Desigualdade de rendimentos agrava-se. Mais ricos ganham 11 vezes acima dos mais pobres
As famílias que mais ganham têm rendimentos onze vezes superiores aos daquelas que menos ganham. Quem o diz é o Banco de Portugal. Já a despesa varia nove vezes entre esses grupos.
Depois de ter registado uma ligeira melhoria, a desigualdade de rendimentos monetários entre as famílias portuguesas agravou-se em 2014. De acordo com os dados divulgados, esta quinta-feira, pelo Banco de Portugal (BdP), as famílias com rendimentos superiores chegaram mesmo a auferir onze vezes mais do que aquelas que menos ganharam.
“No caso do rendimento monetário, entre 2009 e 20014, houve um aumento da desigualdade entre os extremos da distribuição“, sublinha a instituição num dos destaques do Boletim Económico de junho. Em causa estão os rendimentos provenientes do trabalho, seja por conta própria ou de outrem, pensão ou outras transferências sociais ou ainda rendimentos de capital, propriedade e transferências privadas. Ou seja, ficam de fora os rendimentos obtidos pelos agregados através de recebimentos em géneros ou espécie.
Por outro lado, a nível da despesa monetária, apesar da diferença entre os que gastaram mais e os que gastaram menos ter diminuído, a disparidade ainda foi significativa: “em 2015, a despesa monetária no decil mais elevado [aqueles que gastaram mais] era cerca de nove vezes superior ao decil mais baixo [aqueles que gastaram menos]”, sublinha o documento. De acordo com o Banco de Portugal, a despesa média anual das famílias portuguesas, em 2015, foi de 8.925 euros
Segundo o mesmo relatório, as componentes não monetárias (como o autoconsumo e as rendas subjetivas) contribuíram para diminuir esta desigualdade.
O que mais pesa na carteira?
Alimentos, habitação, transportes e comunicações. Foram estas as principais áreas de despesa das famílias portuguesas, em 2015. O grupo das que gastou mais foi ainda caracterizado por um maior investimento em mobiliário, decoração, equipamento doméstico, restaurantes e hotéis.
Apesar desse segmento de famílias ter gasto cerca de nove vezes mais do que o das menos gastadoras, regista-se também alguma poupança neste grupo populacional. “Todos os decis poupam”, garante o BdP.
E por falar nas famílias que mais gastam, é de referir que a despesa média das que apresentam graus de ensino superior foi quase três vezes maior do que a das famílias com menores níveis de escolaridade.
Destaque ainda para a subida da despesa monetária, entre 2010 e 2015, daquelas que menos gastaram, que foi ainda acompanhada por um recuo dos rendimentos. Transportes, comunicação, saúde e educação foram as despesas que mais pesaram nas carteiras e explicaram a evolução nesse período.
De geração em geração, cada vez pior
“Para o mesmo nível educacional, [fica evidente] a regressão de cada geração face às gerações anteriores, quando tinham a mesma idade“, acrescenta o mesmo relatório. De 2010 a 2015, a despesa e o rendimento monetário das diferentes gerações registaram uma queda generalizada, sublinhando-se, contudo, que “cada uma delas estava relativamente pior do que a anterior”, isto é, um licenciado da geração e 1980-84 no início de carreira, por exemplo, ganhou significativamente menos do que um outro português com as mesmas habilitações da geração de 1970-74, na mesma etapa da sua carreira.
“A evolução da média da população incorpora uma forte transição intergeracional de educação”, explica o BdP, daí a diferença de rendimentos. Apesar dos retornos da educação terem diminuído, a instituição reforça que a “educação ainda compensa”.
Além da dispersão entre gerações, é no seio de cada geração, escalão educacional e etário que se verifica uma maior variação. “Apenas um terço da dispersão é explicada por diferenças etárias ou educacionais”. Porquê? Bem, essa dispersão resulta de uma acumulação de choques ao longo da vida ativa, conclui o BdP.
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