Falta mão-de-obra no setor do calçado. Robôs podem ajudar?
Num setor ameaçado pela escassez crónica de talento, podem os robôs dar uma mãozinha? Os empresários reconhecem as vantagens económicas das máquinas, mas não são adeptos dessa substituição.
A arte centenária de parir sapatos está em perigo. Afinal, dizem os empresários, a mão-de-obra escasseia, o que ameaça o presente e o futuro do setor. E nesse amanhã, poderão os robôs ajudar a colmatar essa falha? Dificilmente, respondem os produtores. Não basta “ter o aspeto”. Há que “ter a forma, o substrato e a mestria”.
“Será sempre preciso um toque humano. Aliás, esse toque é cada vez mais valorizado pelo público final“, adianta ao ECO o presidente da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS).
Luís Onofre considera, por isso, que a automação “jamais” poderá tomar conta da indústria em questão, apesar de apontar a “falta de mão-de-obra qualificada” como um dos principais desafios do setor. “O sapato hand maid tem um valor muito especial para o consumidor final”, enfatiza.
João Matos, responsável pela Freeman.Porter partilha a opinião. Ainda que reconheça as vantagens, em termos de rentabilidade financeira, da robotização, o empresário salienta, em conversa com o ECO, que o trabalho manual é, cada vez mais, valorizado pelos clientes internacionais.
“Pelo menos, uma parte da procura só pode ser satisfeita se se for ao encontro, não se pode ir quase ao encontro. Não basta o aspeto. Tem de ter a forma e o substrato”, reforça João Matos, desvalorizando os produtos que somente imitam o trabalho humano.
No extremo desse espetro, estão os responsáveis pela Karisma. Ricardo Lobo e Miguel Silva explicam ao ECO que sofrem “muito” com a escassez de mão-de-obra, sublinhando que “a juventude não quer trabalhar no calçado”. Apesar disso, os empresários não veem os robôs como alternativa… pelo menos não no que diz respeito aos sapatos que produzem. “Depende muito do artigo, do modelo e do conceito da marca”, diz Miguel Silva.
“Somos uma empresa de handcraft technology”
Do outro lado da mesma escala, o diretor executivo da Lemon Jelly canta os louvores das máquinas. Ao ECO, José Pinto conta que a própria forma como os sapatos já estão a ser pensados — até no seu design — está já virada para esse tipo de automatização. “A robotização permite simplificar os processos e os custos, bem como criar valor acrescentado”, garante o responsável.
Além disso, reforça o CEO, os robôs podem trazer “competitividade” às empresas portuguesas que se têm de posicionar em “mercados com mão-de-obra intensiva”, como o asiático. Isso ao mesmo tempo que se criam novos postos de trabalho para humanos.
“Trabalhamos muito à base de tecnologia, mas incorporamos sempre muito detalhes feitos por mão-de-obra, o que nos diferencia nos grandes mercados. Costumamos dizer que somos uma empresa de handcraf technology“, assinala.
A propósito da criação de novos empregos, Pedro Sampaio, da Dark Collection, explica que a necessidade de técnicos para operar os equipamentos trará à ribalta, mais uma vez, o problema da mão-de-obra. A introdução de robôs facilitará, sim, os processos, aliviando a necessidade de mãos para produzir, mas pressionando a necessidade de mãos para controlar (as máquinas), defende o gestor.
Portanto, Sampaio recomenda: “Temos de ter salários mais competitivos e apelativos, bem como apostar na formação, que é o que a APICCAPS tem feito”. Não basta esperar que a promessa da humanoide Sophia se cumpra e solucione a falta de mão-de-obra, há que atrair mais e mais talento, defende.
De acordo com os dados avançados pela APICCAPS, na última década, foram criados mais de dez mil novos postos de trabalho, no setor do calçado. O emprego cresceu, assim, 20%, mas permanece uma das maiores preocupações do setor, sobretudo no que diz respeito à captação das novas gerações de talento.
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