Dependência do turismo pode limitar crescimento de Portugal, alerta FMI

"A dependência do setor do turismo deixa Portugal vulnerável a choques externos", diz o FMI. E essa exposição deverá até aumentar no médio prazo.

A economia portuguesa fortaleceu-se e o crescimento foi maior do que o esperado. O produto interno bruto (PIB) nacional deverá crescer mais de 2% este ano, depois de já ter acelerado 2,7% em 2017, mas há riscos, internos e externos, que poderão condicionar este crescimento. Um deles é a dependência do turismo, que deixa Portugal “vulnerável a choques externos”, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI) no relatório da 6.ª Avaliação Pós-Programa, feita no final do ano passado.

“Ainda que as perspetivas para o curto prazo tenham melhorado, o endividamento das empresas, das famílias e do Estado continua elevado”, começa por apontar o FMI no relatório divulgado esta sexta-feira. Assim, sem reformas, “o crescimento económico deverá abrandar a médio prazo, antecipa a instituição.

A condiconar o crescimento a médio prazo poderá estar, entre outros fatores, a elevada exposição de Portugal a choques externos, nomeadamente no que toca ao turismo. “A dependência do setor do turismo deixa Portugal vulnerável a choques externos. O setor do turismo beneficiou de desenvolvimentos geopolíticos que aumentaram a atratividade de Portugal relativamente a destinos concorrentes”, salienta a instituição.

"A dependência do setor do turismo deixa Portugal vulnerável a choques externos. O setor do turismo beneficiou de desenvolvimentos geopolíticos que aumentaram a atratividade de Portugal relativamente a destinos concorrentes.”

Fundo Monetário Internacional

Relatório da 6.ª Avaliação Pós-Programa

O boom do turismo em Portugal, resultante de fatores como a abertura de novas rotas aéreas e de um investimento significativo em campanhas internacionais de captação de turistas, já vem desde 2014, ano em que os principais indicadores turísticos começaram a crescer a um ritmo de dois dígitos. Mas coincide também com eventos externos, como a instabilidade política no norte de África ou o maior número de ataques terroristas em países europeus, que contribuíram para atrair novos mercados para Portugal. Seja como for, a Estratégia Turismo 2027, desenhada pelo atual Governo, antecipa que o setor continue a crescer todos os anos, ainda que reconheça uma desaceleração deste crescimento para uma média de 4% ano. Em 2017, o número de hóspedes e de dormidas aumentou 8,9% e 7,4%, respetivamente, enquanto as receitas turísticas dispararam 19,5%.

O FMI, por seu lado, antecipa até que a dependência do turismo venha a aumentar a médio prazo. No ano passado, as receitas turísticas em Portugal ultrapassaram os 15 mil milhões de euros, um valor recorde. Já os portugueses gastaram 4,29 mil milhões de euros, ficando o saldo da balança turística nos 10,9 mil milhões em 2017. Assim, a balança turística respondeu por mais de 70% da balança de serviços, cujo saldo ascendeu a 15,6 mil milhões de euros no ano passado.

Já para este ano, a equipa de Alfredo Cuevas, novo líder da missão do FMI em Portugal, estima que a balança de serviços registe um saldo de 17,1 mil milhões de euros, dos quais 11,9 mil milhões (69,5%) provenientes do turismo. Já em 2023, o saldo da balança de serviços deverá fixar-se em 23 mil milhões de euros, enquanto a balança turística deverá ascender a 17,1 mil milhões, passando a responder por mais de 74% das receitas provenientes dos serviços.

Receitas turísticas ultrapassaram 15 mil milhões em 2017

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