Qual a startup portuguesa mais perto de ser o próximo unicórnio?
Valer mil milhões de euros não é para todos. Depois da Farfetch e da Outsystems, qual será a próxima startup fundada por portugueses a ser considerada unicórnio?
A primeira vez que se falou do assunto foi em 2016, ainda o Web Summit nem tinha chegado a Portugal. O Tech Tour Growth 50, lista que funciona como um índice de referência para empresas de elevado potencial, dava conta de que a Feedzai, startup fundada pelos portugueses Nuno Sebastião, Pedro Bizarro e Paulo Marques — especializada no combate à fraude nos pagamentos com recurso a soluções de inteligência artificial e machine learning —, seria um dos próximos unicórnios na Europa e… o próximo português.
“Estar nesta lista é o reconhecimento do trabalho que temos feito até agora. É algo incrível que prova que a nossa estratégia, e o que temos vindo a fazer ao longo dos anos, é o caminho certo. Continuamos, no entanto, a manter-nos focados em servir os nossos clientes e desenvolver valor de negócio, combater a fraude e atrair os melhores talentos. Ou seja, este é o reconhecimento de que a nossa visão é correta”, explicava, na altura, Nuno Sebastião, cofundador e CEO da empresa, em entrevista ao Dinheiro Vivo.
O animal mágico — e, imaginário — tem aplicação prática no dicionário-startup: o termo foi usado pela primeira vez, em 2013, num artigo do TechCrunch e, desde essa altura, chegaram ao estatuto 416 startups: indica que uma empresa vale mil milhões para o mercado onde existe. E, numa lógica de crescimento muito, muito rápido. Por isso, são poucos os existentes em todo o mundo.
Com base nos atuais unicórnios, o TechCrunch decidiu construir uma espécie de “fórmula” para criar unicórnios. De acordo com um artigo publicado em junho de 2015, o site especializado em tecnologia explicava que na base de um unicórnio estaria um modelo de negócio com base no revenue e não na carteira de clientes, ou seja, encontrar forma de ganhar dinheiro desde o primeiro dia.
Segundo dados da VentureBeat, em janeiro de 2018 havia, em todo o mundo, 229 unicórnios que acumulavam, juntos, uma valorização de 1,3 biliões de dólares e financiamento de 175 mil milhões. Desses, quase 50% têm sede na Califórnia, Estados Unidos e, 98 trabalham com a chamada “economia partilhada”. Um estudo da Compare The Market dá conta de que, em média, um unicórnio demora sete anos a ser criado e de que há apenas três países com um número de unicórnios de dois dígitos: Estados Unidos, com 114, China, com 70 e o Reino Unido, com apenas 13.
Como se constrói um unicórnio?
Muita coisa mudou entretanto: reconhecimentos, distinções e rondas. Em outubro do ano passado, a Feedzai fechou uma ronda de 50 milhões de dólares para crescer ainda mais, tornando-se a startup a levantar a maior ronda de sempre em Portugal. Já em fevereiro deste ano, a empresa fundada há uma década pelos três sócios estava avaliada em 508,5 milhões de euros.
“Gerimos a empresa com cuidadinho. Isto é muito uma ‘almofada para dias de chuva’. Não vamos fazer maluquices mas permite-nos uma maior liberdade e estabilidade quando estamos a negociar. Permite-nos dizer: ‘Não use técnicas de pressão porque connosco não vai funcionar’”, garantia Nuno Sebastião, em entrevista ao ECO.
Mas a Feedzai, a confirmarem-se as previsões, não será o primeiro unicórnio por solo nacional. A Farfetch, empresa de e-commerce de luxo fundada pelo português José Neves em Londres, foi considerada o “primeiro unicórnio” com ADN português. O gestor vive em Londres mas viaja regularmente para o norte do país e Portugal já é o local do mundo onde a Farfetch emprega mais trabalhadores, tendo em território nacional dois centros de desenvolvimento que empregam grande parte dos mais de 3.000 colaboradores espalhados pelo mundo.
Em preparação para o IPO, que deverá acontecer ainda este ano, a Farfetch prepara-se também para dizer “adeus” à denominação de “unicórnio”. Foi o que fizeram empresas como a Groupon, o unicórnio mais rápido da história dos unicórnios, que demorou dois anos e cinco meses no caminho desde a fundação, em janeiro de 2008, ao estatuto de unicórnio, em junho de 2010. Um ano depois, deixou de o ser, com o IPO. O segundo mais rápido foi o Facebook: fundada em fevereiro de 2004, a empresa tornou-se unicórnio em setembro de 2006, dois anos e sete meses depois do início. Deixou de sê-lo em 2012, ano da entrada em bolsa.
Entretanto, a OutSystems também se transformou num animal mitológico, 17 anos depois da sua fundação. A empresa de low code foi a segunda fundada por portugueses a chegar ao estatuto dos 1.000 milhões de avaliação, na sequência de uma ronda de financiamento do KKR e do Goldman Sachs no valor de 360 milhões de dólares.
A ciência dos unicórnios não é certa porque não tem apenas a ver com o crescimento e desenvolvimento de uma empresa mas em colocá-la em comparação com os seus concorrentes. No entanto, a Feedzai tem sido apontada como o próximo unicórnio em Portugal por várias pessoas especialistas no setor. Uma das mais recentes referências foi de Miguel Fontes, diretor da Startup Lisboa, incubadora lisboeta fundada em 2012 e que serviu de casa-mãe a startups como a Uniplaces ou a DefinedCrowd que, esta semana, levantou uma ronda de financiamento Series A de 10 milhões de euros. “Feedzai seria o meu palpite”, disse Fontes, em entrevista ao ECO24, no início de junho.
Já esta semana, em entrevista ao Observador, Nuno Sebastião, cofundador e CEO da Feedzai, falou do assunto. “Disse no outro dia à equipa que há, claramente, na nossa área, espaço para uma empresa independente, que vai ser a nova empresa de gestão de risco mundial nesta área. Somos a que está mais bem posicionada, entre todas as empresas emergentes, de longe. Não fomos a primeira a começar, mas hoje o nosso concorrente direto tem um terço das nossas pessoas, nós estamos a executar muito melhor, estamos a abrir muito mais escritórios, temos muito mais negócios, portanto, acho que vamos ser nós. E nunca vi a equipa, sénior e mesmo júnior, com tanta vontade de executar como agora. Cada vez acreditam mais que é nossa oportunidade”.
"Não fomos a primeira a começar, mas hoje o nosso concorrente direto tem um terço das nossas pessoas, nós estamos a executar muito melhor, estamos a abrir muito mais escritórios, temos muito mais negócios, portanto, acho que vamos ser nós.”
Apesar de se assumir como um dos mais bem posicionados, Nuno Sebastião relembra que o caminho é feito diariamente, assim como o crescimento. “Quando crias isso, depois estás a gerar valor. Se o valor são honestamente três, quatro, cinco, dez mil milhões, é-me irrelevante. Ou melhor, é o significado do trabalho. Mas honestamente, para o potencial que existe, há empresas em fintech que valem dez mil milhões. De repente mil milhões até parece pouco. Portanto, agora se somos nós ou não, não faço ideia. Agora, estamos a executar bem, para sermos esta empresa independente. O valor que se gera a seguir é a consequência direta disso”, garante na mesma entrevista.
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