Uma alternativa à escassa oferta do mercado imobiliário são as casas pré-fabricadas. Construídas de raiz, há empresas que tratam do terreno e das licenças. E tudo numa questão de meses.
Numa altura em que o preço dos imóveis está em níveis históricos e a procura é cada vez maior do que a oferta, há quem pense — e quem ofereça — alternativas às tradicionais habitações. Desde as casas pré-fabricadas às idealizadas completamente de raiz recorrendo ao 3D, os custos são inferiores e o tempo de espera também quando comparados com a construção comum. No centro das principais cidades, estas casas são mais difíceis de encaixar, mas há quem garanta que valha a pena o esforço.
É certo que, numa altura em que os imóveis estão a ser transacionados a valores astronómicos, torna-se cada vez mais difícil encontrar uma casa à medida de cada um e, principalmente, que a carteira permita. O ECO reuniu três alternativas às casas tradicionais, e todas incluem uma casa construída de raiz para o cliente. Desde casas concebidas única e exclusivamente para cada um, a modelos predefinidos com possíveis alterações e até imóveis vindos diretamente da Estónia, os prazos de construção são mais curtos do que os das tradicionais e, por vezes, também os preços.
Casas adaptadas ao gosto de cada um
“A minha casa de sonho é aquela que estamos a construir“, conta ao ECO, Lúcia Guerra. Juntamente com o marido, decidiram que era hora de ter uma casa de família. Iniciaram então uma pesquisa sobre as várias oportunidades existentes no mercado, onde acabaram por encontrar o projeto Casa de Sonho Remax. “Andávamos à procura de modelos mas tínhamos a nossa ideia e o nosso plano de construção. Para além disso, queríamos ter algum acompanhamento“, explica Lúcia Guerra. O primeiro passo foi contactar a imobiliária, discutir pontos e arrancar com o plano.
Este projeto da Remax — iniciado em 2015 –, funciona em parceria com a Melom Obras, empresa de construção com uma componente de arquitetura e engenharia. Caracterizada pela sua “inovação durante todo o processo”, a Casa de Sonho disponibiliza aos clientes uma equipa de arquitetos, responsáveis por idealizar uma casa ao estilo de cada um, “desde as mais contemporâneas, às tradicionais”, etc.. Ao ECO, João Carvalho, arquiteto e diretor da Melom, explica que os imóveis construídos “podem ser modelados”. “Facilmente conseguimos transformar uma moradia T3 num T5, devido à sua arquitetura, que já foi pensada para que se trabalhe uma casa destas como se fosse modular”.
"Facilmente conseguimos transformar uma moradia T3 num T5, devido à sua arquitetura, que já foi pensada para que se trabalhe uma casa destas como se fosse modular.”
Resumindo, as casas construídas pela Melom Obras têm uma particularidade: a partir de um portefólio, o cliente pode escolher a casa dos seus sonhos, sendo que esta será adaptada à medida de cada necessidade — podem ser acrescentados quartos ou alterados certos aspetos arquitetónicos. De acordo com João Carvalho, estas casas “pré-fabricadas” apresentam duas vantagens: rapidez de construção — uma vez que o prazo estimado até estarem construídas é de um ano –, e o facto de serem mais económicas em relação à construção tradicional.
Lúcia Guerra e o marido foram um dos 1.300 pedidos de Casa de Sonho recebidos o ano passado pela construtora. “O acompanhamento é ótimo, porque penso que as pessoas têm dificuldade em conseguir acompanhar todo o processo de construção, desde o projeto ao licenciamento”, conta a mãe a tempo inteiro. Analisando todos os custos, Maria Guerra não acredita que seja uma opção mais barata, mas acredita que compensa: “Se tivesse optado pela construção mais comum poderia ter saído mais em conta, sem dúvida. Mas, a nível de materiais, estivemos a comparar e, de facto, em termos de qualidade-preço é bastante bom“.
A Melom Obras oferece aos clientes um portefólio com vários modelos e respetivos preços base, que incluem tudo, à exceção de piscina e muros. Caso não haja alterações no projeto, os preços não se alteram. João Carvalho explica que a construtora trata de tudo, incluindo o licenciamento, não tendo o cliente de se preocupar com nada.
É na zona de Coimbra que Lúcia Guerra e o marido, administrador na indústria farmacêutica, estão a construir uma moradia T3, “em forma de ‘L’ e super funcional”. Com três quartos — todos suítes –, quatro casas de banho e sala com cozinha, a Casa de Sonho deste casal vai custar cerca de 180 mil euros, um pouco mais do que o valor inicial devido a certas alterações que foram feitas. “Estou contente com o trabalho que está a ser feito. Temos as nossas ideias, o contacto com o arquiteto e temos sempre alguém com quem podemos contar. Isso para nós é fundamental”, diz Lúcia.
"Estou contente com o trabalho que está a ser feito. Temos as nossas ideias, o contacto com o arquiteto e temos sempre alguém com quem podemos contar. Isso para nós é fundamental.”
Do lado da Melom Obras e da Remax, João Carvalho destaca a forte adesão que o projeto tem tido, “talvez por falta de oferta do mercado”. Os pedidos vêm maioritariamente da zona norte do país e, os projetos que têm agora em mãos representam 8,5 milhões de euros em obras. Em média, 185 mil euros por cada construção.
Uma habitação exclusiva para cada cliente
Um projeto semelhante, mas com características um pouco diferentes é oferecido pela Century 21 Lifestyle. O projeto Chave na Mão antecipa desde logo o curto prazo que oferece aos clientes até terem, literalmente, a chave na mão. Sérgio Carvalho é arquiteto e responsável por “idealizar casas de sonho à medida de cada um, únicas e exclusivas“. Em conversa com o ECO, faz questão de explicar logo de início que não se fazem casas modulares nem pré-fabricadas num conceito de módulo”. “Fazemos tecnologias de modulação, que é completamente diferente”, diz, assegurando que o conceito que oferece é “totalmente diferente do do resto do mercado”.
O processo é bastante simples: o cliente indica à equipa de arquitetos o valor que tem disponível para investir e a zona onde gostaria de viver — convém relembrar que Lisboa é praticamente impossível pela falta de terrenos. A imobiliária inicia o processo de busca pelo terreno e, consoante o preço do mesmo, vai ser idealizada uma casa dentro daquele valor indicado pelo cliente — o chamado “controlo de custos”. “Connosco percebem tudo desde o início. Obtêm segurança e tranquilidade em todo o processo”, diz Sérgio Carvalho. E o valor que é pretendido investir já inclui todas as licenças e as comissões da imobiliária.
Uma das vantagens em optar pelo projeto “Chave na Mão” é a personalização, revela o arquiteto. “Não fazemos casas por catálogo, isto é, implementar uma casa forçosamente num terreno. Não respondemos a isso. Todas as nossas casas são únicas e exclusivas para cada família. Porque é praticamente impossível uma casa enquadrar-se bem em dois pontos diferentes do ponto de vista territorial”, explica.
"Não fazemos casas por catálogo, isto é, implementar uma casa forçosamente num terreno. Não respondemos a isso. Todas as nossas casas são únicas e exclusivas para cada família.”
“O cliente arranca com um investimento mínimo de 500 euros + IVA. Nessa fase, fazemos um estudo e escolhemos um terreno, onde é realizado um projeto com os indicadores que o cliente nos deu. Depois, desenhamos arquitetonicamente — em 2D e 3D –, e o cliente vai visualizando tudo. Se for aprovado, selecionamos todos os materiais definidos e mostramos-lhe. O cliente tem todas as ferramentas necessárias para tomar uma decisão com total segurança”, explica.
A partir do momento em que o cliente apresenta as ideias e condições, a equipa de arquitetos desenvolve o programa base em 15 dias úteis, considerado um “timing fabuloso”, nota Sérgio. Se este for aceite, começam a ser desenvolvidos os projetos para a câmara num prazo máximo de 60 dias. E, no que toca à construção, “está tudo controlado contratualmente”, por exemplo, uma vivenda com três quartos, com cerca de 150/200 m2, ronda os oito meses. Mas, em média, 12 meses.
Apesar de oferecer uma solução à pouca oferta no mercado imobiliário, a verdade é que implementar um projeto destes em Lisboa é verdadeiramente difícil, pela falta de terrenos. O arquiteto da Century 21 nota que tem visto vários clientes a saírem da capital para outras zonas, sendo que a maioria são “pessoas que não querem investir meio milhão de euros num apartamento, preferindo investir 200/250 mil euros e ter uma casa com mais qualidade de vida“.
"A maioria dos nossos clientes são pessoas que não querem investir meio milhão de euros num apartamento, preferindo investir 200/250 mil euros e ter uma casa com mais qualidade de vida.”
Sérgio Carvalho explica que cada caso é um caso, dependendo do tipo de materiais escolhidos mas, em média, uma vivenda T3 com três quartos, duas casas de banho, cozinha, eletrodomésticos incorporados e painéis solares ronda os 150 mil euros. “Com o mesmo valor, conseguimos adaptar-nos às necessidades de cada família”, diz. O projeto Chave na Mão oferece ainda a hipótese de mobilar e decorar a casa, através de parcerias com outras empresas, sendo que este serviço não está incluído no preço, bem como uma possível piscina.
Casas de madeira vindas da Estónia
Num conceito diferente ao apresentado pela Remax e pela Century 21, está o projeto da Norges Hus, uma empresa com sede na Estónia mas presente em toda a Europa. Especializada no fabrico e na montagem de casas de madeira pré-fabricadas, a Norges Hus constrói os imóveis em Tallinn e transporta-os posteriormente para os respetivos países. João Pedro Morais, responsável da empresa em Viseu, explica ao ECO o conceito: “São casas de madeira cujas paredes exteriores são compostas por pinho nórdico e lã de rocha“.
Raquel Silva é professora de Educação Física e sempre sonhou ter “uma casa em madeira, ecológica e confortável”. De um sonho presente há muitos anos, surgiu a ideia de procurar alguém que pudesse ajudar a concretizá-lo, e foi então que, após analisar várias empresas e não ficar satisfeita, decidiu viajar até à Estónia e visitar a fábrica da Norges Hus. “Fiquei encantada”, recorda. As obras na zona de Viseu arrancarão em breve, e Raquel espera ter a chave na mão dentro de quatro meses.
Analisando todo o portefólio disponível online, há casas para todos os gostos e feitios. Desde as mais “retas”, às tradicionais, o cliente tem disponível um conjunto variado de opções. Depois de escolhido o modelo, a empresa efetua o transporte para o local de implementação, sendo a casa “montada sobre uma base de betão previamente preparada no local, com o auxílio de uma grua, entre três a sete dias“, diz João Morais. Este tipo de construção pode ser feita à base de madeira, aço leve, betão ou até contentores, no entanto, a Norges Hus apenas trabalha com madeira.
“As nossas casas substituem em tudo uma habitação convencional e destinam-se a qualquer tipo de pessoa, pois podem ser terminadas de acordo com os gostos e poder económico de cada um”, continua o responsável. Entre as principais vantagens, destaque para o conforto — com as paredes com mais de 30 centímetros de espessura e a caixilharia com vidro triplo –, e o tempo de construção, que ronda os quatro meses. Contudo, João Morais reconhece que este tipo de construção ainda é “olhada com desconfiança” por certos países.
Relativamente ao aspeto exterior, o cliente tem duas opções: ripado de madeira à vista ou o tradicionalmente chamado de capotto, que deixa a habitação com um aspeto de ter sido feita a cimento. “O primeiro caso requer alguma manutenção, dependendo do local e das condições de exposição aos elementos naturais. O segundo não necessita de praticamente qualquer manutenção”, explica o responsável.
“A estrutura das casas Norges Hus tem uma classificação energética de topo, são esteticamente bonitas e totalmente personalizáveis”, diz Raquel Silva. Contudo, em relação às habitações tradicionais, ainda trazem certos inconvenientes: “O facto de ter de passar pelos mesmos processos burocráticos de uma construção tradicional que, por vezes, são demorados. E ainda o facto de, culturalmente, haver muita desconfiança ou desconhecimento por parte das instituições de crédito na construção que fuja dos padrões”.
"A estrutura das casas Norges Hus têm uma classificação energética de topo, são esteticamente bonitas e totalmente personalizáveis.”
Resumindo, a Norges Hus funciona da seguinte maneira: Desde o projeto até à casa pronta, poderá demorar entre nove meses a um ano. Se for só a parte de fabrico, transporte, montagem e acabamentos, rondará os quatro e os seis meses. Com tudo isto, o cliente pode alterar a casa a nível interior e exterior, com base no portefólio fornecido. Para além disso, poderá ainda realizar um projeto à sua medida. De acordo com a tabela de preços, uma casa com cerca de 150 m2 tem um preço base de 46.500 euros, aos quais se somam 7.400 euros do transporte e 12.500 euros da montagem. No total, cerca de 66.500 euros.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
À procura de casa? Modelos pré-fabricados podem ser uma solução
{{ noCommentsLabel }}