residentes, podendo a sua inversão alterar esta dinâmica.”
Uma “quebra de receitas associadas ao turismo e à dinâmica do alojamento local poderá conduzir, numa primeira fase, a dificuldades por parte dos mutuários no cumprimento do serviço da dívida”, não só porque aqueles que dependem diretamente deste negócio perdem fonte de rendimento, como a economia ressentir-se-ia, o que levaria à quebra de rendimento das famílias.
Numa segunda fase, nota Carlos Costa, o abrandamento do turismo levaria “à venda de ativos imobiliários e consequente efeito na correção em baixa dos preços”. E “um decréscimo dos preços do mercado imobiliário iria acarretar a redução do valor do colateral dos empréstimos concedidos pelo setor bancário residente”.
“A relevância de investidores não residentes neste mercado aumenta a sua vulnerabilidade [a da banca] à atuação destes investidores, dado o ajustamento mais célere que os tende a caracterizar. Em particular, uma reversão abrupta e acentuada da procura por parte de investidores internacionais”, alerta Carlos Costa, notando que além da pressão sobre os preços, também “dificultaria a redução dos imóveis e dos NPL [crédito malparado] no balanço”.
Assim, “muito embora os bancos portugueses não estejam a ser os principais dinamizadores deste mercado, um eventual decréscimo acentuado de preços no mercado imobiliário teria efeitos negativos sobre o setor bancário”, nota o regulador que demonstra mais preocupação com a reversão do fenómeno do turismo do que propriamente com a inversão do ciclo de taxas de juro do Banco Central Europeu. “A normalização da política monetária (…) tenderá a ter efeitos bastante mais limitados, já que se espera que ocorra de forma gradual”.
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