Fórum Eurobic: “Há falta de recursos humanos em todos os níveis”
Na nona edição do Fórum Eurobic, as empresas agrícolas da zona Oeste queixam-se de falta de terra e água, e ainda de que o Ministério da Agricultura está preocupado demais com a fiscalização.
“Hoje em dia, há falta de recursos humanos em todos os níveis“, especialmente na zona Oeste. As empresas agrícolas queixam-se da dificuldade em encontrar pessoas disponíveis para trabalhar no setor e, principalmente, dispostas a sair de Lisboa. Durante mais uma edição do Fórum Eurobic, chamam ainda a atenção para a falta de água existente na região. Mas, quanto isso, há quem tenha ideias para resolver esse problema.
António Jorge, CEO da Sogepoc, começa por afirmar que “o sucesso depende das pessoas que estão na empresa”. Contudo, diz que hoje em dia é “difícil encontrar pessoas disponíveis para trabalhar no campo e recursos humanos formados. Os que saem muito bem formados da faculdade não são fáceis de atrair para fora de Lisboa”. Vai ainda mais longe e acrescenta que as empresas do setor agrícola não reúnem todas as condições para estarem entre as melhores do mundo. “Falta muita coisa”, alerta.
Para se posicionar face à concorrência, Jorge Soares, administrador do grupo Campotec Agro, diz haver dois pontos que as empresas precisam de dominar: o associativismo — através da eficiência coletiva –, e o conhecimento. “Sabíamos que estávamos carentes de conhecimento para sermos competitivos e tivemos a preocupação e a noção suficiente disso para nos equipararmos a parceiros europeus, principalmente“, disse. Uma ideia sublinhada também por António Jorge, da Sogepoc, que acrescenta que o “foco político do Ministério da Agricultura está basicamente nos fundos e nos subsídios, mas o conhecimento é mais importante do que isso tudo”. “O Ministério está muito focado na fiscalização, às vezes bastava deixarem-nos estar em paz que nós trabalhávamos melhor ainda“, alertou o administrador do Campotec Agro.
Os empresários do setor apontam ainda um problema, que dizem ser bastante importante: a falta de terra e água. “Temos pouca terra, pouca área, poderíamos aproveitar mais terra se tivéssemos mais água. Nós crescemos para o exterior porque não conseguíamos crescer mais em Portugal“, disse o CEO da Sogepoc. Como explica Jorge Soares, do grupo Campotec Agro, a água com que se irrigam pomares é proveniente de furos domésticos, cujo nível da água desce 100 metros a cada dez anos. “O Oeste não tem água, este Oeste maravilhoso de que se fala não tem água. Não é sustentável cada agricultor ter de fazer furos para ter água“, disse.
“Vamos usar a água do Tejo que não é usada”
Mas, para o problema da água, há quem acredite ter a solução. A ideia do Projeto Tejo nasceu há cerca de dois anos, ainda que o projeto tenha sido lançado apenas há seis meses. “Vamos usar a água do Tejo, que nasce em Espanha, que passa aqui e vai para o mar, mas que não é usada. Atualmente usamos água de furos e temos à porta um rio muito pouco usado“, explicou Manuel Campilho, um dos fundadores do projeto, esta terça-feira, durante o Fórum Eurobic.
Descrito pelos fundadores como o “maior e melhor projeto nacional deste século”, o projeto Tejo tem “o dobro, em termos de área, do Alqueva, mas tem muito mais valências do que qualquer outro”. O “grande drama” do rio Tejo, explicaram, é que 95% da água vai sempre para o mar, porque o rio é “grande demais para a dimensão da nossa área”. A ideia é aproveitar a água que a EDP gera no Tejo, tendo já tido conversações com a elétrica para fornecer cerca de 700 a 1.000 milhões de litros de água por ano para a rega, entre junho e setembro.
“A nossa preocupação sempre foi como criar e fixar população aqui na zona do Oeste. Outra das preocupações é que, ao criar planos de água divididos pelo rio acima, isso vai favorecer parte do turismo dentro de água e criar iniciativas no sentido de criar novos negócios de impacto turístico”, explicou Miguel Campilho. Para além disso, há ainda a “vigilância do rio e a proteção das infraestruturas”.
Questionados sobre o investimento necessário para um projeto destes, Manuel Campilho explica que “este projeto pode demorar 40 ou 50 anos a ser concluído porque a ideia é ir fazendo açudes e tirar água dessas zonas para ir regando outras”. Será um “investimento faseado, com um custo por hectare inferior ao do Alqueva”, num total de 4,5 a cinco mil milhões de euros.
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