Web Summit disponível para cancelar convite a Le Pen. Mas o Governo português não vai pedir

  • ECO
  • 14 Agosto 2018

O fundador do Web Summit diz que só cancelará o convite feito a Marine Le Pen se o Governo português o pedir. Mas o Executivo nacional diz que convites são da responsabilidade da organização.

Paddy Cosgrave reagiu, esta terça-feira, às críticas que têm sido feitas ao convite que foi dirigido pelo Web Summit a Marine Le Pen, política francesa de extrema-direita que tem marcado o debate político com mensagens xenófobas e racistas. Numa mensagem publicada esta tarde, o irlandês que fundou a cimeira de empreendedorismo tecnológico afirma que o evento é “um fórum para debate e discussão de muitos pontos de vista” e diz que só cancelará o convite se o Governo português pedir isso mesmo. A resposta veio no dia seguinte: os convites são da responsabilidade da organização.

Num longo texto publicado esta tarde, Paddy Cosgrave começa por recordar o conflito na Irlanda e a forma como este como foi tratado. “Lembro-me de quando homens que mataram crianças e mulheres inocentes falaram na minha universidade. Uns tinham detonado bombas em Londres, outros tinham cometido os atos humanos mais hediondos na ilha da Irlanda. Alguns eram republicanos irlandeses, outros eram unionistas britânicos”, escreveu. “Eram os meados dos anos 2000. Na altura, ninguém se opôs. Ninguém se opôs, principalmente, porque o extremismo, a violência, o ódio e o horror que dividiram comunidades na Irlanda do Norte durante décadas, tirando milhares de vidas inocentes, tinha sido substituído por paz”, continuou.

O irlandês recorda até que, anos antes, alguns conteúdos chegaram a ser banidos da televisão, por se considerar que não deveria ser dada uma “plataforma fácil àqueles que propagam o terrorismo”. Por outro lado, argumentou, “silenciar estas vozes cheias de ódio apenas serviu para aumentar o sentimento de marginalização das comunidades que os governantes prometeram representar”.

Na análise que faz dos dias de hoje, Paddy Cosgrave vê uma Europa onde “políticos extremistas”, que a seu ver são “detestáveis”, estão a ser eleitos. “Há uma necessidade palpável de debate e discussão sobre este fenómeno, as suas causas e o papel que a tecnologia está a desempenhar”, considera.

O Web Summit é um fórum para o debate e discussão de muitos pontos de vista, e não uma plataforma política para um só ponto de vista.

Paddy Cosgrave

Fundador do Web Summit

“O Web Summit é um fórum para o debate e discussão de muitos pontos de vista, e não uma plataforma política para um só ponto de vista”, salienta, chegando a comparar o convite dirigido a Marine Le Pen com a vinda de sindicalistas a edições anteriores do Web Summit. “Em 2017, por exemplo, alguns dos mais poderosos líderes esquerdistas de sindicatos, que representam centenas de milhões de trabalhadores em todo o mundo, falaram pela primeira vez. E não pela primeira vez, políticos socialistas europeus defrontaram-se com investidores liberais de direita americanos. Cada um considera a ideologia do outro perigosa”.

Assim, garante, a edição de 2018 do Web Summit “não será diferente”, até porque os oradores não são convidados para “fazer um discurso incontestado”, mas para “terem os seus pontos desafiados e escrutinados por jornalistas”.

Se os nossos anfitriões, o Governo português, nos pedirem para cancelar o convite a Marine Le Pen, respeitaremos esse pedido imediatamente”, termina Cosgrave. A resposta do Executivo a Paddy Cosgrave foi conhecida no dia seguinte: “Estando, pelo seu impacto, empenhado no acolhimento deste evento privado, [o Governo português] não tem, como em outros eventos, intervenção na seleção de oradores“, sublinha uma nota do Ministério da Economia enviada às redações. Para o Executivo, o Web Summit é “um fórum alargado de discussão de tendências de mercado, cujo alinhamento – oradores e programa – é da exclusiva responsabilidade da organização”.

Desde que foi noticiado que Marine Le Pen é uma das convidadas do Web Summit, as críticas têm sido várias nas redes sociais. As vozes levantaram-se, sobretudo, à esquerda.

(Artigo atualizado com a reação do Governo português)

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